O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não escapou hoje (15) das cobranças do presidente de Israel, Shimon Peres, em seu primeiro dia de visita ao país. Ao apresentar-se como mediador do confronto entre Israel e a Palestina, ouviu de Peres que sua contribuição era bem-vinda, mas as autoridades israelenses fizeram questão de lembrar a Lula de que não concordam com a posição do governo brasileiro contrária a sanções ao Irã, por tentar enriquecer urânio em percentual considerado armamentista.
No primeiro compromisso oficial do presidente, na residência de Peres, o vice-ministro israelense de Relações Exteriores, Danny Ayalon, disse a jornalistas brasileiros e estrangeiros que a única forma de evitar que o Irã prossiga com uma possível busca por uma arma nuclear será uma posição unida da comunidade internacional. Ao ser perguntado se isso seria um recado ao presidente Lula que já se manifestou contra as sanções ao país, respondeu, enfático, que sim.
O presidente Lula defende que o Irã tenha o direito de enriquecer urânio desde que exclusivamente pra fins pacíficos. Mesmo com essa ressalva, a posição brasileira não é bem-vista pelo governo de Israel, inimigo do Irã. Hoje (15), durante visita ao Knesset, o Parlamento israelense, o presidente Lula foi cobrado por essa posição. O presidente da Casa, o deputado Reuven Rivlin, disse que “ser publicamente contra as sanções [ao Irã] pode ser visto como um sinal de fraqueza.”
A líder da oposição, Tzipi Livni, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu também foram duros em seus discursos ao citar o caso do Irã. Netanyahu pediu ao presidente Lula que apoie as sanções afim de evitar o armamentismo do Irã.
“Peço que você apoie a frente internacional contra o regime de Ahmadinejad [Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã]”, pediu o primeiro-ministro israelense, segundo a BBC Brasil. “O Brasil não pode dar legitimidade indireta a esse regime”, acrescentou Livni, também de acordo com a agência de notícias.
O presidente Lula foi o último a discursar no Parlamento israelense e não fez referências diretas ao Irã, mas disse ser contra o armamentismo nuclear. “Em meu país, há uma proibição constitucional de produção e utilização de armamento nuclear. Gostaríamos que o exemplo de nosso continente pudesse ser seguido em outras partes do mundo.”
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, minimizou os discursos dos líderes israelenses. O chanceler brasileiro não os classificou como “um rolo compressor” e disse que, em encontro reservado, Lula explicou a Netanyahu suas razões para ser contra as sanções ao Irã.
Segundo ele, a explicação é que o governo brasileiro concede o “benefício da dúvida” ao Irã. E completou: “Se o benefício da dúvida tivesse sido dado de maneira correta ao Iraque, teriam sido evitadas 200 mil mortes.”