Amy Winehouse morta aos 27; veja músicos que se foram precocemente
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O ator e comediante Russell Brand, marido de Katy Perry, escreveu um comovente post em seu blog, em homenagem a sua amiga Amy Winehouse, que morreu no último sábado, dia 23.
Russell falou de sua própria luta contra o vício em heroína e refletiu sobre a vida da artista britânica, que deixou o mundo cedo. Confira trechos do post, intitulado Para Amy:
“Quando você ama alguém que sofre da doença do vício, você espera um telefonema. Haverá um telefonema. A esperança sincera é que o telefonema será do próprio viciado, dizendo a você que ele está cansado, pronto para parar, pronto para tentar algo novo. Claro, porém, você teme o outro telefonema, a triste melodia noturna de um amigo ou de um parente dizendo a você que é tarde demais, que ela se foi.
(…) Eu conheço Amy Winehouse há anos. Quando eu a encontrei pela primeira vez, perto de Camden [bairro de Londres], ela era apenas uma pirralha em uma jaqueta de cetim rosa, rodeando por bares com amigos em comum, a maioria deles estavam em bandas indie moderninhas ou eram figuras periféricas de Camden, abrindo caminho pela vida com um carisma ineficaz. Carl Barrat [da banda Libertines] me disse que ‘Winehouse’ [era como eu a chamava, porque é engraçado chamar uma garota pelo sobrenome] era uma cantora de jazz. Achei esse fato uma bizarra anomalia entre aquele povo. Para mim, com meu conhecimento musical limitado, essa informação colocou Amy para além de um invisível limite de relevância; ‘cantora de jazz? Ela deve ser um tipo excêntrico’, eu pensei. Conversei com ela, de qualquer maneira. Afinal, ela era uma garota, e ela era doce e peculiar, mas, acima de tudo, vulnerável.
Naquela época, eu mal tinha saído da rehab e procurava, sedento, uma mulher menos complicada. Portanto, eu mal refleti sobre o óbvio e evidente fato de que Winehouse e eu compartilhávamos uma mesma aflição, a doença do vício. Todo viciado, não importa a substância ou o status social da pessoa, compartilha um consistente e óbvio sintoma; eles não estão totalmente presentes quando você fala com eles. Eles se comunicam com você por meio de um quase imperceptível [mas impossível de ignorar] véu. Seja um mendigo viciado, enchendo o saco por causa de 50 p, para uma xícara de chá, ou um executivo cheirado falando sobre seu ‘barco de corrida’, há uma aura tóxica que impede a comunicação. Eles têm o ar de alguma outra coisa, parece que eles olham através de você, para um lugar em que eles preferiam estar. E, claro, eles estão fazendo isso. A prioridade de qualquer viciado é anestesiar a dor de viver, aliviar a passagem do dia com algum alívio comprado.
De vez em quando, eu trombava com a Amy. Ela tinha bom humor, então, nós conversávamos um pouco e ríamos, ela era uma ‘personagem’, mas aquele mundo estava cheio de aproveitadores dopados, e eu era um deles. Mesmo no começo da recuperação, eu ficava desgovernado só de abraçar o corpo de estranhos.
(…) Entrando no local, vi Amy no palco com Paul Weller e sua banda, e então a reverência. A reverência que te envolve quando testemunha um gênio. Da graciosa e estranha presença de sua voz, uma voz que não parecia vir dela, mas de algum lugar entre Billie Holiday e Ella Fitzgerald, da fonte de toda a grandeza. Uma voz tão cheia de força e dor que era inteiramente humana, apesar de atada ao divino. Meus ouvidos, minha boca, meu coração e mente estavam instantaneamente abertos.”
(…) Publicamente, Amy cada vez mais ficou conhecida por seu vício. Nossa mídia é mais interessada em tragédia que em talento. Então, a tinta começou a mudar. De louvar seu talento, passou a fazer crônicas sobre sua decadência.”
(…) Agora, Amy está morta, assim como muitos outros cujas mortes aos 27 anos foram romantizadas em retrospectiva. Se essa tragédia poderia ser prevenida ou não, agora é irrelevante. Não é possível prevenir agora. Perdemos uma bela e talentosa mulher para essa doença. Nem todos os viciados são talentosos como Amy, ou Kurt ou Jimi ou Janis. Alguns apenas sofrem. Tudo que podemos fazer é mudarmos o modo com que vemos essa condição, não como um crime ou uma afetação romântica, mas como uma doença que vai matar. Precisamos rever o modo com que a sociedade trata os viciados, não como criminosos, mas como pessoas doentes que precisam de cuidados.”
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