Qual será a reação do público paulistano ao assistir o documentário Cartola, dos diretores Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, que no Festival de Cinema do Rio fez os cariocas cantarem durante o filme?

Bem, a expectativa é das melhores (e maiores). Curiosamente, coube a dois diretores nordestinos relembrar a história de um dos mais importantes compositores e intérpretes cariocas do Brasil, que ajudou a fundar a Estação Primeira de Mangueira – palpitou até na escolha do verde rosa – e compôs mais de 600 canções.

O projeto começou em meados de 1998 a pedido do Itaú Cultural, que tinha encomendado a Lírio Ferreira e Paulo Caldas um roteiro sobre o Cartola. Como havia muita história para contar, Lírio deu continuidade ao projeto ao lado de Hilton, conforme ele contou por telefone ao Virgula.

"Pesquisamos muito. Tivemos dificuldades e facilidades e pensamos muito no tipo de filme que a gente queria fazer. Mergulhamos na história do samba, do Cartola, do Rio, do cinema, do que o país vivia culturalmente,", diz Lírio.

Todo o contexto da época em que Cartola viveu só contribuiu para torná-lo uma figura mais interessante. "No ano em que Cartola nasce morre Machado de Assis. Ou seja, vivia-se uma cultura mais literária, e ele vem mais popular, com uma identidade nacional. Foi uma época de explosão cultural do Rio, do samba e da poesia", conta o diretor.

As histórias de Cartola

A desmistificação de algumas lendas que existem em torno da figura do sambista divertiu a equipe durante as filmagens. Por conta dessas histórias é que Lírio e Hilton decidiram usar tudo o que conseguiram de imagem e áudio do cantor, "para que ele pudesse contar a sua história", como conta Lírio. "Ele tinha características muito próprias, os óculos, o nariz. Queríamos preservar todo o material", completa.

Além das lembranças de uma época que não volta mais, dos sambas eternizados, o filme tem dois momentos muito especiais: numa parte, a tela fica preta, simbolizando um buraco negro na vida de Cartola. Funciona como uma brincadeira com a platéia, que vai pensar que algo deu errado na projeção, mas tudo faz parte do plano, ou melhor, do filme. O outro é a aparição do jovem Marcos Paulo, o garotinho que representa Cartola quando criança e vai emocionar a platéia com sua simplicidade. "Encontramos ele lá mesmo na Mangueira, na associação no meio dos meninos. Estávamos filmando e ele apareceu. Batemos o olho nele e o escolhemos", relembra Lírio.

Para o cineasta, "a maior descoberta do filme é o próprio Cartola. Com sua história se descobre o que é ser um artista popular no Brasil". Já Hilton, atenta para o público assistir Cartola e ir além do personagem. "Vale prestar atenção no tipo de caledoscópio que fizemos", diz ele referindo-se às várias histórias dentro da história de Cartola.

Salas e horários de exibição na Mostra
22/10 – Unibanco Arteplex às 21h30
23/10 – Sala Uol de Cinema às 21h40
29/10 – Espaço de Cinema Unibanco 3 às 17h50
30/10 – Cinesesc às 13h30


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30ª Mostra de Cinema: Para Lírio Ferreia, Cartola mostra o que é ser um artista popular

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