Quando Eagle-Eye Cherry subiu ao palco do Via Funchal na noite desta quinta-feira chuvosa, nem parecia que sua última incursão pelos estúdios havia sido em 2003, com Sub Rosa. O cantor e compositor sueco ficou afastado por sete anos da indústria fonográfica, mas seus fãs fiéis celebravam a sua chegada ao Brasil com um fervor digno de nota, balançando sem parar a grade do Via Funchal.

Com os braços abertos e um sorriso que ia de orelha a orelha, Eagle-Eye começou a dedilhar o repertório que já tem de cor e salteado. Apesar do clima descontraído do show, não há espaço para o improviso – a apresentação segue à risca o repertório de Desireless (1997), Living In The Present Future (2000) e Sub Rosa (2003), e o show tem exatamente a mesma estrutura apresentada no álbum ao vivo Live and Kicking, de 2006.

Iniciando sua apresentação com Been Here Once Before e seguindo com faixas como Don’t Give Up, Falling In Love Again e Burnin Up, o músico não economizou nas batidas e no groove para tentar tirar o tom datado de suas antigas composições. Embora tal recurso tenha funcionado muito bem com faixas como Falling In Love Again e Rainbow Wing, ainda assim os intervalos entre os grandes hits fizeram o show ficar sem ritmo.

Mesmo que o repertório empoeirado do cantor tenha atrapalhado alguns momentos do show, sua excelente banda de apoio deu conta de trazer arranjos inusitados e cheios de energia para os hits antigos. Os músicos Mattias Thorel (guitarra), Peter Fors (baixo), Johan Lindstrom (guitarra), Per Johnansson (saxofone), Goran Kajfes (trompete), Niklas Gabrielsson (bateria) e Sebastian Notini (percussão) foram os grandes astros da noite, trazendo equilíbrio e inovação para um repertório cansado.

Eagle-Eye não esconde seu amor imenso pelo Brasil, afirmando que “São Paulo, sem dúvida, é o melhor lugar do mundo para se estar esta noite”. Ao contrário de muitos artistas gringos, que elogiam o calor do público brasileiro apenas como um expediente protocolar, era claro que o compositor sueco não estava elogiando a toa: era clara a satisfação total do músico ao ver o público se descabelar com seus hits.

“O Brasil sempre me deu muita coisa de bom. É hora de retribuir”. Foi assim que o cantor anunciou a entrada da brasileira Maria Gadú, um dos expoentes da nova MPB. Em entrevista ao Virgula, o compositor havia mencionado não conhecer a cantora pessoalmente. Mesmo assim, a sintonia entre a dupla, que tocou a inédita Alone, foi uma agradável surpresa, com a voz de Gadú fazendo bonito no refrão e surpreendendo por seu alcance nas notas mais delicadas.

O músico terminou sua apresentação em São Paulo com uma versão da música Psycho Killer, do Talking Heads (em uma tentativa que não teve um resultado muito bom), e com seu hit máximo, Save Tonight.

Mesmo sem trazer muitas inovações, Eagle-Eye Cherry provou que é de fato um showman e que sabe o que funciona em cima do palco, além de ter uma voz ótima. Entretanto, chegou a hora de inovar – sem um repertório renovado para apresentar em suas próximas turnês, não há banda competente que seja capaz de evitar que o show se transforme em uma celebração do passado.


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Eagle-Eye Cherry conquista público em show em São Paulo, com a participação da cantora Maria Gadú