Hebe Camargo
Créditos: Divulgação/SBT
Dai a Hebe o que é de Hebe. Sim, ela foi/é a maior da TV brasileira. Não se chama ninguém de rainha impunemente. A apresentadora, que morreu neste sábado (29), de ataque do coração, em sua casa no Morumbi, merece os funerais com honras de Estado – pelo menos da realeza da TV, todos têm um tributo a pagar para ela.
Tive a felicidade de trabalhar como redator de seu programa, na época no SBT, por um breve período, mas o suficiente para saber porque era tão admirada e amada seja pelo público, seja pela equipe e pelos profissionais de TV.
Já tarimbado de escrever para outras apresentadoras de peso como Astrid Fontenelle e Adriane Galisteu e que entendem muito da feitura da produção e da imagem televisiva, achei que não me espantaria muito com Hebe Camargo. Ledo engano, gracinha!
Era incrível ver o texto que tinha escrito repetido palavra por palavra pela apresentadora, mas sem mais me pertencer, não era possível reconhecer nada meu naquelas palavras apesar de terem sido produzidas por mim. Eu nunca tinha visto isto. Ela as antropofagizava de forma delicada e amorosa e agora aquelas letras a pertenciam. Eram só dela. Quem a assistia nunca imaginaria que ela estaria lendo algo – mas no fundo não estava, ela já tinha tomado pra ela todas as vírgulas e pontos de exclamações.
Antes de tudo, ela era uma grande atriz, do porte de Marília Pêra e Fernanda Montenegro, mas com o viés de apresentadora. E como estas grandes damas do teatro, ela introjetava o texto para pertencer à sua verdade. Era algo impressionante e belo de se ver. Não cansava de, a cada programa, comentar com o diretor desta técnica incrível de Hebe. E ele sempre me repetia: “Ela é uma atriz, das maiores”.
Outra de suas técnicas era a desenvoltura com teleprompter e dálias. Para quem não sabe, muitos textos vêm escritos ou debaixo da câmera ou em cartazes para o apresentador. Quem trabalha em TV percebe com muita facilidade quando alguém está lendo o teleponto. Com Hebe, a coisa não era tão simples assim, era muito difícil identificá-la se estava ou não lendo. Ela, de forma muito marota (quem sabe com o aprendizado de virar os olhinhos que pegou ao imitar Carmen Miranda no começo da carreira) conseguia nos enganar todo o tempo.
Mas não só de técnica se faz uma rainha, uma destas figuras únicas como Hebe era repleta de carisma. Era algo espantoso a energia que dispensava a cada programa, por isto mesmo ficava depois um pouquinho quieta em seu camarim, como se recuperando, protegida.
Tinha muita entrega também, tudo tinha que ter uma sinceridade que a TV poderia num close desmentir, mas que nunca aconteceu. O momento que dava as rosas no final do programa tinha algo de xamânico, como se ela agradecesse às pessoinhas da plateia a colaboração para que a persona Hebe continuasse intacta neste pacto em que a ficção e realidade podem produzir uma verdade. E ver tudo isto dos bastidores era lindo de viver.
Este amor imenso pela TV, a plateia e os telespectadores não poderia resultar em um óbito diferente, mesmo com câncer, Hebe morreu do coração. A gente tem que saber quem chamamos de rainha e este título nunca foi tão justo!
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Vitor Angelo, 44, jornalista e cineasta, foi redator de diversos programas de TV, entre eles o programa da Hebe