Na saída do show do AC/DC, que tocou na noite de sexta-feira (27) em São Paulo, uma das camisetas mais vendidas pelos camelôs dizia “AC/DC em São Paulo: eu fui!”. Breguices à parte, faz sentido comprar a peça, pois as 65 mil pessoas que foram ao estádio do Morumbi têm mesmo motivos para se orgulhar de terem visto o show dos australianos.
Sessentões e próximos da aposentadoria, os integrantes do grupo podem ter tocado pela última vez no Brasil em sua carreira – e, mais do que apenas uma provável despedida, a apresentação foi uma lição de rock and roll legítimo, puro, herdado do blues, como quase nunca mais se vê no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo.
Parte integrante da turnê Black Ice, que promove o mais recente álbum do AC/DC, lançado no ano passado, a performance não poderia ter sido mais satisfatória para quem é fã do grupo e/ou de rock. O repertório em si é pura covardia: quantas bandas podem se dar ao luxo de emendar, na última parte do show, quatro clássicos como You Shook Me All Night Long, T.N.T., Whole Lotta Rosie e Let There Be Rock (pela ordem)?
No bis, o quinteto ainda pôde desprezar hinos como Back in Black, The Jack e Thunderstruck, apresentadas no meio do espetáculo, para chacoalhar o Morumbi ao som de Highway to Hell e For Those About To Rock (We Salute You). As músicas do novo disco também não fizeram feio, especialmente Rock and Roll Train, que abriu o show.
Com músicas desse porte no setlist, o show seria excelente ainda que o desempenho da banda fosse fraco ou burocrático, mas isso esteve longe de acontecer. Ao vivo, os australianos têm mais energia que muita banda de moleques de vinte e poucos anos, com destaque para o carismático vocalista Brian Johnson – no início de Hells Bells, ele mostrou fôlego ao dar um baita salto para se pendurar na corda responsável por agitar o sino que introduz a música – e, claro, o guitar hero Angus Young.
Com sua inseparável roupa colegial, desta vez na cor rosa, e a guitarra Gibson SG, o guitarrista-solo do AC/DC faz o diabo em cima do palco: dança de sua maneira característica (dois passinhos para frente, dois para trás) enquanto faz solos rápidos e cheios de feeling, pede para o público gritar, toca se debatendo no chão como se fosse uma barata alvejada por inseticida e, durante The Jack, faz um strip tease engraçadíssimo e abaixa as calças, mostrando uma ceroula com o logotipo da banda. Genial!
Há ainda outros pontos positivos a serem destacados: a montagem do palco, os efeitos especiais, a explosão de fogos de artifício após o último acorde, a animação da plateia – homens e mulheres, de pré-adolescentes a coroas, todos com um sorriso no rosto, dançando e cantando a plenos pulmões. Mas não dá para traduzir em palavras a satisfação que foi estar no Morumbi durante as quase duas horas em que o AC/DC tocou. Eu fui, muita gente também… e quem não foi, só resta dizer: perdeu!