Se os nomes de Robin Wright Penn, Blake Lively, Winona Ryder, Alan Arkin, Keanu Reeves, Monica Bellucci, Julianne Moore e Rebecca Miller não forem o suficiente para despertar sua curiosidade, talvez o longa A Vida Íntima de Pippa Lee não seja mesmo pra você. Caso contrário, você tem todos esses motivos e mais alguns para gastar 93 minutos se deliciando com esse filme que oferece o melhor dos dois mundos do cinema.
Estreando por aqui em época de Mostra Internacional de Cinema, A Vida Íntima de Pippa Lee foi ofuscado pelas produções esquisitonas que os cinéfilos esperam o ano inteiro para assistir dessa forma, seria quase impossível conseguir destaque para uma produção com tantos nomes conhecidos. Alguns meses depois, o filme tem sua estreia oficial e agora, com mais calma, pode ser digerido e apreciado pelo que ele realmente é.
Rebecca Miller, a autora, diretora e idealizadora do projeto, já é um motivo prévio para despertar o interesse do espectador: filha do dramaturgo Arthur Miller (do famoso A Morte de um Caixeiro Viajante), Rebecca resolveu adaptar seu livro homônimo para o cinema, lançando seu terceiro filme. O anterior, A Balada de Jack e Rose, traz no papel principal seu marido, ninguém menos que Daniel Day-Lewis. Como se não bastassem essas curiosidades dos bastidores da produção, também se pode salientar que o galã Brad Pitt ficou tão interessado na história que resolveu virar um dos produtores do longa.
Entretanto, apesar dos nomes famosos, Pippa Lee entra para o rol da boa safra de filmes americanos independentes, passando longe dos argumentos explorados nos blockbusters. A tão falada Pippa Lee é o centro da trama e é interpretada pelas ótimas Robin Wright (ex-Penn), em sua fase atual, e Blake Lively (a Serena, da série Gossip Girl), na adolescência. Pippa Lee é para os personagens da cena inicial do filme exatamente o que é para nós, espectadores: um enigma. À primeira vista, pode-se ter a sensação de que um filme monótono vem aí: as cores neutras tanto do figurino como da direção de arte, aliados aos penteados perfeitos e ao clima anos 50 da personagem, criam esse ar de melodrama. Nos minutos seguintes, porém, vamos descobrindo que existe sim um motivo plausível para a vida íntima de Pippa Lee querer ser descoberta.
Lee carrega em sua personalidade um monte de peculiaridades deliciosas e engraçadas na medida certa. Aos poucos, entre a trama principal e os flashbacks narrados pela própria Pippa, somos introduzidos ao cotidiano da menina que teve que conviver com as loucuras da mãe (Maria Bello), que tomava pílulas para ficar ligadona e transformava seu humor num passeio de montanha-russa, a vida com a tia lésbica e sua namorada (Julianne Moore) meio pancada, a adolescência regada a drogas e o encontro com o editor Herb Lee (Alan Arkin), 30 anos mais velho, que viria a ser seu marido.
Com uma narrativa muito fácil de seguir e com participações que dão um toque especial a cada período da vida de Pippa Lee, o filme é um típico easy going, que conquista quem está assistindo pela simplicidade da trama e pela reflexão atípica que o humor auspicioso de Miller propõe, ao transformar as pequenas esquisitices da história numa série de deliciosas gargalhadas. Assim, temos a prova concreta de que Rebecca Miller, apesar de quase estreante como diretora, tem o mesmo potencial de trazer à tona histórias perspicazes de diretores sensíveis como Sofia Coppola e Michel Gondry.