A atriz Evan Rachel Wood, a Dolores Abernathy da série Westworld, usou seu Twitter para compartilhar a íntegra de uma carta que escreveu para a revista Rolling Stone.
Na carta, ela relata que foi estuprada duas vezes, uma por um companheiro e outra por um dono de um bar. “Isso foi há muitos anos e claro que hoje eu sei que não foi minha culpa e que nenhuma das vezes foi ok”, escreveu a atriz de 29 anos.
“Isso tudo foi antes de eu tentar cometer suicídio e eu tenho certeza que esse foi um dos fatores”, completou.
Confira abaixo a íntegra a carta:
Well, since everything is out in the open now, figured I would share the confession letter I wrote to @RollingStone in its entirety. #NotOk pic.twitter.com/0FSP1gsE36
— #EvanRachelWould (@evanrachelwood) 28 de novembro de 2016
“Eu comecei a questionar meus motivos para seguir vaga sobre minhas experiências como uma garota crescendo na América. Acho que, como muitas mulheres, tinha a necessidade de não fazer disso uma história emotiva, de não fazer que isso fosse sobre mim.
Não tive que confirmar o que aconteceu, o que importa é que a merda aconteceu. Merda das feias. Isso ainda me afeta muito até hoje. Penso, bem no fundo, que eu também não queria ser acusada de estar fazendo isso por atenção ou que me dissessem que não era tão grave. Ou: “isso não é estupro de verdade”.
Não vou me envergonhar. Também não vou projetar uma falsa ideia de ter superado isso completamente porque “sou tão forte”.
Não creio que vivemos um momento em que as pessoas podem ficar em silêncio. Eu certamente não posso. Dado o estado em que nosso mundo está, com seu crescente fanatismo e sexismo.
Isso deve ser falado, porque é varrido para debaixo do tapete como se fosse nada, e eu não vou aceitar isso como “normal”.
É um problema sério. Ainda estou de pé. Estou viva. Estou feliz. Sou forte. Mas eu não estou ok.
Acho que é importante que as pessoas saibam, para que as sobreviventes falem disso e para que a pressão de superar isso seja imediatamente aliviada.
Isso vai lembrar às pessoas do dano que foi cometido, de como o trauma de alguns minutos pode se tornar uma vida inteira lutando por você mesma.
Não é que você não possa superar. É só que você nunca mais é você mesma. Ou talvez eu ainda não tenha chegado lá.
Então, para responder sua pergunta brusca de forma também brusca. Sim. Eu fui estuprada. Por um companheiro enquanto estávamos juntos e, em outra ocasião, pelo dono de um bar.
Da primeira vez, não tive certeza se, por ter sido por um companheiro, era de fato estupro, até que foi tarde demais.
Além disso, quem acreditaria em mim? Da segunda vez, achei que era minha culpa e que eu devia ter lutado mais para evitar, mas eu estava assustada.
Isso foi há muitos anos e claro que hoje eu sei que não foi minha culpa e que nenhuma das vezes foi ok. Isso tudo foi antes de eu tentar cometer suicídio e eu tenho certeza que esse foi um dos fatores.”
Ensaio dá voz a vítimas de estupro
Créditos: Yana Mazurkevich