A 26ª Casa de Criadores trouxe uma contribuição muito bem vinda para a cidade de São Paulo: em uma iniciativa inédita, o evento resolveu democratizar ao menos algumas de suas atividades – antes restritas a jornalistas, estilistas e convidados – promovendo um desfile de rua.
Neste domingo, 22, o organizador do evento, André Hidalgo, anunciou o primeiro Fashion Mob da Casa de Criadores – a ideia era permitir que qualquer pessoa, seja estilista, costureira ou simplesmente apaixonada por moda, pudesse apresentar para os jurados sua coleção própria, em um desfile coletivo que foi realizado no Parque da Luz, centro de São Paulo.
Os passantes que resolveram conferir o evento tiveram uma excelente surpresa: ao permitir que qualquer pessoa apresentasse suas criações, a Casa de Criadores conseguiu uma façanha bastante difícil na moda: democratizar um universo considerado inalcançável sem banalizar o conteúdo das criações, além de reunir jovens talentos e estilistas já consolidados no mercado.
O desfile, que começou no Largo do Arouche e foi até o Parque da Luz, terminou com a premiação de Luiz Leite, um dos poucos estilistas que apresentaram no Fashion Mob uma coleção totalmente masculina. Sua coleção, formada por peças claras e de tecidos 100% orgânicos, foi uma das poucas que trouxe um casting de modelos profissionais – ao contrário dos outros estilistas do Fashion Mob, que utilizaram em sua grande maioria amigos e conhecidos na hora de desfilar suas criações.
O desfile das Gêmeas
Por volta das 17h, o Fashion Mob terminou para que o primeiro desfile “oficial” tomasse conta do cenário agradável do Parque da Luz: a apresentação da coleção outono/inverno da marca Gêmeas.
Carolina e Isadora Fóes Krieger apostaram em um conceito bastante abstrato, quase etéreo: o impacto que as emoções têm no imaginário humano. Segundo elas, as emoções trazem uma sensação de encantamento que é impossível reproduzir ou analisar – é como a experiência de ouvir uma música apaixonante ou ler um poema. A partir deste mote, as estilistas apresentaram ao público uma coleção sonhadora, baseada em cores como azul, preto e verde, que trouxeram ao imaginário onírico uma faceta ao mesmo tempo doce e incisiva.
As formas soltas, os tecidos quase diáfanos e os panos propositalmente delicados trouxeram à primeira parte do desfile o imaginário da doçura – que logo foi quebrado pelo surgimento de criações com cortes mais geométricos e justos, trazendo uma personalidade mais decidida aos modelitos sonhadores da primeira parte.
Se as irmãs Krieger sempre foram conhecidas por sua habilidade em driblar as dicotomias óbvias, neste desfile elas mostraram que é possível, sim, criar uma coleção que equilibra com inteligência elementos doces com características mais austeras. A primeira parte do desfile trouxe diversas peças com bordados de figuras como bonecos de neve coloridos e ursinhos de pelúcia, que logo são contrabalançados pelos cortes mais secos de saias de cintura alta bem marcada e ombros geométricos. A doçura, aqui, não é submissa – é criativa.
Se no desfile de maio deste ano as irmãs já apostavam no poder dos bordados, desta vez eles provaram que podem existir com elegância e delicadeza mesmo em uma coleção que abre um grande espaço para a independência. Só mesmo em uma coleção das Gêmeas pequenas flores bordadas em lã colorida não são coisa de mulherzinha – e só em um contexto tão peculiar é possível utilizar uma legging totalmente estampada sem complicar o resto da composição da roupa.
Além disso, o desfile contou com uma interação incrível entre as cores, que misturaram com harmonia diversos tons de azul. O jogo de luzes ficou ainda mais intenso com a maquiagem utilizada pelas modelos, que ressaltava os olhos e os lábios, com batons quase negros e muita palidez.
A programação da 26ª Casa de Criadores continua até sexta-feira, quando o evento se encerra com uma festa no Clube Glória, com a presença do ícone fashion Amanda Lepore.