Penso que a arte vive um momento de transformação muito intenso.
Em primeiro lugar, hoje existe um público jovem que gosta de artes plásticas e isso é uma grande novidade. A faixa etária do colecionador típico de arte sempre foi acima dos quarenta. Talvez, nos anos 80, com a entrada dos yuppies no mercado de arte, essa média tenha baixado um pouco. Mas o fato é que nunca tínhamos pensado numa arte feita especificamente para o público jovem. Um adolescente, quando muito, estudava história da arte, na escola. Hoje, muitos dos colecionadores que eu atendo na Choque têm menos de vinte anos. É legal colecionar arte e tudo o que está relacionado a ela, sejam tênis, adesivos, brinquedos etc etc
Em segundo lugar, os artistas que se formaram nos ambientes do skate, graffiti, mangás, punk, hip hop, culturas pop juvenis largamante difundidas nos anos 90, estão todos com mais de trinta e muita experiência de trabalho nas ruas, nos estúdios de tatuagem e em colaborações com as mais diversas marcas de produtos feitos para o público jovem. Muitos deles já estão com trabalhos artísticos maduros e consistentes, prontos para dialogarem com a arte contemporânea mais formal, a das bienais, museus e feiras de arte.
Essas novidades, decididamente, estão mexendo com o Mundo das Artes, que está bem interessado tanto nos novos artistas quanto nesse novo público. O potencial renovador, transformador, desse Mundo é enorme e, por isso, tanto museus quanto o mercado estão se posicionando para recebê-los.
É tradicional na Arte Contemporânea, a idéia de romperem-se barreiras do passado para se implantar novas estéticas. Dentro dessa perspectiva, é natural pensar que os novos artistas que trazem o DNA da linguagem Pop e sabem conversar com o novo público, estejam sendo observados de perto e, mesmo testados pelas instituições.
Com essa motivação, muitas exposições estão sendo abertas e outras tantas sendo produzidas em importantes museus de todo o mundo. E o público está comparecendo. A exposição do Banksy em Bristol levou mais de 300 mil pessoas a um museu pouco expressivo até então. A exposição de Shepard Fairey no ICA de Boston também levou mais 300 mil, assim como a exposição da Tate Modern em Londres, mostrada no ano passado.
Tudo indica que, nos próximos anos veremos crescer esse movimento de renovação de programação em todos os museus e instituições que quiserem renovar seu público. O mercado está se adaptando e recebendo os novos talentos. E, o principal, muitas barreiras que haviam se formado nas últimas décadas, em torno das artes plásticas estão começando a se dissipar. Com mais jovens colecionado arte, ou seja, com a base de colecionadores se ampliando e rejuvenescendo o mercado de arte, certamente o ambiente ficará menos elitizado, menos intelectualizado, mais envolvente e emocionante.
Vejo essas mudanças quase como um fenômeno natural, depois de tantos anos de seriedade e circunspecção envolvendo o ambiente das artes plásticas e visuais. A lógica do pêndulo na história da arte, indica que estava chegando a hora da emoção, da intuição e da energia popular (no caso, juvenil) entrarem em cena. Nesse sentido, acho que a arte está em evidência e será o motor das mudanças de comportamento das novas gerações. Assim como foi a música nos anos 60/70 e a moda nos anos 80/90.
Baixo Ribeiro é sócio-fundador da Choque Cultural, galeria pioneira na divulgação da nova arte urbana. Ele é um dos curadores da exposição De Dentro Para Fora / De Fora Para Dentro, atualmente no MASP, em São Paulo.