Testemunha de vários momentos políticos que marcaram o Brasil nos últimos 50 anos, o cantor e compositor Milton Nascimento se disse nesta sexta-feira emocionado com a onda de protestos populares em todo o país e destacou que os cidadãos resolveram “cobrar caro” a conta de problemas “exploração”, “corrupção” e “descaso”.
Em entrevista à agência Efe, Milton elogiou as manifestações e afirmou que não acreditava que algo de tamanha proporção iria acontecer após a queda do governo Collor.
“Estava em Curitiba, onde participei de um evento com estudantes e professores universitários, e quando percebi tudo que estava acontecendo no país, achei incrível! Pensava que depois das Diretas Já e do impeachement do Collor isso não fosse mais acontecer no Brasil”, declarou.
“As pessoas que estão na rua sabem muito bem do que precisamos, aliás, sabemos disso há séculos! A exploração, a corrupção, o descaso, tudo continua a mesma coisa desde que essas terras foram ocupadas. Não é novidade pra ninguém. Só que agora aconteceu o que os políticos não esperavam: o povo tá pedindo a conta e, o mais importante, vai cobrar muito caro por isso”, acrescentou.
O cantor lembrou que, desde o início de sua carreira, sempre esteve envolvido em temas políticos e sociais, e por isso se identifica com os protestos.
“Muito pouco é dito, mas minha militância começou ainda durante a ditadura, quando eu viajava o país inteiro fazendo shows em universidades e apoiando o movimento estudantil através da minha atuação como artista, inclusive em centenas de manifestações. E eu não poderia ajudá-los estando fora do Brasil, então decidi ficar aqui durante os 20 anos de ditadura”, contou.
“Foi uma fase muito dura, principalmente por conta das perseguições e do cerco que a gente sofria. Até cheguei a dizer que só sairia morto do Brasil”, disse o músico.
Milton também lembrou outros atos nos quais esteve engajado, como o projeto Missa dos Quilombos, de 1982, através do qual diz que foi formado então uma união inédita entre entidades como a CNBB, o movimento dos negros, o movimento dos índios e a pastoral da terra.
“Também atuei na campanha das Diretas Já e até contra o apartheid na África do Sul. E no ano passado fui até Campo Grande, no Mato Groso do Sul, participar de um grande ato a favor dos índios da Nação Guarani, que estão entre os povos mais explorados de toda história da América Latina.
“Enfim, sempre que vejo algo que vale a pena lutar, estou dentro”, finalizou