Se ponto de ônibus tivesse transmissão ao vivo pela Band, com certeza seria mais ou menos assim:
O planeta está próximo de vivenciar um de seus dias mais espetaculares. Um momento que marcará para sempre a existência do homem na Terra. E faltam
poucos minutos para que isso aconteça. Eu confesso a você que procuro esconder minhas emoções todos os dias durante o programa, mas hoje está impossível. Só Deus sabe o quanto isso significará para o progresso daquilo que nós, seres humanos, mortais, chamamos de civilização.
E lá vem o ônibus. Esta máquina de aço, resultado do trabalho incessante de milhares de trabalhadores incansáveis que derrubaram em cada uma das peças
deste incrível engenho o suor de seus rostos e mãos. Estes homens que, não raramente, têm que deixar para trás a vida familiar, as mulheres, os filhos,
muitas vezes netos, para que este país possa ter um serviço de transporte digno de seu povo abençoado, para que este imenso país continente, esta
nação que tenho orgulho de dizer que é minha, possa garantir a cada um de seus rebentos a livre condição de ir e vir sobre os pneus.
E o ônibus agora se aproxima. Começa o bailado dos braços e mãos. É emocionante ver o público acenando para que o gigante mecanizado estacione.
Já podemos visualizar neste momento o semblante do condutor. Este homem que carrega o destino na ponta de seus dedos, no controle minucioso dos
movimentos de seus pés. E já ouvimos o apito dos freios. Frenagens, engrenagens complexas chocam-se com os discos, as pastilhas, a roda que gira este planeta redondo. E ele pááááááára. O ônibus páááááára. O veículo coletivo que traz a esperança da mudança, o berço de onde o cidadão partirá rumo a novos destinos já está entre nós.
(sobe a trilha sonora)
São pessoas humildes que lutaram bravamente contra as adversidades da vida para que pudessem usufruir deste único momento, deste momento único, para
poderem galgar os degraus e rumar de um bairro a outro desta imensa megalópole que ao mesmo tempo que nos engole, nos envolve. É mais de um, são
duas, três, quatro, cinco as almas privilegiadas. E eles sobem, o motor ronca alto como se rugisse dizendo que nada o afastará de sua condição de anjo libertador das almas estáticas.
Paaaaaaaaaaaarte o nosso guardião, paaaaarte em direção ao desconhecido, às surpresas da próxima parada, mas segue em frente restabelecido, revigorado, confiante de que guarda dentro de si os anseios de uma cidade, de um estado, de uma nação.
Deste incrível e tão injustiçado planeta chamado Gaia, a nossa Terra.
Que siga em paz.