Os apagões e problemas de estrutura que marcaram os dois primeiros dias da Campus Party 4 fizeram com que no terceiro dia de evento os campuseiros só pensassem em recuperar o tempo perdido. As palestras e oficinas estavam lotadas e as bancadas repletas de interessados em compartilhar arquivos e experiências.

Foi nesse clima de “vamos aproveitar tudo”, que a reportagem do Virgula conversou ontem (19) com Mário Teza, diretor geral da Futuraworks, empresa que organiza a CP Brasil. Para Mário, o apagão ocorrido no fim do dia 18 foi culpa da própria organização. “A culpa foi nossa. Contamos com imprevistos baseados no histórico da região. O problema é que o Brasil inteiro está se reestruturando para lidar com essa questão das chuvas. Nós acabamos tendo que correr atrás também, e alugamos de última hora dez geradores, que irão garantir a energia nos próximos dias, caso a chuva continue.”

Segundo o diretor, o evento contava sim com geradores, mas eles só foram suficientes para manter em ordem o ovni da Telefônica, principal patrocinador da Campus. “Muitos campuseiros acabaram culpando a Telefônica, mas ela não teve nada a ver com o imprevisto. Se a energia não tivesse sido mantida ali, demoraria muito mais tempo para que a rede fosse reestabelecida”, disse Mário.

Os imprevistos dos dias anteriores, porém, só reforçaram aquilo que quem já acompanha a CP há alguma edições percebeu logo no primeiro dia: a Campus Party Brasil está muito maior. Em sua primeira edição local, em 2008, a feira reuniu pouco mais de 3 mil participantes. Na última edição, em janeiro de 2010, alcançou o número de mais de 6 mil pessoas. Nessa edição são 6.800 campuseiros e mesmo com tantas vagas, muita gente ficou de fora. “Poderíamos ter feito uma edição para dez mil pessoas. O problema é que não existe no Brasil um espaço com estrutura para um evento desse tamanho”, afirmou o diretor.

Talvez a falta de um espaço ideal em São Paulo seja o empurrãozinho que faltava para que a Campus passe a acontecer em mais de uma cidade ao mesmo tempo. Enquanto apresentava a palestra de Al Gore e Tim Berners-Lee, durante a tarde da última terça-feira, Paco Ragageles, um dos fundadores da Campus Party, contou aos campuseiros que existe o desejo de que para a próxima edição a Campus aconteça simultaneamente em São Paulo, Rio de Janeiro e numa terceira cidade, ainda não escolhida, ou no norte ou no sul do País.

“Quando a Campus Party espanhola, que é a matriz do evento, decidiu que iriam fazer uma versão na América Latina, logo escolheram o Brasil, pelo potencial do povo brasileiro. Agora que já estamos consolidados, os espanhóis ficam impressionados com o interesse do público brasileiro no que eles chamam de áreas de conteúdo, que são as palestras e oficinas”, disse Mário.

O interesse a que Mário se refere deixa nítido o quanto eventos como a CP, que levam ao cidadão comum e à comunidades carentes informação e conhecimento, ainda são raros por aqui. Basta conversar com os campuseiros para perceber que grande parte do público vem de regiões do Brasil onde a banda larga e a cultura de internet ainda são muito pequenas e é exatamente nesse ponto que a Campus se firma como um evento importante. “Estamos entrando para o calendário oficial de eventos em São Paulo, ao lado da Fórmula 1, da Parada Gay e da São Silvestre. Não somos grandes só no espaço que ocupamos, mas estamos movimentando a rede hoteleira, certa de duas mil pessoas estão hospedadas em São Paulo para visitar a feira. Uma quantidade enorme de agências de turismo também está trabalhando para trazer as pessoas pra cá”, disse o diretor.

PERFIL DO CAMPUSEIRO

Para Mário Teza, a Campus Party é muito mais do que um evento de tecnologia. “Muito mais do que nerd, o campuseiro hoje é o cara que vem aqui com um espírito empreendedor. A Telefônica, por exemplo, está dando um prêmio alto em dinheiro num concurso para desenvolvedores. É muito bom ver grandes empresas com essa mentalidade de internet, que percebem que o investimento depois voltará para ela, em forma de novos e bons projetos e produtos desenvolvidos pela garotada que esteve aqui.” 


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"Não existe no Brasil um espaço com infraestrutura para abrigar um evento do porte da Campus Party, diz diretor da CP Brasil

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