O Chimarruts é uma banda de reggae, mas esqueça todos os conceitos e clichês que você ouviu sobre o gênero. Primeiro porque eles vêm de Porto Alegre, uma cidade que não tem praia – embora o Guaíba garanta o escape onírico de uma cidade grande e o litoral gaúcho esteja a menos de duas horas de distância.
A sonoridade foge do ritmo cadenciado originado na Jamaica e flerta com o pop, dando um tempero à brasileira bem próximo do que faz o conterrâneo Armandinho. E, por último, a temática foge da ligação com a maconha, tão presente na história do gênero. “Fazemos música para ouvir com a família toda, não só pro cara que fuma”, explica a vocalista Tati Portella.
Não que a banda esteja alheia à atual discussão sobre legalização das drogas. “Escolhemos falar sobre temas mais universais, como paz, amor, bem-estar”, comenta. A banda é a favor da descriminalização da maconha, mas prefere e nem acha que deva levantar bandeira. “Estamos conquistando nosso espaço ainda, não temos toda essa influência. E o preconceito neste tema é enorme. Se é pra defender, seria bacana que os ‘peixes grandes’, como o Gil, Caetano, dessem a cara pra bater”, comenta. “E a gente tem muita criança no nosso público.”
Só Pra Brilhar
Lançando disco novo, Só Pra Brilhar, o quinto da banda, o Chimarruts se prepara para colher os frutos do sucesso nacional alcançado com o disco ao vivo, de 2007, gravado em Curitiba. Produzido por Paul Ralphes, Só Pra Brilhar mantém as características que conquistaram os fãs, com uma pequena evolução. “O Paul é baixista de reggae, então entendia o que estava fazendo, o que foi bem importante. Ele entrou pra dar umas podadinhas no som”, explica Tati. Com 10 anos de carreira, foi inevitável não deixar a influência do tempo transparecer nas novas composições. “Quase não vamos mais à praia, então as músicas são mais urbanas. E estamos beirando os 30 anos, é natural amadurecer.”
Só Pra Brilhar é o primeiro trabalho autoral da banda em uma grande gravadora. O disco ao vivo foi lançado na mesma parceria, mas toda a produção do trabalho já havia sido feita pela banda. “Estávamos com tudo pronto, local alugado, músicas ensaiadas, quando uma semana antes do show a gravadora sentiu o potencial, veio conversar com a gente e fechamos o contrato”, relembra a cantora.
Mas se hoje o Chimarruts alcançou o Brasil e faz sucesso em rádios de São Paulo, não esqueceu as raízes e a importância do estado natal na sua formação. Ainda morando em Porto Alegre mesmo com a rotina puxada de turnês, a banda reconhece que o público gaúcho teve papel fundamental na construção da banda. “Aqui toca muita música das bandas locais na rádio, e o público é grande e formador de opinião, tanto que Skank e Jota Quest, por exemplo, lançam coisas aqui para testar”, reflete Tati.
A estratégia da banda para alcançar o atual status foi bem planejada. “Não queríamos ser um efeito meteoro. Desde o começo pensamos em termos de evolução: primeiro você é conhecido na rua, depois no bairro, cidade, estado e no Brasil”, teoriza a vocalista. Agora a banda já mira outros públicos: gravaram música em espanhol e começam a pensar em tocar na Argentina, mesmo que este ainda seja um sonho distante. “Tentamos não criar muita expectativa. O disco novo está ai e o mais importante é que as pessoas gostem.”