O diretor de cinema canadense James Cameron afirmou no sábado, dia 27, em Manaus que seu último filme, Avatar, foi feito para combater o ceticismo e conscientizar as pessoas sobre a necessidade de fazer algo contra a mudança climática.

“Essa é a magia dos filmes: podem mudar a percepção da realidade” disse Cameron, que participou do Fórum Internacional sobre Sustentabilidade da Amazônia.

O cineasta explicou que as pessoas tendem a negar as consequências negativas da mudança climática expostas pelos cientistas ou em documentários como “Uma verdade inconveniente” do ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, que também participou ontem do Fórum.

Cameron ressaltou que os argumentos racionais dos cientistas “não servem contra a carga emocional da negação” mas que, por outro lado, a emotividade de um filme pode sim mexer com as consciências.

“Não pretendo ser um cientista nem um especialista, mas talvez seja preciso um artista para falar sobre a mudança climática”, afirmou o cineasta, que acrescentou que “Avatar” pretende retratar a forma como a sociedade tecnológica trata a natureza.

O diretor explicou que da mesma forma que os Na’vi (moradores do planeta em que se passa Avatar) acham que todos os seres viventes estão conectados, os ambientalistas atuais demonstraram que todos os sistemas do planeta afetam uns aos outros e que, por esse motivo, nossas ações têm repercussões globais.

O diretor comparou os seres humanos com bactérias em uma placa de Petri: crescem, se multiplicam, invadem seu entorno e no final morrem.

“Nós estamos nos estendendo por todas as partes: o que vai acontecer quando a Terra não puder mais?”, questionou Cameron, que advertiu sobre a insustentabilidade do modelo de globalização em que as tendências de consumo aumentam e os recursos se esgotam.

Segundo o diretor de Titanic, o fato de que uma grande produção de Hollywood como “Avatar” tenha uma mensagem ético e, por sua vez, tenha tido êxito na bilheteria indica que o mundo está preparado para reagir e atuar contra a mudança climática.

“Quando o Titanic afundou, as pessoas da primeira classe e da terceira classe se uniram para sobreviver”, brincou Cameron, que acrescentou que a situação do planeta é crítica e por isso é preciso uma “ação extraordinária” por parte de todos.

Ao mesmo tempo, Cameron apelou para a responsabilidade individual de todos na hora de lutar contra a mudança climática e defendeu o poder das pequenas ações como reciclar, realizar um consumo responsável de energia ou dirigir carros híbridos.

O cineasta ressaltou a necessidade de começar a atuar imediatamente, embora manter uma atividade ecológica e sustentável requeira mais esforços porque “no futuro os juros desta dívida (com o planeta) serão pagos com vidas”.

“Somos os proprietários do nosso futuro e devemos ser os guerreiros do nosso planeta”, defendeu, em uma clara referência aos personagens de seu filme, que lutam para libertar seu habitat natural da ameaça dos humanos.

Após defender o diálogo entre as tribos indígenas de todo o mundo e a sociedade tecnológica, Cameron pediu ao presidente Lula que reconsidere alguns projetos de infraestrutura na floresta que ameaçam tribos amazônicas, como a construção da usina de Belo Monte, no Pará.

No final de seu discurso, Cameron teve a oportunidade de conhecer o líder de uma tribo indígena da Amazônia. “Cada vez que uma destas tribos desaparece perdemos algo fundamental em nossa história”, concluiu.

O Fórum Internacional de Sustentabilidade terminou nesta tarde em Manaus com a apresentação da “Carta do Amazonas”, uma declaração de princípios que defende a preservação da floresta e o “dever mundial” de proteger o pulmão do planeta.


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Cameron diz que fez Avatar para conscientizar sobre mudança climática

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