Há exatos 50 anos, completados em janeiro de 2014, a atriz Brigitte Anne-Marie Bardot pisava pela primeira vez nas areias das praias de Búzios, litoral do Rio de Janeiro. A estrela do filme “E Deus criou a mulher”, no auge da carreira e beleza, desembarcou no Galeão, vinda nas asas da Panair desde Paris, e, depois de passar cinco dias em um apartamento na Avenida Atlântica, na orla de Copacabana, chegou de iate à cidade. Ninguém, nem mesmo ela, poderia prever que, em 1999, 45 anos depois, seria homenageada no mesmo lugar com a atual Orla Bardot, onde se encontra sua famosa estátua de bronze em tamanho natural. Em Búzios, na época, Bardot fez amizade com pescadores e crianças e aprendeu uma canção em português – “Maria Ninguém”, de Carlos Lyra – que gravaria mais tarde com sotaque francês.
Durante um período de tensão política no Brasil, no governo de João Goulart e, inclusive, à altura do golpe militar, Bardot viveu naquela paradisíaca aldeia de pescadores, então com apenas 450 habitantes e quatro estabelecimentos comerciais. Em 28 de abril de 1964, retornou a Paris, mas voltou ao litoral fluminense em dezembro do mesmo ano para passar mais um verão. Como tudo o que Bardot fazia ou deixava de fazer ganhava repercussão internacional – na época, o fenômeno era conhecido como “Bardot Mania” -, não foi diferente com sua temporada tupiniquim, que rendeu ao balneário o apelido de “Saint-Tropez brasileira”. Bardot passou o Natal de 64 com o namorado Bob Zaguri, marroquino naturalizado brasileiro, hospedada da residência da família do cônsul argentino Ramon Avellaneda, na hoje famosa e badalada Rua das Pedras, na mesma casa onde atualmente funciona a Pousada do Sol.
Para o secretário de Turismo da cidade, José Márcio Moreira dos Santos, “a história de Búzios está dividida entre antes e depois da passagem dela por aqui”: “Bardot despertou a curiosidade do mundo para as nossas praias, e nenhuma outra cidade da Região dos Lagos tem esta fama internacional”, diz ele, acrescentando que tem planos para comemorar, mas ainda sem datas confirmadas. “Vamos fazer uma grande exposição de fotos na Praça Santos Dumont, no centro, com o acervo do colecionador José Wilson Barbosa, mostrando cenas dela em Búzios”, conta o secretário. Durante todo o período que esteve por lá, cerca de quatro meses, a atriz viveu acompanhada por fotógrafos e repórteres que registravam, diariamente, a sua vida no então distrito de Cabo Frio – o balneário foi emancipado como município apenas em 1995.
A cidade, enfim descoberta por turistas brasileiros e estrangeiros após a passagem do furacão Bardot, tornou-se um dos balneários mais visitados do país. Além de outras tantas referências à atriz, o único cinema de Búzios é chamado de Gran Cine Bardot. Em sua biografia, “Brigitte Bardot, plein la vue”, de Marie-Dominique Lelièvre, a autora descreve o momento em que a atriz viveu em Búzios como uma das épocas mais bonitas de sua vida. Em 2008, no Brasil, foi lançado o curta “Maria Ninguém”, sobre Bardot em Búzios aos olhos de uma criança – exibido no Festival de Cannes, entre outros festivais nacionais e internacionais. O filme conta com Fernanda Lima no papel principal.
Quem quer conhecer melhor esta história pode visitar, gratuitamente, o Memorial Bardot, em Búzios, aberto em 2009, onde os visitantes têm acesso às notícias e fotos que circularam em diversos veículos durante a estadia da atriz na praia de Manguinhos. O colecionador José Wilson, idealizador do Memorial, pretende ainda lançar um livro e um documentário sobre a história que mudou a economia da cidade e a lançou internacionalmente como “o paraíso secreto de Brigitte Bardot”.
Atualmente com cerca de 28 mil habitantes, a maioria trabalhando em atividades relacionadas ao turismo, o balneário chega a abrigar 100 mil pessoas na alta temporada. E o município, que é também uma península com 23 praias de diversos estilos, ainda hoje parece grato à ex-atriz e sex-symbol Brigitte Bardot, ativista de 79 anos que luta em defesa dos direitos dos animais. Apesar de nunca mais ter retornado à cidade, sua passagem por lá, há 50 anos, ainda hoje é lembrada e homenageada.