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Suíço voa com asas nas costas

Ele era muito branco, feio, afeminado e filho de eslovacos, em uma terra que adorava os belos, “normais”. machos e w.a.s.p. (sigla em inglês para braço, anglo saxão e protestante). Andy Warhol, que completaria 86 anos, se estivesse vivo, nesta quarta-feira (06) era a personificação do “freak” e do “loser” na cultura americana, mas, acreditando no slogan dos Estados Unidos como a chamada terra das oportunidades, ele se tornou não só um dos principais artistas plásticos do século 20, como também um ícone da América. Foi artista, celebridade (obcecado pela indústria da fama) e, ao mesmo tempo, um incentivador de novos talentos que se tornariam famosos, quer dizer, “fabricava” celebridades também (não sentido maniqueísta que enxerga o nascimento de uma pessoa famosa como algo falso, mas como construção).

A ideia, mesmo que bem questionável, de país livre para referir-se aos Estados Unidos, tem na Factory, o estúdio que Warhol montou de 1962 a 1987, a melhor metáfora para um território libertário, das experimentações individuais, um espaço mítico para a liberdade, esta mesma liberdade tão autoproclamada como folheto publicitário pró América. Lá, ele constrói sua própria imagem que oscila entre alguém insensível, frio, petulante, superficial com a de seu avesso: uma pessoa generosa, tímida, questionadora, sensível. Não existe dicotomia que resume mais a América que as análises sobre a personalidade de Warhol. Pois, ao mesmo tempo, que idolatramos os Estados Unidos em muitos aspectos, o repudiamos em outros ou nos mesmos que adoramos.

Abaixo, trecho do filme Vinyl (1965), de Andy Warhol filmado na Factory com Gerard Malanga e Edie Sedgwick:

E assim como metonímia da América, Andy também ”fabricou” famosos. Sem o apadrinhamento dele, não teríamos Velvet Underground e, com a banda, Lou Reed e John Calle (os dois, em 1990, gravariam o álbum Songs for Drella, o apelido do artista plástico que ele não gostava, ironicamente em homenagem ao artista). Não teríamos o mito construído da modelo e cantora Nico. Foi quem incentivou a modelo Grace Jones se tornar cantora. Dificilmente, o artista e grafiteiro Jean Michel Basquiat teria tanta importância reconhecida em vida sem a ajuda de Warhol.

Sem falar em todas as personalidades que orbitavam pela Factory como Joe Dalessandro (que foi protagonista do filme cult de Serge Gainsbourg, Je T’Aime Moi Non Plus, depois de estrelar vários filmes de Warhol) e as trans Candy Darling, Holly Woodlawn e Jackie Curtis. Sem falar de Gerard Malanga e o cineasta Paul Morrissey. Muitos deles imortalizados no clássico de Lou Reed: Walk On The Wild Side.

Andy Warhol criou um mito porque entendeu como ninguém a ação avassaladora da cultura pop em nossas vidas contemporâneas. Em suas frases estão muito deste entendimento: “Se você usar uma peruca, todo mundo percebe. Porém, se você, então tingir a peruca, as pessoas percebem apenas o corante”. Ao “fabricar” famosos, ele sabia que o corante era que todos iam notar. Cada atitude de Warhol é um flash.


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Andy Warhol era a cara da América e como tal necessitava sempre de novas celebridades ao seu redor

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