Félix Khoury é um dos personagens da televisão mais comentados ultimamente. Debochado, irônico e polêmico, a “bicha má” ganhou destaques nas redes sociais antes mesmo da estreia da novela Amor à Vida. Para melhorar a situação, o país vive um momento paradoxal na política. Enquanto se avança em questões de diversidade sexual, como o casamento civil igualitário, há um movimento contrário, como a aprovação do PDC 234/2011, que extingue a proibição da ‘cura gay’, tornando-a legal.
Por trás dos trejeitos do vilão, há a interpretação de Mateus Solano, que já foi elogiada por Adriana Esteves, que fez a vilã de Avenida Brasil, entre outras pessoas. Em entrevista exclusiva ao Virgula Famosos, o ator de 32 anos falou sobre o começo da carreira, o seu amor pelo teatro, a criação do personagem Félix, e a (ainda) inevitável polêmica do beijo gay.
Leia abaixo a entrevista exclusiva com Mateus Solano.
Virgula Famosos – Você é primo da Juliana Carneiro da Cunha, de 64 anos, que é a atriz brasileira que faz parte da trupe francesa do Théâtre du Soleil. Isso teve alguma influência na sua juventude?
Mateus Solano – Eu não tive uma influência direta da Juliana. Eu sempre soube da existência dela, mas quando eu a conheci (a atriz vive há mais de 20 anos em Paris), eu já estudava teatro. Entretanto, conhecê-la foi muito importante para mim, porque ela fez um curso, aqui no Rio, em 2002 e ela falou: ‘Olha, esse ano vai ter um estágio no Théâtre du Soleil, você não quer fazer?’. Eu me inscrevi e fiz esse estágio que foi muito importante para a minha formatura.
Você disse que quando conheceu a Juliana, já estudava teatro. Como você começou?
Eu comecei no colégio, com o teatro como matéria curricular e depois eu fui me apaixonando, entrei em um grupo fora da escola e eu decidi fazer isso. Sempre tive apoio dos meus pais, no começo pagava para trabalhar, pensava em como é difícil fazer teatro no Brasil… E sempre fui muito apaixonado pela minha profissão, pelo sagrado dela, pelo o que ela tem de poderosa. Eu fiz depois faculdade de artes cênicas, fiz uns trabalhos na TV, mas sempre com o teatro por perto. O teatro traz uma qualidade [para a TV] completamente diferente.
Qual o problema da produção para a TV?
Tem várias coisas. Tem o fato da filmagem ser picada, essa coisa de audiovisual que você grava uma cena do final, depois você grava uma cena do início. Isso é complicado, não é como no teatro que você passa pelo início da história, depois vai para o meio e para o final. Tem também a história da arquitetura das câmeras, você tem que olhar para essa câmera, para aquela câmera. A interpretação tem que ser mais naturalista… Mas foi isso, eu fui aprendendo a fazer televisão.
Você já tinha vivido um personagem homossexual no filme Novela das 8, de Odilon Rocha, em 2011. Como foi fazer o longa?
Foi muito bacana, um personagem completamente diferente do Félix porque se descobre homossexual durante o filme. Mas muito bacana, cenas bonitas. Um personagem que eu gostei de fazer.
Você disse que ele é bem diferente do Félix. Como você pensou em fazer o Félix? Você não tem medo de que fique uma atuação caricata?
Eu nunca posso parar, nunca posso me acomodar com o Félix. Eu continuo sempre atento e preocupado em cada cena que eu faço. Preocupado com isso que você falou, de ficar ou caricato demais, ou sério demais, achar esse tom. O Walcyr [Carrasco] escreveu o Félix para ser um grande sucesso. Ele já tinha as piadas, os bordões, ele já tinha um monte de coisa arquitetada para ser um sucesso. Entretanto eu estava muito nervoso para assistir o primeiro capítulo para ver se eu tinha encontrado um tom, um caminho a seguir. E eu fiquei muito satisfeito de ter encontrado.
Qual é o tom?
Tem um monte de coisa nesse caldeirão. Ele tem essa história profunda, psicológica, da não aceitação da sua homossexualidade, mas ao mesmo tempo ele tem um lado absolutamente teatral. Tem também essa coisa infantil de ele chorar, bater o pé. É um personagem construído com dez mãos. Tem o autor, o preparador de elenco, o diretor… O Wolf [Maia] que tirou esse cara [Félix] do armário. Ele disse: ‘Não, ele pode. Ele pode dar pinta, ele pode ser engraçado’.
O seu personagem ficou popular mesmo antes da estreia da novela, nas redes sociais, sendo apelidado até de “Felixciano”. Isso teve alguma influência na novela?
Tudo o que eu falo como Félix foi o Walcyr que escreveu. Então o Félix desde o início tinha que dizer aquelas barbaridades, fazer uma piada no meio de uma situação absolutamente séria. Entretanto eu nunca fico acomodado, não coloco no piloto automático.
Como é a repercussão do personagem?
Muito bacana, as pessoas tem falado muito. Eu tenho visto umas coisas de internet muito divertidas. Eu me divirto muito com essa repercussão.
Um personagem homossexual ainda é algo delicado na TV. Como isso é trabalhado por vocês, como por exemplo a questão de ter beijo gay?
A questão do beijo gay é uma preocupação, uma curiosidade, muito mais presente na imprensa do que em nós. Nós achamos que a questão homossexual tem que ser tratada com tanta naturalidade que, se caso acontecesse, teria que ser filmado como um beijo heterossexual. Entretanto eu não acho que é uma preocupação da novela mostrar o beijo gay. O beijo gay é uma questão da Globo. Quando for interessante para a Globo, ou para qualquer outra emissora, mostrar um beijo gay, ele vai acontecer. Entretanto quando acharem que as pessoas vão mudar de canal se virem um beijo gay, o beijo não acontecerá.