A novela das seis da TV Globo, Lado a Lado, vem agradando a crítica, e seu núcleo cômico tem despertado muita curiosidade por retratar os bastidores e as vaidades “nada artísticas” de uma trupe de teatro do inicio do século, não propriamente um assunto inédito na TV, porém no centro desses estrelismos está o galã canastrão Frederico Martins, um sujeito com medo de perder seu status de “primeiro ator da companhia”. Vivendo esta personagem está Tuca Andrada, um ator de 48 anos, também vaidoso, mas que, como antítese de seu Frederico, é politizado, eclético, nada canastrão e consciente de que há muitas “outras coisas” que determinam, hoje em dia, quem vai ser o primeiro ator de qualquer companhia.
O Virgula Famosos conversou com exclusividade com José Ivaldo Gomes de Andrade Filho, mais conhecido como Tuca Andrada, um recifense que começou aos 21 anos, foi morar no Rio de Janeiro, conseguiu um papel na peça infantil O Pequenino Grão de Areia, de João Falcão e nunca mais parou. Hoje é considerado um ator versátil, e desfila sua “vaidade artística” no teatro, cinema e televisão:
Virgula Famosos – Como foi seu inicio, vindo de Recife para o Rio? Sua família te apoiou na decisão de ser ator?
Tuca Andrada – Comecei a fazer teatro no grupo da escola onde estudava, já tinha curiosidade ha muitos anos e na primeira oportunidade quis experimentar. Não larguei mais, tinha 15 anos. Minha família, no principio ficou receosa, mas quando perceberam que eu realmente levava aquilo a sério, me apoiou.
E sua vida no Rio de Janeiro, no início, como foi? Quando as coisas começaram a mudar?
Vim para o Rio afim de estudar e seguir carreira, mas tive que trabalhar em outras atividades para me sustentar nos primeiros anos. Havia juntado um dinheiro em Recife trabalhando como vendedor de loja para pagar minha viagem e os primeiros meses por aqui. Não tinha família por aqui, mas contei com a ajuda de amigos muito queridos. A vida só começou a melhorar quando consegui emprego na TV.
E como e quando foi isso?
Em Que Rei Sou Eu?, fiz apenas uma pequena participação sem maiores resultados para minha carreira. Mico Preto foi uma participação um pouco maior, o que me valeu um convite para O Dono do Mundo, aí sim um personagem de destaque. Mas, na verdade, a primeira novela que fiz foi Vida Nova, como elenco de apoio.
Você como nordestino, sentiu que no inicio ficou marcado pelo estereótipo de interpretar os personagens mais rústicos e durões? E como se livrou dessa amarra artística?
No Brasil nem sempre dá para escolher papeis. Não dá para aguardar muito entre um personagem e outro, muitas vezes tive que interpretar personagens que não gostava, somente pelo meu sustento. Mas quando posso procuro diversificar bastante, é um exercício que gosto de fazer.
Fazer musical foi um divisor de águas na sua carreira? Você já cantava? Quando foi que a dança se tornou um interesse para você? Houve um sacrifício no aprendizado da dança?
Sempre gostei de musicais e sempre quis atuar em um. Já tive belas oportunidades com eles e acho uma delicia fazer. Canto e dança sempre estiveram presentes na minha vida desde que entrei para o teatro. É fundamental para qualquer ator, mesmo que esse ator não pretenda atuar em musicais.
Todos nós sabemos que numa novela, tem uma fase cansativa pela duração excessiva, como você faz para manter o interesse na obra?
A novela leva muito tempo, com a experiência os atores aprendem a driblar esse cansaço.
Já pediu para sair de um trabalho?
Nunca pedi para sair de nenhuma novela, mesmo que não estivesse curtindo fazer, sempre continuei até o fim.
Em Lado a Lado, você interpreta um ator exagerado, como é a experiência de interpretar um canastrão?
O Frederico é um mau ator, um canastrão vaidoso que se acha um gênio. Tem sido muito divertido fazer e poder falar do meu ofício de uma maneira cômica.
Já se sentiu canastrão?
Não, mas já fiquei nervoso em contracenar com atores que considerava ídolos. Muitos foram bastante compreensivos e me ajudaram percebendo minha inexperiência, outros não.
Já contracenou com algum ator “inseguro”?
Já percebi sim alguns atores mais novos apreensivos por estarem na mesma cena comigo, é normal acontecer isso. Tento tranquiliza-los e mostrar que estamos todos no mesmo barco e que também eles têm muito o que me ensinar.
Quais são os seus grandes ídolos no teatro?
Rubens Correa, Marília Pêra, Bibi Ferreira, Fúlvio Stefanini, Otávio Augusto, Irene Ravache, Zezé Polessa, Patricia Selonk, Luís Melo, Eva Wilma, etc, a lista é muito grande.
E qual a peça, para você, é inesquecível como espectador?
Artaud com Rubens Corrêa.
Você está experimentando produzir e dirigir teatro, quais são as maiores dificuldades de estar agora do outro lado?
Produzir já havia produzido. Dirigir ainda estou começando, me faz essa pergunta mais para frente (risos).
Há pouco tempo, nas redes sociais, você se posicionou sobre vários assuntos atuais, podemos dizer que você é politizado?
Se um cidadão não é politizado hoje em dia, ele não faz parte do mundo que vive, é um pária. É impossível você ficar indiferente com tudo que acontece por aí, a não ser que esteja anestesiado por algum tipo de droga.
Como você viu a visão do Pastor Silas Malafaia sobre os homossexuais? O que você acha da homofobia?
A homofobia é um retrocesso e eu não entendo porque algumas pessoas tem tanto problema com isso a ponto de matar o outro. Se não diz respeito a você porque se importar que duas pessoas do mesmo sexo se amem? Em que isso afeta um heterossexual? Por que se sentem tão agredidos? Pura ignorância.
E o que você pensa dos políticos atualmente?
Quanto aos políticos, acho uma vergonha e tenho cada vez mais nojo deles, mas não deixarei de me colocar por isso. Temos que reivindicar sempre por uma sociedade melhor e mais justa e isso passa pelas mãos desses senhores, infelizmente.
Como é o Tuca Andrada apaixonado? É romântico, ciumento?
A paixão sempre traz o ciúme e o romantismo, senão não é paixão, mas não sou excepcionalmente ciumento.
Há pouco numa matéria em uma revista, você citou seu desejo de ser pai solteiro, como está a concretização desse sonho? E de que forma pensa em realizá-lo?
Prefiro não falar sobre isso, o que posso dizer é que é um desejo que acalento e que em breve se tornará realidade.