“Ela tem o olhar de Bette Davis”, cantava Kim Carnes nos anos 80. O que o hit dizia era que talvez a garota da letra tinha um olhar de uma pessoa má, até porque Bette Davis, a atriz que nasceu no dia 05 de abril de 1908, ficou conhecida no senso comum como sinônimo de maldade. Suas personagens na tela imortalizada pela indústria de Hollywood e seus mitos fora dela a transformaram na lenda de uma grande atriz (vencedora de dois Oscar) com uma língua ferina e atitudes perigosas. Mesmo interpretando vilãs ou pessoas muito antipáticas, ela conseguiu através de seu forte carisma ser sempre amada tanto pelo público como pela crítica.
Com formação em teatro, ela tinha como grande rival uma outra atriz da época de ouro de Hollywood, Joan Crawford. Sempre que podia, aproveitava para alfinetar a colega. “Ela já dormiu com todos os astros da MGM (os estúdios Metro Golden Mayer), exceto a Lassie”. Nem quando Joan morreu, em 1977, Bette deixou de cutuca-la e declarou: “Não se deve falar mal de quem já se foi, só se deve falar coisas boas, como : ‘Que bom, Joan Crawford morreu!’“.
Entretanto, em uma das diversas fases de baixa de sua carreira (Davis colocou um anúncio no jornal procurando emprego de atriz), nos anos 60, ela recebeu um convite para contracenar com Crawford. As duas já não era mais as jovens e mocinhas dos sucessos dos anos 40, mas não precisava, a trama dirigida por Robert Aldrich, sobre a relação de duas irmãs que competiam entre si, caiu como uma luva para as interpretações das duas atrizes. O Que Aconteceu com Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?) já nasceu um clássico. E as duas atrizes tiveram novamente suas carreiras recuperadas.
As histórias dos bastidores também se tornaram clássicas como Crawford, casada com o presidente da Pepsi, instalando uma máquina da marca deste refrigerante nos estúdios e, no dia seguinte, Davis mandando instalar uma outra da Coca-Cola. Ou quando Bette Davis foi indicada para o papel de melhor atriz pelo filme e Joan não, ela pediu para as outras concorrentes se ela poderia subir no palco para receber o prêmio pro elas. Quando Davis perdeu para Anne Bancroft, Joan se levantou, olhou para atriz e disse: “Com licença”.
Se Davis era implacável com uma mulher tão geniosa como ela, imaginem como ela tratava outras atrizes. Marilyn Monroe, que fez uma ponta em A Malvada, era chamada pela atriz de “vagabundazinha loira”. No mesmo filme, Celeste Holm que interpreta a grande amiga da personagem de Davis, Margo Channing, era chamada de “cadela” pela atriz.
Vida e personagem, em A Malvada, parecem se confundir. Frases da personagem Margo Channing como “Esses fanáticos por autógrafos não são gente” e “Apertem os cintos. Será uma noite turbulenta” poderiam ter saído da boca de Bette Davis.
Carismática, provocadora, nem sempre boa nem sempre tão má, as personagens de Bette Davis trazem um pouco dela, mas o que foi imprimido nas telas é uma aula para os que querem interpretar grandes vilões e, mesmoa ssim, serem amados. Seja Odete Roitmann, seja Carminha, todos beberam nesta fonte: os olhos e a língua afiada desta grande atriz.