José de Abreu


Créditos: Frederico Antonelli

O ator José de Abreu, de 68 anos, está em cartaz com a peça Bonifácio Bilhões, no Teatro Gazeta, em São Paulo, a partir da sexta-feira (05). Ele interpreta um socialista que promete, caso ganhe, dividir o dinheiro de um prêmio da loteria, mas acaba voltando atrás.

O tema político da encenação é bem conhecido do veterano ator que, desde que criou sua conta no Twitter, já soltou vários tuítes polêmicos de teor militante e bem politizado.

Em entrevista exclusiva com o Virgula Famosos, o ator fala sobre política, sua declarada e controversa bissexualidade, sua possível candidatura a um cargo político e do caso em que foi desconvidado a ir em um espaço vip da revista Contigo (entenda o caso clicando aqui).

Leia abaixo a entrevista exclusiva com José de Abreu.

Virgula Famosos – No dia 12 de fevereiro (terça-feira de Carnaval) você tuítou: “Fui gentilmente ‘desconvidado’ para ir a um camarote (não iria mesmo, tenho vários outros para ir) por não poder ser ‘muito’ fotografado”. A revista negou na época que possuía um camarote no Carnaval. Qual a sua versão da história?

José de Abreu – Não era no Carnaval, eu nunca falei que fosse no Carnaval. Eu falei que a Contigo me desconvidou de um camarote, mas eu nunca falei a palavra Carnaval. As pessoas que induziram que era no Carnaval. Talvez por causa da época. Foi em uma outra festa no Copacabana Palace.

Que festa?

Foi no Réveillon. Era o espaço vip da Contigo no Réveillon do Copacabana Palace. Eles contrataram uma produtora de eventos para fazer os convites, e essa produtora é minha amiga. Ela me convidou para ir à festa, mas nem mencionou a revista. Eu iria de qualquer jeito, o editor é meu amigo. Só que um dia, um jornalista, que também é meu amigo, me ligou e disse: “Zé, nós não vamos poder te fotografar muito, porque você está pegando muito pesado com o patrão”. Eu falei: “Manda o teu patrão pedir para o Reinaldo Azevedo e o Augusto Nunes (ambos jornalistas que possuem blogs no site da Veja) pararem de pegar no meu pé, que eu paro de pegar no pé deles”. Eles que começaram uma guerra ridícula contra mim ao me xingarem de ator coadjuvante. Como assim? Fernanda Montenegro é coadjuvante. Eles botaram na cabeça de seus leitores que coadjuvante é um demérito. É uma coisa ridícula. E me desmereceu dizendo que eu sou um péssimo ator porque eu sou de esquerda. Isso é fascismo. Em vez de me assistir, ele parte do princípio de que eu sou um péssimo ator por eu ter uma posição política definida. (N.E.: A revista Contigo assim como a Veja pertencem ao grupo Abril)

Mas você acredita que esses comentários se devem a que?

Porque eles são baixos. São dois blogs de esgoto. Esses dois caras não são seres humanos normais. O Augusto Nunes é um ladrão safado, foi expulso do jornal O Estado de São Paulo por roubo. (Essa declaração vai me dar) Mais um processo que eu vou levar (risos)…

O que você acha que eles têm contra você?

Eles são antipetistas. É tudo que eu falo no Twitter, minhas opiniões políticas, minha amizade de 45 anos com o José Dirceu, que foi meu colega de faculdade de direito na PUC. Nós somos amigos, somos companheiros. As pessoas não entendem amizade, não entendem companheirismo.

Você acha que José Dirceu é inocente?

Aí é uma questão que temos que ver… O livro A Outra História do Mensalão – As Contradições de Um Julgamento Político, de Paulo Moreira Leite está vendendo mais que os dois livros que são a favor do mensalão. Tanto o livro do meu colega da Globo Merval Pereira (Mensalão – o Dia A Dia do Mais Importante Julgamento da História Política do Brasil) quanto o livro do Marco Antonio Villa (Mensalão). Esses profetas do apocalipse não aguentam ver que eles perderam. E perderam para sempre, o Brasil não tem mais volta. Acabou. Hoje o pobre tem respeito. Hoje a empregada tem lei. Acabou o reinado da burguesia no Brasil.

Você não acha estranho a presidente Dilma ser omissa a alguns assuntos como o casamento gay e a permanência de Marco Feliciano como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias?

Não, Dilma (Rousseff) não tem nada a ver com isso. O Marco Feliciano é problema da Câmara Federal. Ela não está omissa. Ela está omissa segundo a mídia. Você não sabe o que ela está fazendo…

O que ela está fazendo?

Eu não sei, mas alguma coisa ela deve estar fazendo. Porque não sai no jornal não existe?

Ela não devia dar uma declaração…

Não, ela não devia dar declaração. Isso não é papel da presidente da República. Isso seria rasgar a Constituição. A Dilma dar um palpite numa comissão da Câmara Federal? Isso é coisa do Poder Legislativo. Mas vamos voltar para o mensalão. Se o mensalão fosse verdadeiro, tinha que ser feito na véspera da campanha? Tinha que fazer um Jornal Nacional de 18 minutos na véspera da eleição para prefeito de São Paulo. Não houve desvio de dinheiro público, leia o livro do Paulo Moreira Leite, que é um contraponto.

Mas a posição de alguns veículos de comunicação invalida as acusações?

Não é que invalida… Quando você tem uma campanha sistemática contra um governo, você desmoraliza a própria mídia. Por exemplo, ontem ficou-se sabendo que 2,4 bilhões de reais foram gastos pelo PSDB em dez anos em São Paulo para fazer propaganda do seu próprio governo. Você vê isso como capa da Folha (de São Paulo), do Estadão, ou da Veja? Você não vê.

Você disse à Carta Capital que iria se filiar ao PT e está pensando em se candidatar como deputado federal em 2014. Você já se decidiu sobre isso?

Eu conversei com o Lula duas vezes. E, na segunda vez, ele falou: “Vamos esperar até outubro”. Então eu estou nessa expectativa, mas talvez eu seja mais importante onde eu estou. Bom, primeiro eu tenho que ver se eu sou eleito, mas aí eu teria que sair da Globo. Eu não sei se eu fico quatro anos sem representar. Eu gosto muito dessa minha profissão, é uma droga entre aspas, você sair de si mesmo, representar outra pessoa…

Desde que você criou sua conta no Twitter, você tem dado muitas opiniões políticas. Como você avalia essa sua participação?

Engraçado, hoje eu estava pensando sobre isso. Eu creio que eu consegui uns 10, 20% de uma oposição ferrenha, que me agride muito, xinga de tudo o quanto é nome. Porque o Twitter é meio que terra-de-ninguém, o povo fala o que dá na cabeça. Às vezes, eu também falo e me arrependo, mas não apago. Mas a maioria das pessoas começou a me ver como um cidadão e não apenas como um ator da Globo. Muita gente às vezes me fala: “Pensei que ator não pensasse”. Eu não sou o que mais pensa. Eu sou médio. A maioria dos atores são atores que pensam. Para mim, eu acho que foi positivo, eu saí do caderno de cultura para ir para o caderno de política, que é muito mais lido.

Uma das suas declarações que causaram mais repercussão foi quando você afirmou ser bissexual, mas depois você voltou atrás…

Eu não voltei atrás… Foi uma coisa pensada, mas o momento que eu disse não foi pensado, foi no impulso. Por isso que talvez eu tenha feito mal. Eu tenho muitos amigos gays. Não existe teatro sem gays e fita crepe (risos)… Isso é uma piada antiga. E o (JoséSerra abriu um esgoto na campanha política de 2010 quando sua mulher disse que a Dilma era a favor do aborto. Isso fez com que todos os homofóbicos enrustidos saíssem do armário. Então eu falei: “Eu quero fazer parte de uma minoria”, um instinto louco meu. Primeiro eu disse que eu era gay, mas não acreditaram. Então eu disse “Eu sou bissexual e tal, já tive relações com bissexuais”, mas eu não cheguei a desmentir. O que é ser bissexual? Eu tenho cabeça gay. Tem que dar a bunda para ser gay? Quantas vezes?

O que é uma cabeça gay?

É uma cabeça aberta, uma cabeça alegre, uma cabeça sem preconceitos. A minha declaração foi uma postura política, e 80% dos meus seguidores do Twitter acreditam piamente nisso, que eu sou bissexual (na prática) e me agridem por isso.

Veja mais fotos de José de Abreu na galeria acima.


int(1)

José de Abreu conta sobre polêmica com a Contigo, bissexualidade e sua candidatura política