Com um sonoro “yaaaaaaay!”, Karol Pinheiro começa sua conversa com o público, todas as segundas, quartas e sextas em seu canal de Youtube, onde fala sobre comportamento, moda, beleza e diversos outros assuntos. Jornalista de formação, ela passou pela revista Capricho, onde começou a vida de blogueira e conquistou o coração e o carinho dos fãs. Hoje, soma mais de 550 mil inscritos em seu canal, que tem apenas dois anos.
E qual o impacto de ter milhares de inscritos? “Quando você clica em publicar, você vai ter exatamente, naquele segundo, a medida do impacto que aquilo teve. As coisas mudam quando você transcende isso para o offline. Tive essa medida muito clara para mim, quando eu fiz o meu primeiro encontro de leitores. Eu me uni com duas marcas e fiz um encontro de leitores na Oscar Freire, em São Paulo. Nós esperávamos 100 pessoas e foram 2 mil”, contou a youtuber durante a BR Week, maior evento do mercado de varejo brasileiro, onde participou de uma palestra que tinha como tema: como transformar uma legião de fãs em consumidores.
“A gente trabalha com a profissão dos sonhos. Antigamente, quando você perguntava para uma criança de 7, 8 anos, o que você quer fazer da vida? Ela respondia: jogador de futebol, modelo. Hoje, muitas vão responder: quero ser youtuber. Acho que é uma profissão que está se consolidando no mercado”, explicou. “Antigamente, só influenciava quem estava na TV e hoje é o contrário, vai para TV quem influencia online. Tudo que a gente faz é rumo ao longo prazo e eu acho que a consolidação enquanto profissional, youtuber, blogueiro, influenciador, é algo que nós buscamos hoje, para que o nosso lado exista a longo prazo”, disse aos empresários da plateia, ao ser questionada sobre a profissão ser uma coisa da moda.
Em entrevista exclusiva ao Virgula, após participar do debate, Karol falou sobre o sucesso, a luta contra a ansiedade e a relação com os fãs, que são amorosos, porém cheio de loucuras. “Não posso passar meu número de telefone em consultório médico, porque a filha da atendente me conhece e pronto! Meu telefone cai e aí meu Whatsapp não para”, diverte-se.
Confira a conversa com a youtuber:
Além do sucesso do blog e do Youtube, você acaba de lançar um livro, As Coisas Mais Legais do Mundo. Como chegou nisso? Sempre foi um sonho?
Karol Pinheiro – Lançar um livro era um sonho de criança. Consegui dizer para mim mesma, minha versão criança: você conseguiu! Agora, você é uma autora, você é uma escritora. Então, esse sonho que você tinha há tantos anos, foi emocionante, foi um trabalho muito árduo e de uma entrega muito grande profissional e emocional. A cada texto escrito eu me debulhava em lágrimas, dependendo do assunto que eu estava escrevendo. Então, é muito louco, quando você trabalha com internet, a sua ligação com o mundo real é outra. Então, quando você materializa o seu trabalho em algo e você segura na sua mão, é uma emoção diferente de quando você recebe 100 mil likes.
Como seus fãs receberam um livro de crônicas? Como foi a devolutiva?
KP – É incrível, é surreal. Ela começou online, antes que eu fosse para perto das pessoas e perguntasse. Então, comecei a ver muitas frases do livro compartilhadas. Fiquei: meu Deus, aconteceu! Aquilo que eu escrevi, pensei, idealizei na minha casa, no meu quarto, na sala da minha casa, transcendeu a tela do meu computador. Eu escrevi o livro no meu computador e foi parar na vida de outras pessoas. Comecei a receber fotos desse livro na cabeceira das pessoas, na mochila, na bolsa das pessoas. Depois, aconteceu o presencial. Peguei os livros todos rabiscados, grifados, ouvi depoimentos sobre os textos. Recebo muitos e-mails, porque tem um texto que a proposta de interação é: largue tudo o que você está fazendo e mande um e-mail. Declare o seu amor por algo. Recebo uma enxurrada de e-mails porque elas vêm se declarar para mim.
Os youtubers têm uma expressividade muito grande entre os jovens e vocês acabam sendo mais famosos que atores e atrizes de novela ou apresentadores de TV. Inclusive, a televisão tem levado vocês para os programas. Como você encara essa inversão de papeis?
KP – É louco, sempre que eu apareço em um programa de TV ou rádio, o que seja, as pessoas me perguntam: e aí, você bombou? Eu digo: não, né? Eu não ganhei mais seguidores por causa disso. É o contrário, o que bombou não fui eu, foi o programa de rádio, o programa de TV, foi a revista. Então, é um processo completamente diferente do que a gente está acostumado a viver. Principalmente, eu que trabalhei em redação. Eu via coisas ao contrário, vi uma personalidade sendo, crescendo, porque estava naquela plataforma. Agora, é ao contrário. A plataforma cresce, porque tem uma personalidade da web. Então, é gratificante, é legal, é incrível, mas é louco. A gente está vivendo a transformação de algo muito grande.
Os fãs de vocês são intensos. Os youtubers juntam multidões por onde passam. É sempre uma gritaria. Como é a loucura dos seus fãs?
KP – Conforme você vai crescendo e vai evoluindo, você vai aprendendo a lidar com isso, você aprende que você não pode publicar um vídeo que em um segundo aparece a sacada da sua casa, porque alguém no mundo que te segue, sabe que sacada de prédio é e acaba. E os fãs vão para sua porta. Mesma coisa com número de telefone, não posso passar meu número de telefone em consultório médico, porque a filha da atendente me conhece e pronto! Meu telefone cai e aí meu Whatsapp não para. Então, eu acho que é um processo de aprendizado e você vai desenvolvendo, que antes não fazia parte da sua rotina e que você desenvolve. É legal, é incrível, acho que é um resultado muito importante do trabalho que você faz diariamente.
Quais loucuras você apontaria como as mais impressionantes?
KP – Uma coisa que me deixa em alerta é quando alguém me diz: escreve essa frase, escreve yay!, que é o que eu falo no começo dos meus vídeos. Aí eu fico: escreve? Para que? Porque eu vou tatuar! Eu me recuso. Falo: não, você não vai fazer isso! Minha letra é horrível, não vou deixar. Aí, eu não faço! Mas tem várias coisas desse tipo. Elas levam cartas, verdadeiras declarações de amor e pegam filas de horas. E é muito engraçado, porque a gente faz eventos e a gente vê várias “mini eus”, mesmo cabelo, mesmo jeito de se vestir, mesma unha da mesma cor. Então, é muito engraçado.
Você fez um vídeo muito bacana em que fala sobre seu tratamento contra ansiedade. Como foi esse período?
KP – Essa fase aconteceu também pelo meu momento profissional. Teve muito a ver com o pessoal, óbvio, mas muito com o momento profissional. O momento que eu voltei de Nova York, essa viagem que eu fiz com o blog, e ia começar o meu novo trabalho aqui, a minha nova vida, sabe? Então, era tudo muito novo, muito louco, muito inesperado e aconteceu. Sempre fui muito ansiosa, rola um medo. A gente trabalha com um mercado novo e inexplorado ainda, são muitas dúvidas que rodeiam a sua cabeça e sua vida. Sempre tive esse perfil ansioso, nunca lidei com isso, explodiu e tratei do melhor jeito: procurando ajuda profissional. Mas passar isso adiante, nunca fui o tipo de pessoa que gosta de se vitimizar. Não falo sobre: sofri bullying, nossa, eu sou o anti-herói, que agora é famoso na internet. Não gosto desse tipo de coisa, então, demorei muito tempo para falar desse assunto. Aconteceu porque eu senti uma necessidade do público. Vi muitas meninas pedindo e questionando. Falei, caramba, acho que faz parte do meu trabalho, acho que agora que eu já superei, entendo um pouco melhor do assunto. Procurei muito respaldo profissional, de profissionais para poder fazer aquele vídeo, falei com muitos psicólogos para entender qual era a melhor forma de dizer isso. Não fui para frente da câmera crua, sabe? Então, acho que esse momento de expor isso, foi muito importante. Recebo e-mails e, presencialmente, as pessoas falam: obrigada por você ter feito isso, sabe? Você me ajudou e agora eu entendo que eu tenho que procurar um psicólogo, agora, eu entendi que tomar remédio não é ruim, sabe?
Você acha que as pessoas ainda não tem noção que isso é um problema real?
KP – Acho que não mesmo. Venho de uma família que não tinha nenhuma noção disso. Sempre tive TOC, a minha infância inteira, e meus pais falavam: bobagem, deixa pra lá. Hoje, sei o que é, entendo que tudo isso culminou em uma síndrome do pânico que eu nunca imaginei que eu ia ter na vida, que, talvez, se eu tivesse um tratamento adequado antes, não tivesse chegado nesse pico de ansiedade, sabe? Acho que as pessoas não tem noção, acho que as pessoas ainda acham que tratamento psicológico é segundo plano, sabe? Elas não entendem que isso é tão importante quanto tratar seu coração, seu rim, seu pulmão, quanto ir ao médico fazer exame de sangue. É muito importante.
Em alguns vídeos, você fala sobre empoderamento feminino. O quanto é importante ressaltar isso para o seu público, que é composto, principalmente por mulheres jovens?
KP – Muito importante. Nunca falei só sobre isso, mas gosto de colocar o empoderamento feminino em tudo o que eu faço, porque acho que é isso que ele representa. É algo que tem que vir naturalmente e espontaneamente. Então, eu me posiciono. Acho que é um momento importantíssimo em que as mulheres estão percebendo algo muito importante nesse sentindo. E não só as mulheres como os homens e toda a nossa sociedade. Então, é algo que eu faço, sim, sempre. É muito normal, natural e importante.
Vem ver fotos da youtuber Karol Pinheiro
Créditos: Reprodução/Instagram