A 63ª edição da Mostra Internacional de Cinema de Veneza será inaugurada nesta quarta-feira cercada de polêmica e em meio a uma disputa por estrelas com o Festival de Cinema de Roma, que celebrará sua primeira edição em outubro.
"Não tiraram de nós nenhum filme. Para Roma vão outros filmes que não quiseram ir para Cannes (França) ou Veneza", desdenhou, em declarações à TV italiana, o diretor do festival veneziano, Marco Muller, provocando uma verdadeira chuva de reações em todo o país.
Indignados com o comentário, os organizadores da mostra romana, concebida e fortemente apoiada pelo prefeito e cinéfilo Walter Veltroni, que será celebrada de 13 a 21 de outubro, pediram respeito, e defenderam a qualidade dos filmes convidados.
"Vive-se na Itália com o terror do novo", criticou Veltroni, segundo quem a Festa Internacional de Roma se trata de uma festa do cinema popular, organizada para um público não especializado e cujo júri será composto por 50 espectadores e "não por um diretor de cinema japonês", alfinetou.
Segundo informações publicadas pela imprensa italiana sobre a disputa por estrelas do cinema mundial, a mostra romana por enquanto leva a melhor, conseguindo atrair um punhado delas, entre as quais a musa do cinema atual, a atriz australiana Nikole Kidman, que vai inaugurar o evento, além dos atores escocês Sean Connery, italiana Monica Bellucci, francês Daniel Auteuil, e do cineasta americano Martin Scorsese, que este ano preferiram os encantos da Cidade Eterna ao romantismo dos canais de Veneza.
Com um orçamento de cerca de 12 milhões de euros (15,39 milhões de dólares), todos procedentes de fundos privados, a festa romana virou o pesadelo de Veneza, que chegou a ser chamada de "velha senhora com reumatismo" por não conseguir atrair recursos do setor privado e sobreviver com dificuldade graças ao dinheiro do Estado.
Segundo a revista francesa especializada em cinema 'Le film français', a Mostra depende completamente de recursos públicos e seu diretor ameaçou renunciar ao cargo, no ano passado, se as condições não melhorassem.
De acordo com dados não-oficiais, o Festival de Veneza receberá 8,5 milhões de euros (10,9 milhões de dólares), dos quais 5 milhões de euros (6,41 milhões de dólares) do Estado, situando-se assim como o festival mais pobre entre os grandes.
"Sobram patrocinadores para (a mostra de) Roma, todos privados", escreveu o jornal La Repubblica, reforçando o interesse dos produtores em abrir uma nova frente no mercado de cinema europeu, menos cara que Veneza, cujos preços sempre são excessivamente altos.
"O Festival de Roma vai mudar o panorama mundial e afeta até Cannes e Berlim", avaliou, por sua vez, o jornal francês Le Monde. A alta temperatura dos debates foi abrandada rapidamente nesta terça-feira pelo ministro da Cultura, Francesco Rutelli, que pertence à mesma coalizão política de centro-esquerda de Veltroni, mas é seu rival interno.
"Chega de polêmicas e rivalidades", pediu o ministro, para quem os dois festivais "se complementam" e devem servir para lançar a Itália como a capital do cinema mundial. "O problema são as datas, já que foram organizados com apenas um mês de diferença", admitiu.
Enquanto as discussões continuavam, começaram a chegar ao Lido veneziano estrelas eternas do cinema, como a francesa Catherine Deneuve, presidente do júri, e as novas, como Scarlett Johansson, protagonista do filme de abertura da mostra, "A Dália Negra", do mestre do thriller Brian de Palma, que disputará o cobiçado Leão de Ouro.