O vídeo “Kony 2012“, divulgado na internet para tornar conhecido pelo mundo o homem mais procurado de Uganda, Joseph Kony, virou um fenômeno de mobilização na rede com mais de 60 milhões de visualizações e o apoio declarado de famosos como Oprah Winfrey e George Clooney, além de ter colocado o nome “Kony” entre os mais citados no Twitter.
A mensagem do documentário, criado pela ONG americana Invisible Children, é simples: Kony, o líder do Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês), deve pagar pelas graves violações aos direitos humanos que é acusado, incluindo assassinato em massa, escravidão e sequestro de crianças para transformar os meninos em soldados e as meninas em empregadas e escravas sexuais.
Através da história de um suposto menino-soldado de Uganda, o vídeo de 29 minutos (assista no final da matéria) pede ao mundo para agir com o objetivo de encontrar Kony neste ano, procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) desde 2005 e que, supostamente, está escondido nas selvas da República Democrática do Congo (RDC) e da República Centro-Africana.
A Invisible Children comercializou um “kit de ação” contra Kony – as vendas já foram esgotadas – e definiu 20 de abril como o dia para os cidadãos espalharem cartazes da iniciativa em suas cidades.
A grande aceitação do vídeo contrasta com o ceticismo e as críticas de alguns analistas do conflito, que consideram que a mensagem simplifica o problema e, inclusive, manipula informações sobre os meninos-soldados.
“O melhor que podemos fazer para reintegrar os meninos-soldados é humanizá-los, não apresentá-los como vítimas sem cérebro de uma máquina programada para matar”, defendeu Mark Drumbl, professor de Direito da Universidade de Washington and Lee (Virgínia, EUA) e autor de um livro sobre os meninos-soldados.
A ONG foi acusada de usar a campanha como cortina de fumaça para os relatórios sobre irregularidades em suas atividades e a divulgação de uma fotografia em que os fundadores da organização posam com fuzis ao lado de membros do Exército Popular de Libertação do Sudão, inimigo do LRA.
Outras críticas atacaram a arrecadação de recursos iniciada pela Invisible Children. O fundador da ONG, Jason Russell, justificou à emissora “CNN” que o dinheiro servirá para cobrir as despesas do vídeo, financiar atividades de campanha e projetos de campo em Uganda.
“Somos uma organização pouco ortodoxa. Trabalhamos fora dos padrões tradicionais da caridade e das instituições sem fins lucrativos”, justificou Russell.
As críticas à organização levaram inclusive o grupo de hackers Anonymous a repensar o apoio declarado à campanha na última quinta-feira, tendo, no dia seguinte, assinalado que se trata de uma “propaganda” e que há “algo obscuro” na iniciativa.
Por sua vez, a porta-voz do Departamento de Estado americano, Victoria Nuland, exaltou os esforços da Invisible Children em informar o mundo sobre os crimes de Kony, embora tenha lembrado que há “países vizinhos (a Uganda) e ONGs que veem há décadas trabalhando neste problema”.
Em outubro do ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enviou à região uma equipe especial de 100 soldados para localizar o líder rebelde, e alguns especialistas em segurança advertem que a campanha virtual pode pôr em risco essa missão sigilosa.
“Tudo o que posso dizer é que isto não poderia ter ocorrido em um momento menos adequado, no plano estratégico e operacional”, indicou à “CNN” Peter Pham, assessor civil do comando militar americano enviado para o país africano.
Contudo, para a massa que apoiou “Kony 2012”, o desafio maior é fazer o que os meios de comunicação parecem não conseguir: conscientizar os jovens sobre uma tragédia que ocorre em uma parte do mundo que afeta a maioria da população do mundo.
“Eu gostaria que um criminoso de guerra acusado atinja o mesmo nível de fama que eu”, disse George Clooney nesta semana em sua conta de Twitter. “Isto é justo”.