O “exílio” fiscal do ator Gérard Depardieu na Rússia e uma intenção similar manifestada por Brigitte Bardot gerou neste sábado na França um debate midiático sobre os salários de atores e atrizes do cinema francês. É o que informa matéria deste sábado (05) da agência de notícias EFE.
Aos dados divulgados nos últimos dias sobre os salários de algumas estrelas do cinema francês se somou hoje a revelação de uma conversa telefônica mantida entre Depardieu e o presidente da República, François Hollande, em 1º de janeiro.
Embora os detalhes desse diálogo não tenham sido revelados, nem quem ligou para quem, o fato levou a uma pergunta: até que ponto interessa às autoridades a questão da concessão do passaporte russo ao ator que encarnou, entre outros heróis, Cyrano de Bergerac?
O jornal francês Le Figaro afirmou que Depardieu e Hollande conversaram “de seu exílio fiscal, de política e de poesia”. Além disso, a publicação revelou uma conversa que o ator manteve nesta semana com um amigo em seu restaurante parisiense, na qual se queixou amargamente do tratamento recebido pelo governo.
Em plena crise, os salários de atores e atrizes se transformaram em um novo exemplo de excesso, que alimentados com dinheiro público, nem o Estado nem os franceses parecem poder permitir.
O jornal Le Parisien revelou hoje a lista dos mais bem pagos: Dany Boon recebeu 3,5 milhões de euros por sua interpretação em Micmacs: Um Plano Complicado; François Cluzet ganhou 3,1 milhões de euros por seu papel em Intocáveis, enquanto seu companheiro de elenco no mesmo filme, Omar Sy, recebeu 2,3 milhões de euros.
Jean Dujardin, com dois milhões de euros por O Artista, Gérard Depardieu com o mesmo valor por Asterix e Obelix a Serviço de sua Majestade, e Jamel Debbouze, com 1,8 milhão de euros por Na Pista do Marsupilami, são os seguintes na classificação.
A polêmica foi lançada em 29 de dezembro pelo produtor e distribuidor Vincent Maraval em um artigo publicado no jornal Le Monde, no qual afirmou que “os atores franceses recebem demais”.
Outro dos atores preferidos pelos franceses, François Berléand, em turnê com a peça Quadrille, declarou hoje ao Le Parisien que “na França há um verdadeiro problema” em relação aos salários de sua profissão.
Berléand disse que enquanto alguns ganham demais, “99% são mal pagos”. Geralmente, a ajuda estatal às produções audiovisuais são de cerca de 15% do orçamento, por meio do Centro Nacional de Cinema e Animação (CNC), mas apesar disso foi iniciado um debate sobre o envolvimento do Estado no cinema.
O professor de Economia, Olivier Bomsel, explicou nas páginas do Libération que o desafio agora é fazer com que o serviço público se fixe mais na produção de séries de televisão do que no financiamento de filmes para se transformar em um instrumento de fomento da inovação, isento da luta pela audiência.
Bomsel opinou além disso que os filmes financiados com fundos do CNC deveriam limitar o salário dos artistas. Apesar disso, ele disse que com certeza seriam encontradas maneiras de fazer com que as estrelas continuem ganhando bem, mas longe das cifras do cinema de Hollywood.
Segundo o CNC, durante 2013 o fundo de apoio público ao cinema francês contará com 700 milhões de euros, quantidade menor do que os 784 milhões de euros de 2011 e quase idêntica ao valor de 2012.
A quantidade prevista será financiada integralmente, segundo os dados publicados pelo CNC, com impostos sobre entradas de cinema e taxas cobradas de editores e distribuidores de serviços de televisão.
No calor da polêmica suscitada pelo exílio fiscal de Depardieu, as intenções declaradas de outro mito cinematográfico francês, Brigitte Bardot, de adotar a nacionalidade russa motivaram mais comentários irônicos do que preocupação com uma eventual sangria de talentos.
O político ecologista Daniel Cohn-Bendit fez piada sobre a ameaça da Bardot de ir para a Rússia se o sacrifício de dois elefantes não for suspenso na cidade de Lyon: “Que vá para a Rússia, se mudar de Saint Tropez para a Sibéria vai ser formidável”