Prestes a completar 30 anos, Edward Snowden, um analista da Agência de Segurança Nacional (NSA), provocou um terremoto no governo americano ao revelar detalhes de uma poderosa rede de espionagem eletrônica dos EUA que pôs a prova as relações diplomáticas internacionais.

Desde o começo do ano até pouco antes das revelações de Snowden, em junho, o Pentágono e a Casa Branca tinham uma agenda clara: denunciar as tentativas patrocinadas pelo exército chinês de espionagem industrial e ressaltar a necessidade de reforçar a ciberdefesa.

Edward Snowden, um técnico de sistemas da empresa privada Booz Allen Hamilton, contratada pela NSA, jogou por terra esses argumentos ao vazar aos jornais “Guardian”, “Washington Post” e à revista “Der Spiegel” detalhes de dois programas secretos de espionagem dos Estados Unidos que surpreenderam o mundo pelo alcance: empresas de internet, parceiros dos EUA e até o próprio Capitólio.

O presidente Barack Obama confessou que desconhecia o alcance real do poder de infiltração da NSA que, com a justificativa de combater o terrorismo e reforçar a segurança nacional teceu, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, uma rede que permite vigiar desde o e-mail de um suspeito de terrorismo até o celular da chanceler alemã, Angela Merkel.

Desde o início do debate, quando Snowden escapou no último minuto da justiça americana de seu esconderijo em Hong Kong para acabar passando semanas no aeroporto de Moscou à espera de asilo.

A história do espião, mais parecido com um inocente amante de “mangás” que com James Bond se tornou um escândalo diplomático de dimensão global.

A Rússia acabou dando asilo temporário a Snowden, o que desagradou Washington.

Antes, Equador e Venezuela ofereceram ajuda ao ex-analista e o espetáculo midiático contou com episódios rocambolescos, como quando o avião do presidente boliviano, Evo Morales, foi obrigado a parar na Áustria para provar que não tinha abrigado o fugitivo em seu avião presidencial.

De maneira questionável e com o beneplácito de um tribunal obscuro, a NSA, a maior agência de inteligência do mundo, foi autorizada a obter registros telefônicos nos Estados Unidos e espionar comunicações de estrangeiros, inclusive com a capacidade de seguir a pista de alguém graças aos sinais transmitidos para as torres pelos celulares.

A capacidade da NSA, que parece ser de ficção científica, permite acessar informação de gigantes da internet e controlar cabos submarinos que distribuem o tráfego de dados da rede por todo o globo.

Apesar de apoiar o papel da NSA na luta contra o terrorismo, o Senado dos EUA tentou conhecer durante várias visitas com o diretor da NSA, general Keith Alexander, e o diretor nacional de Inteligência (DNI), James Clapper, os detalhes de programas que não eram totalmente controlados.

A principal preocupação em nível nacional nos Estados Unidos foi garantir que o direito à privacidade do cidadão não foi violado e que as investigações não ultrapassam os limites da Constituição, algo que, segundo a NSA, só aconteceu em poucos casos e por engano.

Já em relação ao exterior, Snowden revelou as relações entre agências de inteligência estrangeiras de países aliados com a NSA e os programas super secretos para espionar não só países que não são amigos de Washington, mas outros com quem mantém boas relações como Brasil, México, Alemanha e França.

Estas revelações, reconhecidas à meia voz pela Casa Branca, complicaram o delicado equilíbrio diplomático internacional. Alguns governos tentaram mostrar surpresa e indignação para a opinião pública por uma ingerência estrangeira, o que ironicamente mostrou a própria incapacidade de frear ou de se igualar à espionagem americana.

A presidente Dilma Rousseff rotulou as ações da NSA como “uma quebra da lei internacional”, enquanto Merkel lembrou que as revelações, que chegaram a violar sua privacidade, são “graves” e põem à prova as relações entre os dois países.

Os vazamentos de Snowden colocaram em risco as negociações do ambicioso Tratado de Livre-Comércio entre Estados Unidos e União Europeia e afetaram as relações de confiança nos dois lados do Atlântico.

As grandes empresas de tecnologia americana também não permaneceram caladas ao ver que a confiança de seus usuários e clientes no mundo todo poderia ser afetada pelo escândalo.

As oito maiores empresas do Vale do Silício (Apple, Google, Microsoft, Facebook, Yahoo!, Twitter, Aol e Linkedin) pediram uma reforma que “garanta que os esforços de vigilância do governo são limitados pela lei, e que sejam proporcionais ao risco, transparentes e sujeitos a supervisão independente”.

Mais de 500 intelectuais e escritores de 81 países, entre eles cinco prêmios Nobel, também pediram às Nações Unidas que entre no assunto para garantir o respeito aos direitos civis na era de internet.

“Uma pessoa sob vigilância já não é livre; uma sociedade sob vigilância já não é uma democracia. Para manter qualquer validade, nossos direitos democráticos devem se aplicar em um espaço virtual e real”, lembraram.

A administração de Obama prometeu uma revisão dos protocolos para “equilibrar privacidade e segurança” e minimizou que “todos os países fazem a mesma compilação de inteligência, embora com menor êxito”.


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Snowden deixa em evidência o poder do "Big Brother" americano em 2013