Klever Kolberg é uma das lendas-vivas do automobilismo
brasileiro e isso fica provado em todas as suas participações no rali mais
famoso do mundo, que se consagrou com o nome de Rally Paris-Dakar (hoje é
chamado somente Rally Dakar). Com primeira participação em 1988, foi campeão
tanto na categoria carros quanto na disputa entre motos.
Sua próxima etapa é o Rally dos Sertões, que terá início
amanhã (25), em Goiânia, passando por diversas cidades do estado e do
Tocantins, até Palmas, com o fim programado para a mesma capital goiana. Porém,
antes de sua volta às pistas, ou melhor, à terra, à areia e à lama, Kolberg
concedeu uma entrevista exclusiva ao Virgula Esporte, porque nos preocupamos também
com a segurança no trânsito.
Pedimos dicas que podem ser valiosíssimas para o tráfico do
dia a dia justamente para quem já viveu os maiores perigos em cima das duas e
das quatro rodas no mundo afora. Não que o trânsito nas grandes capitais seja
coisa de tirar de letra, mas se for comparado ao deserto do Saara, ao Sertão
brasileiro ou a outros locais arenosos, enlameados e outras coisas mais, Kolberg
é autoridade no assunto.
Aos 51 anos, o gaúcho sabe que uma simples chuva pode
atrapalhar todo o seu dia, seja de trabalho ou de lazer. Então, em dias
molhados, o planejamento de qualquer percurso é fundamental.
“Planeje o horário de saída com uma margem e folga, assim
ninguém precisa sair correndo. Pense no caminho a ser percorrido, porque ficar
olhando um mapa, ou digitando no GPS com o carro em movimento, é um atrativo
para acidente”, alerta.
Para o leitor que gosta de um som potente, que acaba se
tornando mais do que um item de conforto, cuidado. O áudio em um volume muito
alto pode atrapalhar a percepção enquanto dirige. Mas nada comparado ao uso do
celular. Para Klever, o uso do aparelho pode ser acarretar diversos danos.
Quem gosta de ir para o sítio no final de semana, ou
mora/trabalha em lugar que pode se deparar com lama, nada melhor que uma das
dicas de Klever, caso haja um atolamento.
“Tente aliviar o peso do carro, por exemplo, tire todas as
pessoas de dentro. Cave em frente aos pneus, para eliminar aquele degrau em
frente à roda, não vire a direção, tem de sair em linha reta, se tiver alguém
junto, um empurrãozinho sempre ajuda”, pontuou.
Leia abaixo a entrevista completa com mais dicas e conselhos
de Klever Kolberg:
Virgula Esporte: Sabemos
que em dias de chuva a precaução tem que aumentar. Mas ainda assim, é preciso
manter o ritmo para não atrasar os afazeres do dia a dia. Qual o melhor jeito
para dirigir em asfalto molhado?
Eu realizo várias palestras sobre segurança, e quando se
fala em segurança, as iniciativas que mais dão efeito são aquelas que preveem
os problemas, já que na reação o tempo é curto e depois pouco é possível fazer.
Prever quer dizer planejar, ou seja, antecipar os
acontecimentos. O brasileiro não tem cultura de planejamento, mas pequenas
atitudes podem gerar grandes resultados.
Cito três exemplos:
1) Condições do veículo (estado e calibragem dos pneus, condições do limpador
de para-brisas, freios, iluminação). Tudo isso faz uma enorme diferença para
evitar que um risco se torne uma crise;
2) Planejar o horário de saída com uma margem e folga, assim ninguém precisa
sair correndo;
3) Pensar e prever o caminho a ser percorrido, porque ficar olhando um mapa, ou
digitando no GPS com o carro em movimento é um atrativo para acidente.
Simples e eficiente.
Qual a melhor forma
para não se atrasar pro trabalho por causa do piso molhado?
Não sair em cima da hora.
E em chuvas
torrenciais. Melhor parar e esperar?
É fácil falar para esperar, mas quem realmente vai fazer
isso? O que poucos sabem é a velocidade em que o nível das águas sobe e não
dá tempo para reagir.
Vidros fechados,
ar-condicionado e rádio ligados… atrapalham a percepção do trânsito? Qual a
postura mais indicada?
Cada pessoa é diferente e tem níveis de atenção
diferenciados. Vidros fechados e ar-condicionado não atrapalham, muito pelo
contrário, trazem conforto e segurança, porque o desgaste é menor. Já o rádio,
se o som estiver alto, pode distrair. Mas o mais grave é o celular. Todos sabem
que é proibido dirigir falando ao celular, imagine digitando ou lendo uma
mensagem? Aqui se repete a história do cinto de segurança: Quantas mortes foram
necessárias para que a maioria passasse a utilizá-lo?
Melhor dica para
desatolar um carro de passeio.
Quando atolar o carro, a primeira reação é tentar desatolar,
acelerando…
Errado!
Quando o carro atola, pare, desça do carro e analise a
situação. Veja se é melhor ir para a frente ou para trás. Tente aliviar o peso
do carro, por exemplo, tire todas as pessoas de dentro. Cave em frente aos
pneus, para eliminar aquele degrau em frente à roda, não vire a direção, tem de
sair em linha reta, se tiver alguém junto, um empurrãozinho sempre ajuda. Na hora
de tentar sair, acelere aos poucos. Não adianta acelerar com muita força, o
pneu vai patinar e cavar um buraco. Se a situação for muito complicada, use o
macaco para levantar o carro e calçar a roda, e se estiver próximo a um posto
ou borracharia, diminua a pressão dos pneus, mas assim que possível corrija a
calibragem – os pneus não aguentam andar muito tempo vazio.
Você que começou nas
motos no Rally Dakar, qual a dica que você dá para os motoqueiros que andam
entre as filas dos carros?
Pilotar moto, isso, moto não se dirige, se pilota, como um
avião. Exige extrema atenção. Pense como um piloto de rali, ele anda sempre
“engatilhado”, com o dedo e pé no freio, assim a reação é mais rápida e esta
fração de segundo faz toda a diferença. Ninguém entra num duelo sem estar
preparado.
Você é acostumado a
dirigir em alta velocidade, em terrenos escorregadios, lama no para-brisa e
tudo o mais… conte alguns prós dos rali ante os contras do trânsito do dia a
dia.
Repito, o pró do rali é o planejamento, a preparação, a
atenção.
O contra do trânsito é a falta de planejamento, o despreparo
(falta de habilidade), falta de atenção. Quando estamos no trânsito, também temos
regras a seguir e temos de pensar que não estamos sozinhos, então respeite as
regras e os outros, se você quer ser respeitado. Dê o exemplo, faça a coisa
certa.
Minha regra é P.A.Z.:
P – Planejamento, preparação, prevenção;
A – Atenção, isso ajuda na reação;
Z – Zero – Zero para quem fala no celular, não utiliza cinto, não conhece as
regras, bebe, briga, não acende o farol (lanterna é luz de estacionamento), não
respeita as regras (anda rápido ou devagar demais – sim, existe velocidade
mínima), para em vagas para idosos, deficientes, etc.