Um ator deve ter versatilidade. Se souber maquiar, criar figurinos e fazer cenografia, pode ser considerado um profissional completo. É como podemos classificar este ator, de 46 anos, que hoje está na Globo, como o Cemil de Belíssima, na Record, como Leôncio de Escrava Isaura – diga-se de passagem um dos maiores vilões da teledramaturgia brasileira – e agora no teatro, a sua casa, vivendo o repórter Amado Ribeiro em Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues.

Sobre reviver o vilão Leôncio, Leopoldo Pacheco não esconde a surpresa e orgulho pela atuação, coincidentemente, ao lado do intérprete original do vilão, Rubens de Falco. “O convite me surpreendeu. Era uma responsabilidade grande, Rubens é um ícone definitivo. Mas acho que consegui fazer um Leôncio com a minha personalidade. Fiquei contente com o resultado”, comenta o ator.

Em Belíssima, Leopoldo ainda estranha atuar em uma trama contemporânea, já que suas experiências anteriores foram em novelas de época. São histórias muito próximas do cotidiano dos próprios atores e do público, principalmente.

A carreira, que já tem 25 anos, começou na Publicidade, entre seus 15 e 25 anos. Depois decidiu cursar Artes Plásticas na FAAP e se ofereceu para fazer o cenário de uma peça. Descobriu sua vocação: artes cênicas. Pouco tempo depois estava na Escola de Artes Dramáticas da USP.

Prêmios não faltam. Entre os mais importantes, um Avon Color pela caracterização do espetáculo Sacromaquia (2000) e o prêmio Shell de melhor ator pela interpretação do poeta francês Paul Verlaine em Pólvora e Poesia, de 2001, com texto de Alcides Nogueira e direção de Márcio Aurélio.

Alcides trabalharia novamente com Leopoldo na minissérie Um Só Coração. Depois de Belíssima, a parceira já promete um novo trabalho. É que o escritor preparou um texto, A Javanesa, especialmente para o ator. “Temos uma relação de reconhecimento. Nós desenvolvemos uma relação de autor-ator muito boa”, comenta Leopoldo. O ator conta que a peça – um monólogo onde ele viverá dois personagens – é na verdade uma “trilogia”, pois além de Alcides, volta a trabalhar com Márcio Aurélio.

No teatro sob o olhar de Nelson Rodrigues

E mesmo com o sucesso na televisão, Leopoldo ainda prefere o teatro. “Produzir teatro é a minha vida”, diz. Difícil mudar de idéia. Na nova peça, um texto famoso do polêmico e sempre atual Nelson Rodrigues. Para o ator, “Nelson é um escritor de personalidade muito forte, de textos psicológicos e verso claro, que com o tempo, deixou de ser visto como reacionário. Sua obra é definitiva”, conclui.

Beijo no Asfalto foi inspirada na história de um repórter do jornal O Globo, Pereira Rego, que foi atropelado por um ônibus antigo. No chão, o velho jornalista percebe que está perto da morte e pede um beijo a um jovem que tentava socorrê-lo.

Numa nova montagem há sempre um olhar novo. Leopoldo ressalta a inteligência do diretor Michel Bercovith, e que a nova versão é contada de uma maneira moderna, impactante. A peça fica em cartaz até junho, na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio. Emilio Orciollo Netto, Fernanda Machado e Carlos Gregório também estão no elenco.

Há pelo menos mais 25 anos de carreira para este ator incansável, que acredita que para seguir essa carreira, é imprescindível, como uma criança, ter a capacidade de mergulhar num mundo de faz de conta e acreditar nele.

Um desejo? “Muita vontade de fazer Calígula, no teatro”. Achou ousado? Acostume-se. “Me atraem personagens difíceis”, diz Leopoldo.


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Leopoldo Pacheco: multiplicidade de talentos e gosto pelo desafio

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