O presidente do Irã, Hassan Rohani, está perdendo, por enquanto, a batalha com os setores mais conservadores do regime para permitir no país o uso do Facebook e de outras redes sociais, que só podem ser acessadas no país através do uso de proxies.

Quatro meses após chegar ao poder, o moderado Rohani não conseguiu cumprir uma das promessas eleitorais que, de fora, poderia parecer fácil para um chefe de Estado.

Seu governo se manifestou repetidamente a favor do fim da proibição, imposta após os protestos que surgiram, em 2009, com a polêmica reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, que a oposição considerou fraudulenta e respondeu com grandes manifestações duramente reprimidas pela milícia basij e pelas forças de segurança iranianos.

O ministro da Cultura e Orientação Islâmica, Ali Janati, se declarou recentemente a favor da permissão do uso das redes sociais e, inclusive, reconheceu publicamente ter uma conta no Facebook, algo que, assinalou, “não representa nenhum crime”, informou o digital Al Monitor.

A opinião é compartilhada pelo usuário do Facebook e tuitero mais proeminente do Irã: o titular da pasta das Relações Exteriores, Mohammed Yavaz Zarif, que conta com cerca de 800 mil seguidores na rede social de Mark Zuckeberg e mais de cem mil no Twitter e usa habitualmente essas redes para se comunicar com os cidadãos, o que lo fez receber críticas dos setores mais radicais.

No começo deste mês, o chefe da polícia iraniana, Esmaeil Ahmadi Moqadam, mostrou cartão amarelo publicamente aos altos cargos iranianos pelo uso do Facebook, criticou os que “cruzaram pouco a pouco as linhas vermelhas e entram em um espaço proibido para os cidadãos” e pediu que “respeitassem as restrições”, informou o diário Ebtekar.

Na rua, a reivindicação social é clara, sobretudo entre os jovens das cidades, mas também está presente no mundo rural que elegeu Rohani e suas propostas de mudança com maioria absoluta.

“Tem que abrir o Facebook. As autoridades têm um medo absurdo desse tema”, disse à Agência Efe um jovem escritor de Teerã que opina que “é responsabilidade dos governos por freio ao setor mais tradicional que tem muita influência na sociedade”.

A censura, além disso, parece também não ter grande efeito: segundo dados divulgados recentemente pelo diário Etemaad, ao redor de 17 milhões de iranianos utilizam de forma habitual redes sociais na Internet.

A publicação assegura que “não se chegará a nenhum resultado” impondo restrições à web, que são facilmente burladas com programas anti-filtros ou VPN (da sigla em inglês para Virtual Private Network).

“Em Teerã, quem quer tem Facebook. Mas é preciso acessá-lo com proxies e há gente que tem medo, porque, se usá-lo, já estará fazendo algo contrário à lei”, declarou à Efe o jovem Reza, que trabalha para uma empresa europeia em Teerã.

“As pessoas estão cheias dessas restrições, é imprescindível abrir as redes sociais ao público”, acrescentou.

O governo de Rohani se inclina nesse sentido: o presidente reitera frequentemente que as limitações às liberdades pessoais devem ser “o mínimo” necessário e seu vice-presidente, Masumeh Ebtekar, declarou esta semana que a liberdade de expressão é “tão necessária para o país como a energia”.

Mas a guerra parece, por enquanto, perdida ou, pelo menos, em ponto morto a favor dos que querem manter o status quo, que significa proibir o acesso a mais de cinco milhões de páginas, de redes sociais a sites de informação (incluindo “CNN”, “BBC” e páginas iranianas reformistas), sites de entidades bancárias, ou canais de troca de vídeos (YouTube) e fotografias (Pinterest).

Abdol Samad Khorramabadi, um dos responsáveis por decidir que conteúdos devem ser vetados, afirmou nesta semana à agência local “Fars” que o Facebook, chamado por ele de “site de espionagem sionista”, continuará proibido porque essa rede social foi essencial para a organização das revoltas de 2009, que o regime considerou um ato de insurreição e traição impulsionado a partir do exterior.

Já o coronel da Polícia Moral, Masoud Zahedian, advertiu a população que “a polícia estava presente na internet e controlava espaços como Facebook, Instagram, Wechat e outra redes similares”, segundo ele a fim de evitar que os cidadãos sejam flagrados “em redes de corrupção e prostituição”.

Na semana passada, Seyed Ali Taheri, porta-voz da Comissão de Cultura do Parlamento iraniano (Mayles) também dirigiu seu discurso contra o Facebook em entrevista, na qual considerou essa rede social “uma ferramenta para espionar e buscar uma mudança de regime”.

“Em 2009, vimos como o inimigo usou amplamente Facebook e Twitter para ajudar e organizar os insurgentes”, afirmou, em uma advertência sobre os perigos de se voltar a permitir o livre acesso.

Se a nova administração deseja mudar as normas existentes e anular a proibição, assegurou o deputado, “terá que justificar seus motivos”.

Opinião também compartilhada pelo porta-voz do Ministério da Justiça, Mohsen Ejei, que foi direto e acusou o Facebook de ser “um espaço criminoso”.

Dada a dureza das declarações, parece que Rohani terá muita dificuldade em convencer esses setores da necessidade de legalizar no Irã o uso de redes que se transformaram no mundo todo em um importante instrumento de comunicação.


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Rohani perde, por enquanto, luta para liberar Facebook no Irã

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