Até hoje, nas 18 edições da Copa já realizadas, apenas sete seleções conquistaram a tão disputada taça de Campeão do Mundo.

E a gente sabe bem: quando uma Copa é ganha, o país vira uma festa. A época fica marcada na cabeça do povo e nessa memória a música tem um papel muito importante.

Para honrar esses times vencedores, o Virgula Música foi descobrir quais eram os sons que estavam pegando na época em que cada um levou a taça. 

Uruguai – 1930 e 1950

Primeiros bi-campeões da América do Sul e os primeiros de nossa lista, a Celeste Olímpica merece duas indicações musicais, é claro.

Pelo título de 1930, conquistado em casa contra a Argentina, a homenagem é ao maior ícone do tango, Carlos Gardel. Ninguém sabe ao certo o local de nascimento do cantor, mas é muito provável que ele seja do pequeno vilarejo de Tacuarembó, interior do Uruguai. Ele mesmo dizia que nasceu “em Buenos Aires aos dois anos e meio de idade”, o que dá força à teoria de que o compositor veio mesmo do outro lado da fronteira.

Em homenagem à segunda geração de ouro celeste, a indicação tem que ser, é claro, a geração seguinte do tango, que anotou todas as lições do professor do país vizinho, Astor Piazzola. Entre estes músicos, o destaque vai para Hugo Diaz, que ampliou o leque do estilo, incorporando estilos mais folclóricos uruguaios como a milonga e a murga. Hugo hegou a ser considerado o melhor tocador de harmônica do mundo nos anos 50, viajou muito para Europa e EUA, chegando a tocar com Louis Armstrong e Oscar Peterson. Abaixo você ouve Hugo Díaz destruindo na gaita em Amurado.

Italia – 1934, 1938, 1982 e 2006

A Azurra teve três gerações de campeões mundiais de futebol, o que rendeu a eles quatro títulos e o posto de segunda seleção mais vitoriosa de mundiais, com seis finais no seu invejável currículo futebolístico.

Representando a primeira geração, bi-campeã na Itália e na França,está o popularíssimo cantor Alberto Rabagliati, um dos muitos músicos italianos dos anos 30 e 40 influenciados pelo jazz e pelos musicais americanos. Essa inspiração vinda de outro país era vista com maus olhos pelo regime fascista de Benito Mussolini, que preferia estimular a música nacional típica. Ouça abaixo Ba… ba… Baciami Piccina, de Rabagliati.

Para marcar o título de 82, vamos falar de italo-disco. Desde os anos 70, os italianos vinham desenvolvendo uma forte cena de dance music. Na década seguinte, isso ganhou um nome, italo-disco, de uma pegada tipicamente eletrônica. Os sons da italo-disco podiam ser pop ou não, cantados ou instrumentais, radicais ou suaves. Foram muito influentes para a música eletrônica atual. Um dos hits mais famosos da italo-disco é “Problèmes D’Amour”, de Alexander Robotnick.

Em 2006, era a cena rap que estava completamente instalada nas paradas italianas. Como em outros lugares do mundo, o hip hop tomou de assalto os grandes meios de comunicação em meio à conquista do tão sonhado tetracampeonato da Squadra Azzura. Um dos nomes mais fortes deste cenário é o Club Dogo, que segue à risca o gangster rap americano dos anos 2000. Ouça abaixo Incubo Italiano, maior sucesso da dupla de MCs.

Alemanha – 1954, 1974 e 1990

Tricampeões do mundo, os alemães sempre estiveram na vanguarda musical. A partir do pós-guerra, a produção cultural alemã desenvolveu uma obsessão com o futuro e com inventar uma nova identidade cultural, livre dos traumas do passado.

Quando os alemães venceram os húngaros no Milagre de Berna, o genial compositor Karlheinz Stockhausen avançava em seus estudos de música erudita eletrônica, estabelecendo paradigmas para a música sintética que só chegaram às mãos dos produtores pop mais de uma década depois. O compositor impulsionou o advento dos sintetizadores e tornou-se um dos grandes gênios de nosso tempo. Ouça a primeira parte de Kontakte e tente não se impressionar.

Em 1974, quando a Alemanha bateu a Holanda jogando em casa, o Kraftwerk estava ajudando a fundar a música eletrônica e mostrando o caminho do futuro da música pop. Com suas apresentações inigualáveis e enorme criatividade, o quarteto comandado por Florian Schneider e Ralf Hutter encantava o mundo com levadas inter-estelares como as de Kometenmelodie 2, do clássico álbum Autobahn.

Dois anos depois da copa de 90, disputada na Itália, a música eletrônica alemã estava de vento em popa. DJs como Sven Vath e Paul Van Dyk iniciavam reinados que os levariam a ficar entre os mais populares do planeta. Além de techno e house, os alemães tiveram grande responsabilidade na invenção e divulgação do trance que surgia nessa época. A Love Parade já bombava com dezenas de milhares de pessoas. A queda do Muro de Berlim, em 1990, contribuiu muito para o sentimento de euforia dessa época. Ouça abaixo o projeto Visions of Shiva, de Paul Van Dyk e Cosmic Baby.

Inglaterra – 1966

O English Team foi campeão jogando em casa, no primeiro ano em que sediou uma Copa do Mundo. Na época, o país também estava no topo do cenário pop mundial, com uma avalanche de revolucionárias bandas de rock, como The Who, Rolling Stones, The Beatles, The Kinks e Yardbirds. A escolha é difícil, mas por estarem aí até hoje, ficamos com os Stones e seu megahit Paint it Black.

Argentina  – 1978 e 1986

Duas indicações também para nossos hermanos-arqui-rivais-albicelestes, campeões em casa contra a Holanda e no México contra a Alemanha. Para representar os dois títulos, pegamos os nomes mais proeminentes do fértil cenário roqueiro do país, impulsionado pelo pós-punk europeu.

Pelo título de 1978, a indicação é a importante Sumo, comandada pelo italiano Luca Prodan, que começou a tocar em bandas na mesma época do primeiro título da Argentina. Na ativa desde 1982, o Sumo é dono de alguns dos maiores hits da história do pop argentino, tendo influenciado dez de cada dez bandas portenhas dos anos 90 com suas letras diretas e riffs marcantes. Abaixo, você ouve Heroína, clássico maior do repertório da banda.

Pelo bi de 1986, uma banda que começou a se ligar em música na época da festa do título e estourou no cenário roqueiro portenho quase dez anos depois. Formada em 1990, a El Otro Yo chegou até ao Brasil com a iniciativa da MTV e de seu programa de música latina, o Tordesilhas. No player, você ouve Calles, a retilínia tradução argentina do que Green Day e Offspring estavam fazendo nos EUA.

França – 1998

Com uma vitória épica sobre o Brasil no Estade De France, os Bleus comemoraram seu primeiro e único título mundial em casa. A época coincidiu com a primeira explosão da música eletrônica francesa, comandada pelos homens-robô do Daft Punk, ao lado de nomes como Air, Cassius e Etienne De Crecy (surgiu até na época o termo “french touch” para designar o house francês). Lançado um ano antes do título, o álbum Homework foi um marco na música eletrônica. Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter conquistaram o mundo com hits do calibre de Da Funk e pedradas como High Fidelity, que você ouve logo abaixo.

Brasil – 1958, 1962, 1970, 1994, 2002

Fechando nossa lista estão os cinco títulos da seleção canarinho, comandados por quatro gerações de craques lendários do futebol, incluindo Pelé, Garrincha, Tostão, Romário, Bebeto, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo fenômeno.

Em honra ao bicampeonato na Suécia e no Chile, ninguém melhor que um compositor que acompanhou o fracasso verde-amarelo em 1950 e comemorou muito em 58. Adoniran Barbosa, nome mais importante de todo o samba paulista, estava no auge da carreira quando o Brasil foi duas vezes campeão do mundo. Por aqui, nunca houve voz mais sincera que a do malandro do Bixiga. Por isso, Saudosa Maloca, maloca querida…

No Tri, em vitória histórica sobre a Itália no México, o título foi usado politicamente pelo regime militar, que havia aumentado a repressão com o AI-5 a partir de 68. Em 1970, Os Mutantes haviam se tornado símbolo da oposição velada à ditadura, que ao invés de partir para o front político, usou muita psicodelia e lisergia para pintar uma realidade diferente do Brasil mostrado pelas autoridades. Ando Meio Desligado, que você ouve abaixo, é o melhor exemplo do que a banda queria dizer com sua música.

Em 1994, ano de Bebeto, Romário e do tetra, uma nova geração de bandas de rock chegava com tudo nos grandes meios de comunicação, capitaneados pelo Skank e por sua latina mistura de pop, rock e reggae. A banda vendeu mais de 1 milhaõ e 200 mil cópias de seu disco Calango. O carro chefe era Pacato Cidadão, número um nas paradas do Brasil. Ouça abaixo:

Pra fechar nossa lista, uma banda que, no ano do penta, renasceu e fez então seu melhor álbum de estúdio desde a morte do gênio Chico Science, fundador do mangue beat e da Nação Zumbi. Com Jorge du Peixe, a banda encontrou o equilíbrio ideal no ano da conquista e produziu pérolas como Prato de Flores, Blunt of Judah, Mormaço e Meu Maracatu pesa Uma Tonelada, que você ouve no player abaixo.


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COPA 2010: Conheça a música dos campeões do mundo