Luiz Serra, de 76 anos, já fez vários trabalhos na TV, como
nas novelas A Vida da Gente e Passione, mas sua carreira é mais extensa no
teatro, em que, segundo ele, há cerca de 50 peças encenadas por ele. Agora, o
ator volta à telinha para viver o dono de uma papelaria na nova temporada de
Malhação.

Em entrevista exclusiva ao Virgula Famosos, o ator falou de
seu papel no folhetim juvenil da Globo, da sua carreira, de como foi fazer
teatro político na época da Ditadura Militar, das manifestações contra o aumento
da passagem em São Paulo e sobre o cinema.

Leia abaixo a entrevista exclusiva com Luiz Serra.

Virgula Famosos – Como é a sua personagem em Malhação?

Luiz Serra – Eu faço o Gustavo, um dono de uma papelaria que
é pai de um professor de educação física, conhece todo mundo e fica opinando
sobre a vida das pessoas. Eu só recebi os primeiros capítulos até agora, ainda
não sei muito sobre ele. O que eu sei é que toda segunda-feira ele fará um resumo
do que aconteceu na semana anterior.

Como é para você atuar com uma geração de atores mais nova,
que está começando?

Eu me dou muito bem. Eles gostam do meu trabalho, eu sugiro
coisas, eu participo. No começo eles estranham um pouco contracenar com um
idoso, mas depois as coisas ficam mais harmoniosas. Quando há receptividade é
bom.

Você vê alguma diferença entre essa geração de atores, que
está começando agora, e a sua , quando estava no início da carreira?

Eu vejo bastante diferença nos métodos. Eu percebo que os
atores agora eles têm uma certa preocupação com a espontaneidade, mas tem
atores ótimos.

E o seu começo no teatro, como foi?

Eu comecei no colégio interno de padres fundando um grupo,
mas meu objetivo, nessa época, era fazer medicina. Eu comecei a trabalhar em um
banco onde conheci o ator Ademar Rodrigues, que foi o meu mentor e minha
inspiração para continuar no teatro. Nós fizemos uma peça do Paulo Magalhães
chamada Um Cravo na Lapela em que eu acabei fazendo o protagonista. Depois, um
dia o Ademar me disse: “Esquece esse negócio de medicina e vai ser ator. Será
muito melhor para você”, e eu fui para EAD (Escola de Arte Dramática, da USP),
em 1962.

Como você conheceu a Analy Alvarez?

Eu fui substituir um ator em uma peça da qual a Analy fazia
parte. Entretanto, nessa época, tanto eu quanto ela éramos casados e não
aconteceu nada, apenas viramos amigos. Depois de um bom tempo, nós já estávamos
separados e começamos a sair e, em 1979, nós juntamos os trapos.

Logo no início da sua carreira, você fez parte do teatro
Arena, cujas peças eram políticas. Como foi fazer teatro nessa época em que o
país estava sob Ditadura Militar?

Foi um período difícil. Em 1968, o Feira Paulista de
Opinião
, por exemplo, foi um espetáculo que foi proibido pela censura (A peça
era composta por seis textos de seis autores diferentes sobre o tema: Qual sua
opinião sobre o Brasil de hoje?). Nós estávamos ensaiando para apresentar o
espetáculo na sala Gil Vicente do teatro Ruth Escobar (inaugurado em 1963, o
prédio possui três espaços para espetáculos), enquanto em outra sala estava em
cartaz Roda Viva (peça de Chico Buarque dirigida por Zé Celso, que foi marcada
por um coro que provocava e agredia verbalmente o público). E foi quando
ocorreu o ataque do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) no teatro, destruindo
o cenário e espancando alguns atores. A partir daí, nós passamos a tomar mais cuidado
com a nossa segurança. Eu cheguei a ser preso em 1973, junto com minha mulher,
mas não cheguei a ser torturado.

Em 1999, você participou da peça Lembrar É Resistir, escrita
pela sua atual mulher Analy Alvarez em parceria com Isaías Almada, e encenada
em um antigo prédio do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Como foi
esse espetáculo?

A intenção na ocasião era lembrar os 21 anos da Ditadura. A
Analy escreveu  a peça a partir de textos
de vários atores. E foi uma experiência fantástica, muitos atores tinham vivido
a época e era muito difícil para nós relembrarmos essa época, mas eu não
cheguei a ficar no DOPS, eu fui detido na OBAN (Operação Bandeirante, um centro
de informações e investigações montado pelo Exército do Brasil, em 1969).

Estão ocorrendo no país, uma série de protestos que foram desencadeados após o aumento da passagem de ônibus e metrô. Qual a sua opinião
sobre as manifestações?

Tudo isso é decorrente de uma política geral do governo
federal, porque o país está à deriva. Ninguém respeita governo, o governo não
se respeita e povo está se aproveitando disso para manifestar, como em 1968 na
França. E como em várias partes do mundo, como foi no Egito e como está sendo
na Turquia.

Você acha que o teatro tem algum papel neste contexto?

Sempre tem. O teatro é por definição político. Ou você é
contra ou você é a favor, ou, muito pelo contrário, você não quer opinar.
Entretanto, os grandes espetáculos contestatórios não existem. Eles existem na
forma, mas não no conteúdo. Eu até deixei de ir ao teatro porque eu não vejo mais
graça, e também perdi o entusiasmo. A última peça que eu fiz, Lágrimas de Um
Guarda-Chuva
(1998), de José Renato, que era um espetáculo lindo, foi um
fracasso. As pessoas querem ver comédia. O teatro político hoje é muito
romântico.

Você tem uma vasta carreira no teatro, já fez alguns
trabalhos na TV e no Teatro. Atualmente qual destas áreas te agrada mais?

Eu estou muito sossegado no cinema, e na TV, por outro lado.
Eu acho que o cinema está me dando umas boas oportunidades. Eu fiz Linha de Passe,
do Walter Salles, depois eu fiz Histórias que só Existem Quando Lembradas, que
foi um filme lindíssimo e estou terminando de filmar um filme espírita chamado
Causa e Efeito
, de André Marouço. Na verdade, eu entrei na EAD com o objetivo
de fazer cinema, embora eu só tenha estreado no cinema alguns anos depois.


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Um dos ícones do teatro político, Luiz Serra diz que não existem mais peças contestatórias