O compromisso do Brasil em reduzir o desmatamento e adotar políticas de valorização da floresta amazônica será o diferencial do país nas propostas de combate às mudanças climáticas, que serão apresentadas por diversas nações, durante a Convenção das Partes sobre o Clima (COP 15), a ser realizada no mês de dezembro, em Copenhague.

A opinião de representantes de academia, setor financeiro, governo e ONGs foi manifesta no evento “Diálogos Capitais”, organizado pela revista Carta Capital e Agência Envolverde, ontem (13), em São Paulo.

“O Brasil deve ter uma posição internacional e políticas nacionais para manter a floresta, ao invés de desmatar para se desenvolver como fizeram os outros países.  O país deve ter metas ambiciosas nesse sentido, em Copenhague”, afirmou Virgílio Viana, diretor-geral da Fundação Amazônia Sustentável.

O superintendente da área de Meio Ambiente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Sérgio Miguelim, também participou do debate e defendeu que, além de se reduzir o desmatamento, é preciso remunerar quem preservou.  “O BNDES é gestor do Fundo Amazônia.  É importante o fluxo de recursos de outros países, como a contribuição da Noruega ao fundo, mas mais importante é valorizar a floresta em pé, descobrindo o quanto ela vale”, afirmou.

Sobre essa ideia, Viana deu o exemplo do Bolsa Floresta, projeto desenvolvido pela Fundação Amazônia Sustentável e vinculado ao compromisso dos beneficiários com o desmatamento zero, em troca de remuneração por esse serviço ambiental.  “Também deve ser valorizado o saber tradicional, investindo-se no manejo e em políticas de educação e saúde que permitam o desenvolvimento dessas habilidades naturais da população”, disse.

Para José Goldemberg, físico do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), que é especialista em energia, o Brasil deveria apresentar um plano de reflorestamento dentre suas propostas para enfrentamento das mudanças climáticas.

“Essa é a melhor forma de recuperar as reservas de carbono do país.  Cada hectare de floresta tem 100 toneladas de carbono estocadas.  Hoje, no mercado de carbono, uma tonelada de carbono vale de 10 a 20 euros.  Se o Brasil reflorestar, pode captar recursos dessa maneira”, sugeriu, acrescentando que a medida geraria empregos.

De acordo com Goldemberg, também deveria se investir na produção de dendê como matéria-prima para a indústria dos biocombustíveis, já que é um material com grande potencial energético e que existe em abundância na Amazônia.

A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, confirmou a informação, afirmando que a Vale do Rio Doce e a Agropalma são algumas das empresas que têm investido na produção de dendê no Estado.

Ela disse que, além de incentivo à regularização fundiária para possibilitar aos produtores a recuperação da reserva legal de suas propriedades, sua gestão tem um plano de reflorestamento, que pretende recobrir um milhão de hectares no Estado.

Porém, quando o assunto passou a ser políticas para a redução do desmatamento no Pará, que continua líder em devastação, a governadora não se mostrou tão empolgada.  “Existe desmatamento?  Existe, e ele não termina da noite para o dia.  O desmatamento zero só é possível se for o ilegal”.

Proposta para inclusão do REDD na COP 15

Virgílio Viana defendeu que o REDD (Redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação) seja abordado nas discussões de Copenhague para sua inclusão no mercado de carbono.

“Queremos o REDD, não como mecanismo compensatório para a redução de metas de emissões, mas como um mecanismo elegível para compensação de pequena parte das emissões, 10% delas”, explicou.

Ele também defendeu financiamento governamental das políticas de REDD e realização de leilões para a compra das permissões de emissões decorrentes da conservação das florestas.  Segundo sua proposta, parte dos recursos obtidos com esses leilões deveria ser investida em mecanismos de REDD.  “Isso representaria de três a cinco bilhões de dólares por ano”, afirmou.


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Bancos, governo e especialistas defendem a valorização da Amazônia na COP 15