Trocas de casais em Sangue Bom
A novela Sangue Bom parece que se inspirou nos versos do famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, Quadrilha (“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”). A trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari é chamada nos bastidores como “Suíngue Bom” de tanta troca de casais que já aconteceram no folhetim. Estariam sendo apelativos ou é apenas um reflexo da nossa realidade?
A própria Maria Adelaide explicou para o jornal O Globo que Sangue Bom é resultado dos nossos tempos, que o verbo “ficar” é usado com bastante constância para dizer que a relação afetiva ou sexual entre duas pessoas é bem passageira. Muitos personagens trocaram de pares amorosos muitas vezes durante o decorrer da trama, mas isto é reflexo de como a paixão e o amor são vistos nos dias de hoje.
Na novela, por exemplo, Lucindo, interpretado por Joaquim Lopes, já “ficou” com nove personagens femininas e acabou teve casos com sete delas. Seria ele muito diferente de uma parcela de jovens que vivem nas grandes cidades?
A resposta é não. A conquista é valor muito bem aceito e não só nos tempos de hoje, mas ele vem acompanhado por uma novidade, o consumo. Troca-se de paixões como se troca de roupas, sempre procurando uma novidade. Nada mais contemporâneo que a paixão como forma de consumo, por isto mesmo a fugacidade de muitas relações.
A paixão é um sentimento do Ocidente. Criado no mundo ocidental, ele aparece em português como um termo da patologia. Mas desde o século 18, a paixão adquiriu um sentido especial, que a relaciona com a ideia de amor. Não precisou muito para, com o tempo, acabar por se confundir com o termo amor.
Se pensarmos que “você apaixona-se” e que “você ama alguém”, percebemos as diferenças fundamentais entre estes dois termos e sentimentos. Pensa-se hoje que estar apaixonado é estar amando outra pessoa, e não é bem assim, a paixão é o estágio que leva ao sentimento de amor. Este último precisa de tempo para maturar.
Oras, se as paixões são fugazes, podemos estar fadados, nos dias de hoje, a realmente não conhecer o amor. E esta confusão entre estes sentimentos parece muito bem retratada em Sangue Bom, mesmo que na forma de pastiche.
Veja na galeria acima o ninguém é de ninguém de Sangue Bom.