O romance “Austrália”, que estreou por
aqui no dia 23 de janeiro, é mais uma bela história de amor contada
pelo já experiente diretor australiano Baz Luhrmann (de “Moulin Rouge” e “Romeu e Julieta”) que conta com maravilhosos efeitos especiais com algumas das mais belas locações da história do cinema.
O filme conta a história de Lady Sarah Ashley (Nicole Kidman), que
viaja até a longínqua Austrália em um hidro-avião para encontrar seu
marido, mas acaba descobrindo-o morto e precisa tomar posse da fazenda
de gado Faraway Downs, sua última herança. Quem ajuda a aristocrata,
muito a contragosto, é o vaqueiro Drover (Hugh Jackman). Rude e severo,
o personagem de Jackman ajuda a protagonista a atravessar o deserto com
seu rebanho de gado, em pleno estouro da segunda guerra.
A história é narrada pelo jovem Nullah (Brandon Walters), um garoto
meio-aborígene que cria uma relação quase maternal com a personagem de
Nicole Kidman, contrapondo a falta de doçura do vaqueiro Drover.
O Deserto
Filmando em seu país natal, Luhrmann foi perfeito na construção das
cenas no deserto durante o filme, escolhendo os melhores ângulos para
mostrar a beleza idílica das implacáveis planícies dominadas pelos
nativos. O filme mostra um ambiente inóspito, mas que tende a encher de
esperança aqueles que passeiam seus olhos pelas terras.
Apesar de dizer que quase não conseguiu assistir à sua atuação no
épico, Kidman atrai as atenções da platéia para si com sua personagem
que alterna constantemente momentos de força incomum para uma senhora
casada britânica com fraquezas típicas das histórias de amor
tradicionais.
A longa duração do filme (165 minutos) acaba por muitas vezes tornando
a exibição cansativa, já que os diálogos e o formato tradicional acabam
por reduzir as surpresas do roteiro quase a zero. Não há nenhuma
reviravolta marcante ou ação imprevisível realizada por nenhum dos
personagens. Um ponto positivo que contrasta com esse problema é a alta
importância que acaba por recair nos personagens secundários como do
fazendeiro King Carney (Bryan Brown) que acabam por revelar aspectos
muito interessantes da Austrália pré-moderna.
Essas características pouco conhecidas no ocidente da vida dos nativos
da ilha, costuram perfeitamente a dificuldade enfrentada pela
protagonista em sobreviver no ambiente australiano, principalmente ao
lado de um homem duro como Drover. Tanto é que o narrador sempre
refere-se à fazendeira com tom de estranhamento quase alienígena, algo
que é perfeitamente compreensível depois que se entra em contato mais
profundo com o jovem aborígene.
Espelhando a cultura local
O ataque das tropas japonesas à cidade de Darwin é retratado
brilhantemente pelo diretor, que já havia mostrado-se perfeitamente
capaz de reger com primor grandes conflitos, como acontecem em “Romeu e Julieta”. Mas se comparado a outras obras similares, o filme deixa a desejar em seu argumento e muitas vezes no roteiro.
Compensando esses problemas está o fato de que o filme é um ótimo
espelho da vida no continente perdido, já que retrata aspectos
importantes do povo local no desenrolar da segunda guerra como as
famílias, discriminação racial, funcionamento do Estado e contrastes
sociais.
Apesar de ter sido tratado como um “filme para garotas” por muitos veículos, “Austrália”
tem atrativos para todos os públicos possíveis. As maravilhosas
locações e a envolvente trilha sonora ajudam e muito na digestão de uma
obra longa como essa. A tradicional narrativa romântica tem seus
atrativos, sendo sempre clara e honesta com o espectador.
O filme não é tão memorável como “Moulin Rouge”,
onde Nicole Kidman dá uma aula de interpretação, mas mostra claramente
o orgulho que Luhrmann tem de seu país e que o diretor colocou tudo de
si na película. Um ótimo filme para se assistir aos fins de semana,
contanto que você não pegue a sessão das 22h.