Se antes a causa da descriminalização da maconha era um ato de artistas, músicos e hippies, um intelectual de peso resolveu entrar na parada: Fernando Henrique Cardoso. Em entrevista às páginas negras da Trip deste junho, o ex-Presidente da República é categórico:“Minha opinião é a de que a maconha pode ser tratada de forma diferente. Isto é, regulada como é o álcool e o cigarro”.
Ele diz não ligar para as brincadeiras que tem surgido com sua nova posição como chamá-lo de “THC” e “Fumando Henrique Paloso”. E coloca o problema das drogas para além do preconceito entre as classes: “No Brasil, a questão das drogas é muito mais vista como uma questão dos pobres. É a favela, a cracolândia, a violência. E quase todo mundo fecha os olhos para o consumo da classe média, que usa abundantemente e é o verdadeiro mercado. Isso já mostra que a própria percepção da droga no Brasil não é democrática”.
Porém o novo militante do “legalize já” diz que nunca provou da erva: “Eu não sou usuário, nunca fui, não estou pregando o uso. Mas estou dizendo: tem gente que usa, e o uso é diferenciado. O efeito também. E não adianta reagir sempre igual. Eu sei que vão interpretar errado, tirar do contexto. Mas nessa altura da vida também não me preocupa. Eu nunca traguei nem cigarro. Eu não teria problema nenhum em dizer que eu experimentei. Eu nunca vi cocaína na minha frente. O problema aqui que me interessa é outro. É uma questão social e política que afeta muita gente”.
FHC acaba de ser o narrador do filme que discute o tema das drogas, Quebrando o Tabu de Fernando Grostein Andrade e ao ser questionado porque não legalizou a maconha quando estava na presidência do país, ele responde: “Durante meu governo, a visão que se tinha no mundo era a de que seria possível erradicá-las. E foi ficando claro para mim que era um objetivo inalcançável. Foi essa percepção que me fez buscar gente que entende do assunto. Porque eu mesmo nunca tive conhecimento técnico da droga.”