Com o intenso e desconsolador filme de ficção científica Children of men, o diretor mexicano Alfonso Cuarón comoveu neste domingo o público do Festival de Veneza, ao projetar no futuro os horrores do presente.
Aplaudido e ovacionado, Cuarón foi elogiado no Lido por sua versatilidade e originalidade por diversos críticos de cinema de todo mundo durante a entrevista coletiva à imprensa.
O cineasta mexicano, de 44 anos, conhecido por ser um autor "eclético", já que sua filmografia inclui desde o divertido "E tua mãe também" (2001) até as façanhas de "Harry Potter e o prisioneiro de Azkabán" (2004), entrou na mostra competitiva deste ano com uma história angustiante, ambientada num futuro próximo: 2027.
Filmada completamente em Londres, empregando a técnica da câmera no ombro, do cinema-verdade, o filme é uma espécie de canto triste pelo futuro e uma dura denúncia do mundo atual, da contaminação ambiental, da vida cruel de milhões dos imigrantes, dos campos de concentração, da desigualdade social, das milícias particulares e das guerras separatistas.
"O filme está cheio de ícones, de imagens que fazem parte de nossa consciência coletiva. Não é um filme de ficcção científica, e sim um filme que fala do presente", assegurou o diretor.
Distribuído e produzido pela Universal Pictures, co-produzido por Grã-Bretanha e Estados Unidos, Children of Men (Os Filhos dos Homens), baseado na novela homônima da escritora inglesa P.D. James, descreve um universo sem bebês, nem crianças, pela total ausência de nascimentos durante 19 anos em todo o planeta.
No sombrio mundo de Cuarón, Theo, interpretado pelo ator inglês Clive Owen, deixa de lado sua total indiferença para defender Kee, uma jovem negra que está para dar à luz ao primeiro bebê em 19 anos.
"Apesar de tudo, o filme fala da esperança e de como a ideologia termina pode anular o diálogo", assegurou o cineasta.
Entre as estrelas do filme estão o ator inglês Michael Caine, no papel de um velho sábio rebelde, e a premiada Julianne Moore, como a líder do movimento pelos direitos dos refugiados.
Premiado há cinco anos em Veneza com "E tua mãe também", o talentoso cineasta latino-americano, único do continente selecionado para a competição, está entre os grandes favoritos para receber o cobiçado Leão de Ouro.