A adoção é um tema voga devido ao casamento civil igualitário, que prevê que casais do mesmo sexo adotem filhos. O tema também veio à tona, durante a novela Salve Jorge, cuja personagem Aisha (Dani Moreno) procurou por sua mãe biológica. Sangue Bom é outra novela que aborda o assunto com a personagem de Giulia Gam, Bárbara Ellen, que tem filhos adotados.

 

O processo em si, que não é fácil nem rápido, pode levar anos. Depois de dar entrada, aguarda-se a “aceitação do processo”. O passo seguinte, a aprovação do pedido, incluiu entrevistas com assistentes sociais e audiência com juiz. Após aprovado, entra-se na fila de espera que varia bastante de acordo com as características desejadas da criança.

 

A apresentadora Astrid Fontenelle, de 52 anos, foi uma das brasileiras que enfrentaram o processo. Depois de dez meses de espera, que ela diz ter sido sua gestação, ela e Gabriel, então com quarenta dias, se conheceram, em 2008.

 

Astrid, que descobriu em 2012 ser portadora de lúpus, doença autoimune que pode atacar órgãos vitais, encontra forças na criação e no amor ao seu filho, que segundo ela mudou “suas prioridades, seus modos”.

 

É importante pensar que a adoção é uma manifestação além da maternidade, é um ato humanista, um acolhimento para crianças que por diversas razões não estão dentro de um núcleo familiar.  

 

Em entrevista exclusiva ao Virgula Famosos, ela falou sobre o processo de adoção, o problema dos abrigos infantis e maternidade.

 

Virgula Famosos Você disse que sentia vontade de ser mãe, mas não de ficar grávida. Por quê? 

Astrid Fontenelle – Nunca tive inveja de barriga! Achei lindo a Leila Diniz posar libertária gravidíssima, mas, para mim, aquilo era só bonito esteticamente. A dureza de uma gravidez não é pra mim. Ainda mais que a maternidade entrou nos meus planos reais depois dos 40… Eu ficaria chatérrima barriguda! 

Você disse em entrevista à revista Pais e Filhos que, com 18 anos, visitava esporadicamente a Febem e dizia à sua mãe que tinha vontade de adotar, mas depois essa vontade passou, só voltando aos 40. Qual a diferença entre o seu desejo quando jovem e o que te fez adotar um filho hoje?

A juventude é sonhadora. Depois foquei na minha carreira, na minha independência, na minha liberdade. Filho depois dos 40 é tudo de bom. Hoje, abro mão de qualquer coisa pra ficar com o Gabriel. Já fui a todos os shows que queria, já viajei bastante. O que falta fazer, estou começando a fazer com ele.

Você teve dúvidas antes de adotar? Quais?

As mesmas dúvidas de todo mundo que quer ser mãe: vou dar conta do recado??

Você conhecia alguém próximo com filhos adotados?

Ninguém.

Como foi a reação de sua família e amigos quando você revelou seu desejo em adotar?

A melhor possível. Para o processo, você tem que apresentar algumas cartas de “recomendação”. Teve disputa pra ver quer escreveria.

Como você tratou o processo de adoção com o Fausto, que hoje é seu marido?

Conheço ele de outros carnavais, literalmente. Entretanto, nos “reencontramos“ e rolou um flerte (sim, isso ainda existe). Eu estava há um mês e meio separada e no processo de adoção. Ficamos dois dias saindo em São Paulo, com muita conversa, sem tocar nesse assunto, depois do primeiro beijo, ele disse que queria me namorar. Recusei, mas ele insistia. Então, tive que contar que se ele quisesse me namorar tinha que saber que eu estava grávida. Sim, porque para mim o processo (de adoção) foi a minha gravidez. E que dessa forma ele não poderia ser pai do meu filho nunca. Seria um golpe da barriga, entende? Bom, o fato é que ele foi ficando, a gente foi se apaixonando e ele foi colado na história. Foi ele o responsável por eu mandar meus papéis pra Salvador. Portanto, por direito adquirido, batalhado, ele hoje é o pai do Gabriel.

Como foi o processo adotivo para você?

A parte mais difícil foi a demora para marcarem a primeira entrevista. Depois as coisas fluíram. Ao todo foram 10 meses.

Como foi o seu primeiro dia com Gabriel? O que vocês fizeram?

Ele só tinha 40 dias. Não se faz muita coisa com um recém-nascido a não ser cuidar. E cuidar foi ótimo. O primeiro banho, a primeira noite, o primeiro banho de sol! Se bobear, foi o primeiro banho de sol da vida dele! No mais, só se sai de casa pra ir ao pediatra! rs

Você já sofreu preconceito por seu filho ser negro? 

Eu não, mas ele sim. O mundo é cruel. Já aconteceu e vai acontecer. Trabalho a cabeça dele pra que ele enfrente o preconceito com cabeça erguida. Ele é um negro lindo, inteligente, carismático. Falo sempre isso pra ele.

O Gabriel fará cinco anos. O que ele sabe sobre sua origem? Como pretende contar-lhe que é adotado?

Você conta na medida da compreensão dele. Sabe que nasceu do coração. Daí pra frente, a gente vai explicando mais e melhor. O importante é sempre a verdade. 

Hoje o tema da adoção está em voga por conta do casamento civil igualitário. Você, que passou pelo processo como mãe solteira, como avalia o processo na prática? Sentiu algum tipo de preconceito ou moralismo?

Nesse quesito não teve nada de errado comigo, 100% de apoio.

Quais são as grandes dificuldades para adotar uma criança no Brasil? 

A situação de muitas crianças que estão nos abrigos. Muitas vivem na expectativa de serem reintegradas na própria família, que é o que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente. Assim acabam passando anos por lá. Esse nó precisa de uma solução. 

O que precisa ser melhorado?

Como, eu não sei, mas uma das situações que vi foi a de uma mãe que por falta de condições financeiras, sem marido, mãe solteira, desempregada, acabou tendo que deixar seu filho num abrigo até se recuperar. A cada semana, ela ia ver a criança. Depois, a cada 15 dias. A situação piorou e acabou nas ruas. Só conseguia ir quando um motorista de ônibus dava carona. No dia que eu estava no abrigo, ela ligou a cobrar e uma pessoa do abrigo me contou o drama. Nesse caso, a justiça deveria dar apoio não só à criança, mas também para mãe. “Bolsa Recomeço”, que tal?

Qual a melhor parte de ser mãe?

Ensinar é tão difícil, mas é tão prazeroso quando alguém diz que seu filho é fofo, educado! Eu me derreto! E a criatura dizendo que te ama? Loucura!

O que a maternidade mudou na sua vida?

Minhas prioridades, meus modos. O exemplo máximo vem de casa, aqui a gente pratica. 

Pensa em adotar mais?

Adoraria.


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‘O processo de adoção foi a minha gravidez’, diz Astrid Fontenelle

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