O problema da mudança climática só será resolvido se o investimento em pesquisa e desenvolvimento oscilar entre US$ 100 bilhões e US$ 700 bilhões anuais nas próximas décadas, afirmou hoje o Banco Mundial (BM).
Esses investimentos, necessários para transformar os sistemas energéticos mundiais, representam um grande aumento frente aos US$ 13 bilhões anuais de recursos públicos e aos US$ 40 bilhões a US$ 60 bilhões de recursos privados investidos atualmente.
“Os US$ 13 bilhões de dinheiro público que são investidos anualmente em pesquisa e desenvolvimento são muito pouco”, disse Marianne Fay, codiretora do Relatório de Desenvolvimento Mundial 2010, que este ano se concentra na mudança climática. “Isso é mais ou menos o que gastam a cada ano os americanos em comida para animais de estimação, ou o que meu país, a França, gasta em queijo”, afirmou a economista do Banco Mundial.
A especialista afirmou que, nos próximos 10 ou 20 anos, serão construídas mais unidades de energia elétrica do que em toda a história. Segundo Fay, isso ocorrerá porque muitas das unidades nos Estados Unidos e na Europa construídas nos anos 50 estão chegando ao final de seu ciclo e terão que ser substituídas por novas instalações.
Além disso, segundo Fay, há o previsto aumento das necessidades energéticas no mundo em desenvolvimento, que a economista avaliou em 45% entre hoje e 2030. “Se essas novas unidades elétricas não produzirem energia de forma limpa, o que ocorrerá é que vão aumentar em quase 50% as emissões de CO2, e o que necessitamos é uma redução de 50%”, ressaltou a economista.
Diante dessa situação, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, pediu hoje que os países “atuem agora, atuem juntos e atuem de maneira diferente em relação à mudança climática”.
Em comunicado divulgado pelo BM, lembrou que os países em desenvolvimento são afetados pela mudança climática de forma desproporcional e que são os que estão menos preparados” para uma crise pela qual não são responsáveis.
O presidente do BM destacou que é de vital importância conseguir um acordo equitativo em Copenhague, onde em dezembro acontecerá uma conferência que espera colocar as bases para um grande convênio global que estabeleça as regras após a expiração do Protocolo de Kyoto, em 2012.
O estudo mostra que os países em desenvolvimento podem iniciar o caminho de um baixo nível de emissões de carbono, ao mesmo tempo em que promovem o desenvolvimento e diminuem a pobreza, mas isso depende da assistência financeira e técnica dos países ricos.
O relatório indica que os fundos de investimento no clima, administrados pelo BM e executados com os bancos regionais de desenvolvimento, oferecem uma oportunidade para potencializar o apoio das nações mais avançadas, já que esses recursos podem ajudar a reduzir os custos das tecnologias de baixo nível de carbono nos países pobres.
Além disso, o Banco Mundial insistiu em que a crise financeira não pode ser uma desculpa para relegar a mudança climática a um segundo plano. O documento destaca que, embora as crises financeiras possam provocar grandes danos e desacelerar o crescimento a curto e médio prazo, raramente duram mais do que alguns anos.
Fay destacou que, diante das incertezas provocadas pelo aquecimento do planeta, que os cientistas apontam como responsável pelas maiores secas, inundações e um aumento do nível do mar, é necessária uma mudança de mentalidade. “Estamos entrando em um período de muitas incertezas”, disse a especialista, acrescentando que, antigamente, as colheitas eram escolhidas em função de qual era mais resistente perante um tipo determinado de clima.