Albert Camus faz parte da Santíssima Trindade do existencialismo, formada também pelos escritores e pensadores Jean-Paul Sartre e sua companheira, Simone de Beauvoir. Bom, para continuar na heresia, pois todos duvidavam (para dizer no mínimo) da existência de Deus, temos ainda o filósofo Maurice Merleau- Ponty. No centenário de seu nascimento, o escritor argelino (que não foi o mais popular dos existencialistas na época do movimento, cabendo este papel a Sartre), é hoje com certeza o que mais influenciou artistas da cultura pop.
The Cure, Queen, Caetano Veloso e Lobão são exemplos de artistas que utilizaram das ideias literárias de Camus para ajudar a compor alguma de suas obras em um determinado momento. O próprio existencialismo foi como uma bomba atômica comportamental quando surgiu, na década de 40. Com a ideia de que “a existência precede a essência” e todo o pessimismo pós-guerra, o movimento logo influenciou os beatniks, e depois os punks e góticos. Sartre e sua turma foram alçados ao patamar de estrelas pop na época.
Com a difusão das obras existencialistas, logo as ideias do grupo ficaram muito conhecidas e comentadas como libertárias. Clichês como usar roupas pretas, ter uma atitude desesperançada e uma vida não convencional (Sartre e Simone tinham um casamento hoje conhecido como relacionamento aberto, mas que não era comum na época). Mas o absurdo presente nas obras de Camus como O Estrangeiro, A Queda e O Mito de Sísifo acabaram tendo efeitos mais duradouros.
Robert Smith compôs um dos seus sucessos na banda The Cure, Killing an Arab, totalmente influenciado pelo livro O Estrangeiro de Camus. No romance, o protagonista Meursault mata um árabe na praia. Por razões do forte preconceito contra muçulmanos na Europa e nos Estados Unidos, o vocalista mudou, nos anos 2000, o nome da música Killing an Other.
Caetano Veloso foi outro artista influenciado pelo clássico de Camus. Ele leu o livro quando estava na cadeia, como preso político, no final dos anos 60, em plena Ditatura Militar. Nos anos 80, compôs o álbum Estrangeiro e nas entrevistas de divulgação do LP sempre se referia ao episódio da prisão.
O Queen foi outro grande da música que se inspirou em O Estrangeiro. A letra de Boehmian Rhapsody foi inspirada no narrador do livro. O cineasta Luchino Visconti filmou O Estrangeiro, em 1970 , com Marcello Mastroianni no papel de Meursault.
O grupo indie The Magnetic Fields, liderado por Stephin Merritt, compôs I Don’t Want To Get Over You, em 1999. Na letra, ele diz: “I could dress in black and read Camus/ Smoke clove cigarettes and drink vermouth (Eu poderia vestir-me de preto e ler Camus / Fumar cigarros de cravo e beber vermute)”
Já Lobão, dizem, se inspirou em outra obra do escritor e compôs A Queda, mas o próprio músico nunca confirmou a referência. Uma atitude bem Camus, diga-se de passagem.