A plateia lotada, a orquestra dá a introdução, o coral entra, o restante do elenco aparece… Mas quando Marília Pêra entra em cena no musical Alô, Dolly, que estreou neste sábado (02) no Teatro Bradesco em São Paulo, todos os olhares se rendem a um magnetismo espantoso entre a atriz e o público.
Miguel Falabella dirige e atua na versão brasileira da peça traduzida por ele. E reconhece que Marília é imbatível. “É como se eu fosse um jogador e fosse jogar ao lado do Messi” disse em recente coletiva para divulgar a peça. Entrevista esta onde Marília contou sua história particular com o musical em questão.
“Eu era bailarina da montagem de My Fair Lady em 1966, quando fui fazer teste para ser uma das mocinhas de Hello Dolly, que era protagonizado por Bibi Ferreira, e não passei”, recorda. “Não fiquei abalada pois no teste para My Fair Lady, eu havia sido preferida no lugar de Elis Regina, na época com 17 anos, eles me disseram que eu cantava melhor que ela” conta às gargalhadas.
Alô, Dolly, que narra a história de uma mulher casamenteira que quando conhece um caipira milionário resolve arrumar com ele seu próprio casamento, é a primeira parceria de Falabella e Marília em musicais, mas não no teatro. “Foi Miguel que um dia me cercou e me obrigou a dirigir, eu era uma atriz, nunca tinha dirigido, mas ele insistiu tanto que aceitei”, diz Marília sobre montagem de A Menina e o Vento de 1978. E Miguel completa: “Ela havia me ligado e dito que eu tinha uma coisa especial no palco, daí isso foi um aval para mim, que era um jovem ator”.
A plateia de Alô, Dolly, no imenso Teatro Bradesco, em São Paulo, é formada por muitas senhoras, mas também por muitos jovens interessados repentinamente nos musicais da Broadway que vem aportar em versões brasileiras. “Conseguir dinheiro para fazer um musical americano é assim ó, mas vai tentar montar algo genuinamente brasileiro pra ver”, reclama Miguel que angaria fundos para montar Memórias de Um Gigolô e não tem conseguido. Marília esbraveja “Eu não assisto o Oscar” explicando que acha que as pessoas dão muito valor as coisas americanizadas.
Uma dessas jovens da plateia é Augusta Tenacius, 27 anos, estudante de teatro, apaixonada por Marília. “Vejo tudo que ela faz, é minha inspiração”, suspira. Mas Marília tem um recado para Augusta e para todos os jovens atores. “Antes de uma estreia amaldiçoo minha profissão de atriz, porque fico nervosa, tremo, tomo floral… E diga aos jovens atores que isso nunca passa”, declara Marilia. Já Miguel diz que para relaxar antes da cena faz bagunça. “Falo bobagem, brinco, minto para Marilia que a Bibi Ferreira tá na plateia. Falo ‘Bibi tá aí, desinteressada e comendo uma banana’ (risos). Acho que o riso é o alimento do espirito”.
Na plateia do teatro está também Gia Freire da Luz, 64 anos, uma dona de casa, apaixonada por musicais. “Antes de vir assistir Alô, Dolly assisti o filme de Hollywood com Barbra Streisand e Marília põe a americana no chinelo, Marilia ofusca tudo e todos!”, conta animadamente a espectadora, que está diante de Marília, uma atriz de 70 anos, que canta e dança com facilidade juvenil, mas que mesmo com a fama de austera revela uma humildade. “Enquanto Miguel brinca nos bastidores, eu fico olhando o ensaio das jovens atrizes, principalmente a Alessandra Verney (que interpreta a jovem romântica da peça) tentando pegar uns truques de como cantar tão bem”. E completa com uma olhar doce e agradecido: “Ofereço esse espetáculo ao nosso ensemble (coral) que são fantásticos, não tem um que não cante maravilhosamente bem”.
Alô, Dolly fica em cartaz de quinta a domingo, e é mais uma grande oportunidade de ver Marilia Pêra fazendo o que lhe é mais prazeroso, segundo ela. “Prefiro atuar, do que dirigir, não tenho voz ativa, ninguém me respeita, quando me assistem no palco, ai sim, me respeitam”. Então o público paulistano tem até o dia 02 de junho, para ir ao Teatro Bradesco “respeitar” Marilia Pêra.