Ativistas que participam do Fórum Social Mundial alertaram nesta terça-feira em Porto Alegre que não basta enfrentar a crise financeira global sem lidar com a degradação do meio ambiente, a grave escassez de comida e as desigualdades sociais.
O britânico David Harvey, um dos pensadores mais respeitados do movimento contra a globalização, afirmou que, em meio à crise financeira global, foi gerado um novo e forte processo de acumulação de capital que fortalecerá o atual modelo e levará a uma nova explosão que pode ser ainda pior.
Harvey, acadêmico da City University of New York (Cuny), disse em seminário hoje, em Porto Alegre, que as “ficções” financeiras que causaram a crise em 2008 se reproduzem atualmente na China e em outros países emergentes, que podem ser o epicentro de futuras turbulências.
Segundo Harvey, uma das concepções equivocadas do capitalismo é a obsessão pelo crescimento econômico, que ignora as ameaças ambientais e sociais. Para ele, o capitalismo segue baseado “na destruição e não na construção”, e se ampara na “lógica da negação”, o que o impede de se antecipar às crises que o próprio modelo gera de forma cíclica e que são cada vez mais graves.
Nessa mesma linha, a americana Susan George apontou que a depressão econômica atual está diretamente ligada às crises múltiplas que se agravam especialmente nos campos ecológico e social, e a assuntos básicos, como a alimentação dos seres humanos.
Ela lembrou que, segundo organismos internacionais, cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome hoje e que dentro de alguns poucos anos sofrerão mais com a progressiva escassez de água potável que os cientistas podem prever.
“Veremos coisas ainda mais graves, que antes nem se imaginavam, como o surgimento dos refugiados ecológicos”, alertou George, que foi consultora de vários organismos da ONU.
“As crises estão se fundindo em uma só e na medida em que os Governos não entenderem isso dessa maneira, as sociedades sofrerão muito mais que agora”, previu.
George indicou que, apesar das medidas adotadas para conter a crise financeira, o mundo ainda não entrou em acordo para frear a crise ecológica. Para ela, essa é a mais grave de todas, porque de sua solução depende até a salvação do planeta.
Além disso, afirmou que o descontentamento social gerado pela falta de alimentos e de água exporá a humanidade a novos horrores, novos tipos de fascismo, novos massacres e êxodos maciços.
Harvey e George discursaram em um debate sobre a conjuntura econômica atual realizado dentro do Fórum Social Mundial, que esta semana celebra em Porto Alegre seu décimo aniversário. O evento de Porto Alegre é o primeiro de uma série de encontros que o fórum promoverá ao longo do ano em dezenas de países.