Praticamente todo filme hollywoodiano que se preze hoje é 3D. Toda semana tem alguma marca que anuncia um novo televisor para ver imagens em três dimensões, com ou sem óculos especiais. Mesmo assim, a Nintendo conseguiu chamar a atenção mundial para o seu 3DS, nova versão de seu popular videogame portátil – um mercado que a empresa domina desde o Game Boy.
Lançado nesta semana nos Estados Unidos, o eletrônico é notícia ao redor do mundo por ser o primeiro console a rodar games em 3D, dispensando até o uso dos tais óculos. Ninguém sabe direito como ele funciona a não ser quem o comprou, pois não é possível ver nas fotos o efeito prometido.
Para que você, leitor, tenha uma ideia do que são os jogos em três dimensões, o Virgula descolou um Nintendo 3DS, que até o momento não tem previsão de chegar ao Brasil: custa US$ 250 lá fora. Saiba como ele funciona e analise se vale a pena investir nele ou não.
Um Dramin, por favor!
A Nintendo trouxe uma novidade interessante que melhorou muito a jogabilidade do portátil: uma pequena alavanca analógica. A tela superior de 3,53 polegadas e a debaixo, sensível ao toque, continuam iguais, o que não vai desagradar ninguém. A novidade, o 3D, aparece por meio de uma barrinha lateral que permite aumentar ou diminuir a sua sensação, uma maneira de adequar a tela para os olhos. E, acredite, cada pessoa irá adequá-la a sua maneira, assim como ajustar a posição da tela perante os olhos.
O Virgula testou dois games em 3D, o novo Nintendogs + Cats e o Pilotwings Resort, que fazem parte de um minúsculo pacote de games lançados para o formato. Ao contrário do que se possa imaginar, a imagem não pula na nossa frente como no cinema, mas o que vemos é apenas uma falsa profundidade, que permite diferenciar os planos de cada objeto.
No começo é estranho, demora-se para se sentir confortável, mas o resultado é interessante. Claro que daí vai de pessoa para pessoa, mas a sensação do repórter é que ter passado 20 minutos jogando um game em 3D se tornou uma atividade muito mais cansativa do que passar o mesmo período jogando um game “normal”.
Uma leve dor de cabeça também é comum e não é nada incomum sentir enjôos. Não é por acaso que a Nintendo não recomenda que menores de 7 anos usem o efeito para jogar.
A tecnologia é revolucionária? É, muito. Mas precisa ser aprimorada e, mais do que isso, é necessário que os games explorem todas as possibilidades dessa imersão. Uma falha da Nintendo foi continuar apostando numa tela muito pequena, reclamação que os usuários fazem há tempos em relação ao DS e a empresa sempre ignora.
Muito além do 3D
Algo que vale ressaltar no Nintendo 3DS é que ele vai além dos jogos em três dimensões. Para começar, ele tem uma novidade interessante aos brasileiros: menu em português, algo inédito até então nos videogames da companhia.
A Nintendo também caprichou no design do pequeno. Apesar de estar um pouco mais gorducho, ele continua leve e agradável de se ter em mãos. Do lado de fora ele possui duas câmeras com fraca resolução de 0,3 megapixels para fazer fotos em 3D, uma ótima sacada da marca – a diversão desse recurso, que tem vários filtros de fotografia, é garantida, acreditem.
Essa é a primeira característica que revela muito da 3ª geração do portátil: a sua conectividade e capacidade de interação. A Nintendo criou um console que busca estar conectado o tempo todo, uma boa sacada para os gamers dos tempos sociais, em que a Apple manda e desmanda com seu iPhone. O 3DS nunca desliga, por exemplo.
O objetivo, ao ligá-lo no Wi-Fi, é que ele seja atualizado automaticamente. A Nintendo quer tanto que você ande com o seu 3DS para cima e para baixo que ela inventou um recurso maluco chamado Street Pass. Ele funciona assim: os portáteis conversam entre si quando estão próximos e trocam informações para facilitar a jogatina em conjunto, como os dados do seu Mii (os avatares do Wii, agora também presentes aqui) e recordes de jogos.
No Japão, onde é o portátil é febre e as pessoas passam o tempo todo jogando-o no metrô, essa ferramenta tem tudo para dar certo. Como aqui ele custa caro, isso não é nada provável. A ideia de carregá-lo pra todos os lados é tão extrema que o 3DS tem até um podômetro, que converte seus passos em moedas para serem utilizadas dentro de minigames da Praça Mii.
Vale a pena ou não?
Após ler essa análise, fica a pergunta óbvia: o Nintendo 3DS é um videogame imprescindível? Não, não é. Para começar pela escassez de títulos em 3D, que são poucos e nada atraentes. Falta à empresa apelar para um Super Mario ou Zelda para aí chegarmos a uma outra conversa. Por enquanto vale se divertir com os cartuchos dos modelos antigos, que funcionam na nova versão.
A loja online também não funciona ainda, o que impossibilita baixar jogos da DSiWare ou aplicativos. Por fim, a bateria é um enorme problema, já que ele não passa nem 3 horas fora de sua base especial recarregadora ou da tomada.
Resumo da ópera: a Nintendo fez um golaço com o 3DS, pois a boa e velha diversão que a marca propõe há décadas continua intacta. Mas ela precisa, como dizem no linguajar futebolístico, manter a humildade e não achar que o jogo – com o perdão do trocadilho – já está ganho.