“A sociedade intolerante está transformando nossa música em uma desgraça homofóbica/ Então se junte a nós, gays brancos, negros e amarelos/ Vamos tomar as coisas a força/ Porque sem respeito, nada restará no mundo” (…) “Essa m***a ignorante não deveria acontecer no mundo/ Se você mexer com a gente, iremos arrebentar sua cabeça com um taco”. Já imaginou o Chris Martin do Coldplay cantando isso? Sem chance. Quem canta mesmo é o grupo de ska punk, Leftöver Crack, na canção Gay Rude Boy Unite.

O mundo da música atual é feito de vários “messias” de plantão. De Bono Vox à Miley Cyrus, todos defendem causas humanitárias, desde a proteção das florestas à luta pela fim dos preconceitos raciais e sexuais. A intenção parece boa, mas quanto dessa bondade não seria oportunismo? O artista acaba defendendo tantas coisas que acaba soando “raso”.

Em tempos de discussão sobre homofobia, os artistas são menos claros. Um dos motivos é que o tema ainda é considerado “espinhoso”. Letras defendendo a causa gay são raras. Para encontrar uma cena que luta de verdade pelos direitos dos gays, é preciso ir para longe dos holofotes da mídia.

Conheça alguns desses guerreiros que usam a música para combater a homofobia.

Jayne (ou Wayne) Couunty – O músico e transformista norte-americano pode ser considerado um dos personagens mais influentes do rock. Wayne é tido como um dos pioneiros do glam rock, nos longínquos anos 70 (1972 especificamente…). Com sua banda solo, County tocava frequentemente no histórico Max Kansas City e no templo CBGB, conhecendo e influenciando músicos que se tornariam ícones do punk rock e da música em geral. Reza a lenda que David Bowie se inspirou no visual de Wayne para criar o personagem Ziggy Stardust. A música de Wayne falava abertamente sobre sua opção sexual. County era considerado a “travesti mais durona” de Nova York. Reza a lenda que dava surras históricas em seus desafetos homofóbicos (incluem-se aí membros do New York Dolls e dos Dictators). 

Tom Robinson – O britânico e gay assumido teve, com o perdão da palavra, bastante “culhão” em 1978. O músico lançou na época, ao lado do seu grupo, Tom Robinson Band, a canção Glad To Be Gay (“contente em ser gay”). Não é preciso ser adivinho para afirmar que a música causou polêmica entre os ingleses mais conservadores. Apesar de tanta polêmica, a canção virou um “hino gay” no Reino Unido.

Pete Shelley – Bissexual assumido, o vocalista e líder do seminal grupo punk Buzzocks sempre foi um ícone da causa gay. O músico foi um dos primeiros a “sair do armário” no mundo do punk rock, e sempre defendeu a causa. Mesmo que não seja ligado a movimentos pelos direitos GLBT, Shelley protestou através das letras do Buzzcocks. Em 1981, ele lançou o disco solo Homosapien, que falava explicitamente sobre o homossexualismo. Foi proibido na Inglaterra, mas gerou a faísca para outras bandas abordarem o tema.

Jello Biafra – O ex-vocalista do Dead Kennedys sempre foi um contestador. Ao lado do influente grupo punk, Jello não só criticou a homofobia na música, mas gritou contra todos os tipos de preconceitos e falcatruas políticas de sua época. Com letras ácidas, o músico sempre foi alvo da patrulha conservadora nos Estados Unidos. Jello Biafra, ao lado do guitarrista East Bay Ray, também do Dead Kennedys, montou o selo Alternative Tentacles. A gravadora foi responsável pelo lançamento de vários grupos de queercore, estilo do punk e hardcore que critica e “amedronta” os homofóbicos.

Randy Turner (1949 – 2005) – O vocalista da banda Big Boys era um “estranho no ninho” na cidade de Austin, Texas. Assumidamente gay, o vocalista praticamente criou a sonoridade do hardcore old school (rápido, muito rápido…), que mais tarde influenciaria grupos como Bad Brains, Minor Threat e outras “pauladas” sonoras pelo mundo. Ao lado do músico Gary Floyd (The Dicks), foi pioneiro na cena punk gay. Em 2005, faleceu devido à infecção generalizada causada pela hepatite C.

Kathleen Hannah – Ex-stripper, bissexual assumida, a cantora marcou a história da música nos anos 90. Ao lado do icônico Bikini Kill, o grupo definiu o movimento feminista riot grrrl. Com seu punk rock próprio, a banda criticava o preconceito contra os homossexuais e mandava um “f**-se” para a caretice norte-americana. Após o fim do Bikini Kill, em 1998, Hannah montou o cultuado grupo de electropop Le Tigre, que seguia o mesmo tipo de tema que sua banda anterior. Kathleen Hannah casou com Adam Horowitz, do Beastie Boys, em 2006. A moça continua atuante na cena e ainda luta pelos igualdade entre todas as opções sexuais.

Boff Whaley – O líder e guitarrista do Chumbawamba (mais conhecidos pelo hit Tubthumping), ao lado do vocalista Lou Watts, fez história com o grupo britânico. O motivo? A banda, conhecida pelo seu teor anti-homofóbico/sexista/capitalista, lançaria vários discos combativos por grandes gravadoras (Universal, Virgin, London Records). O Chumbawamba entra na lista por ter colocado o hit Homophobia nas rádios pop britânicas.

Queen Pen – A rapper norte-americana gerou polêmica ao assumir sua bissexualidade no hip hop. A moça, que participou do sucesso No Diggity do BLACKstreet, conseguiu emplacar com o hit Girlfriend, que contava a história de um relacionamento entre duas lésbicas. Pen teve que brigar com o produtor Teddy Riley, já que o músico queria um fato “picante” entre as duas para chamar a atenção da letra. Até hoje, Queen Pen permanece como uma das das poucas rappers femininas a assumir sua bissexualidade. Estranhamente, a cantora sumiu do mundo da música…

Martin Sorrondeduy – O ex-Los Crudos deu uma renovada na cena hardcore norte-americana. Desde 98, Sorrondeduy lidera o Limp Wrist (“desmunhecado”), grupo que levanta a bandeira gay na música pesada atualmente. As letras do grupo dão “tapas na cara” dos homofóbicos. Músicas como Punk Ass Queers, I Love Hardcore Boys, Man To Man e Just Like You são autênticos “sim, eu sou gay mesmo! Vai encarar?” e poderiam facilmente se tornar hinos contra o preconceito sexual. O Limp Wrist também inspirou bandas como Black Fag, Gayrilla Biscuits e Youth of Togay a aparecerem na cena norte-americana.


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Fora Dourado! Veja músicos que batem de frente com a homofobia

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