O problema da baixa qualidade do ensino da matemática nas escolas públicas está centralizado na formação incipiente dos professores para o ensino da disciplina. O diagnóstico é da professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do Instituto de Matemática Pura e Aplica (Impa) Suely Druck. O ensino da matemática e de ciências na educação básica foi debatido, ontem, durante a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Na avaliação de Suely, que é também coordenadora da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), a formação do professor é o cerne do problema e é o mais difícil de ser enfrentado. “Hoje temos uma quantidade muito grande de professores em sala de aula que não estão preparados para isso”, defendeu. Para ela, o primeiro passo é “estancar” a má-formação em cursos de baixa qualidade.
Suely destaca que os estudantes de cursos de pedagogia, que irão lecionar para os alunos do 1° ao 5° ano do ensino fundamental, recebem um conhecimento muito incipiente de matemática durante sua formação. “É praticamente nada [o que eles aprendem]. A maioria vai dar aula de matemática e a última vez que eles viram o conteúdo foi quando eram alunos do ensino médio”, aponta.
O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Eduardo Mortmer ressaltou ainda que dentro das graduações de matemática, química e física, há pouco interesse por parte dos estudantes em trabalhar como professor de educação básica.“O sistema de ensino não consegue segurar o professor que se qualifica. Os mestres e doutores formados nessas áreas hoje vão lecionar no ensino superior”, aponta.
Atualmente, há carência de professores de áreas como química e física para atuar na sala de aula. Muitas vezes a função é exercida por profissionais formados em outros cursos. Mortner apontou que nos últimos 20 anos, 30 mil universitários se graduaram em química. Mas só 8 mil das 24 mil vagas para professor dessa disciplina são ocupadas por licenciados na área.