Três semanas após acidente, obras da Arena Corinthians estão a todo vapor
Créditos: Gabriel Quintão
Muito trabalho e pouco papo. É o que se pode dizer da Arena Corinthians após a vista que a equipe do Virgula Esporte fez aos arredores do local nesta sexta-feira (20). Intensa movimentação, muito material de construção tanto nos muros que cercam o estádio quanto fora deles, e, com exceção da parte em que ocorreu o acidente no dia 27 do mês passado, tudo corre como o esperado.
Um mestre de obras nos contou que, a partir de agora, é “só trabalho”. Senhor na faixa dos 50 anos, equipado com materiais de proteção, foi muito solícito à reportagem, mesmo mostrando estar com muita pressa (não deu tempo de, no fim, perguntar o nome).
“Foi bastante triste. Eu estava no meu horário de almoço e deu pra ouvir. Mas agora é bola pra frente. Vai dar tudo certo”, disse, lembrando da queda de parte da estrutura. Deu tempo de nos contar que os 80 novos operários contratados para lá começarão na segunda-feira (24), justamente quando se iniciará a retirada da parte da estrutura acidentada.
Mais algumas fotos batidas e chegamos ao local do estádio em que entram e saem os caminhões. Do lado da cancela, um oficial da segurança de guarda. Percebe-nos de sobrolho, olha de frente, mas não mostra reação. A poucos metros dali, Paulo, sorveteiro, batia seu ponto. De roupas surradas e poucas palavras, contou que chegou por ali um dia depois do acidente e por lá ficou. Confessou ser corintiano e, quando estava para engatar o papo, chegaram dois operários para se refrescar.
“Tem de cerveja? Tem de caqui? Tem de jabuticaba?”, perguntaram como se praticassem um número. “Tem de tudo”, ouviram. “Então me vê um de caju”. “Esse não tem”. “E de pêssego?”. “Também não”. “Então me dá esse de limão”.
Outro fato chamou a atenção e que também dava a impressão que o clima no Itaquerão é mesmo só de trabalho, e não de luto pelas duas mortes após o acidente: ao me verem do lado de Paulo, com bloquinho na mão, rapidamente se deram conta que eu era da imprensa.
Dirigi aos dois algumas perguntas e o tom foi bem diferente do “tem sorvete de cerveja”. Monossilábicos, e talvez pensando no que mostra a placa na foto abaixo (instalada bem ao lado de onde caíram as vigas), estavam focados no trabalho. Assim como o sorveteiro, tinham no Corinthians o time do coração e estão na obra desde fevereiro. Nomes não foram revelados.
Eis que surgem dois personagens de fora. Do Marrocos para ser mais preciso. Hicham e Marouane passaram por nós com aquele andar de não sei onde estou. Abordaram a mim e ao fotógrafo perguntando em um bom inglês e um forte sotaque árabe onde fica o Museu do Corinthians.
O Memorial Sport Club Corinthians Paulista fica no Parque São Jorge, longe de Itaquera. Indicamos o Museu do Futebol, no Pacaembu, antiga casa do Timão. Na conversa descontraída de quatro pessoas que não têm o inglês como primeiro idioma, falaram que o povo brasileiro é parecido com o marroquino, pela proximidade das relações. Marouane precisou divulgar que era torcedor do Raja Casablanca, mas a vida como comissário de bordo o trouxe ao país do rival Atlético-MG justamente na semana mais importante da história do clube da capital de seu país.
“Corinthians, Palmeiras, São Paulo e quais times mais aqui na cidade?”. Citamos Portuguesa, Santos, Ponte Preta e Guarani, explicando que estes últimos eram clubes de municípios próximos. Os dois mostraram que já conheciam o alvinegro praiano. E rumaram para o metrô ali perto, sentido estação Clínicas como falamos.
O último comunicado oficial da Odebrecht, construtora responsável, relata que atualmente a Arena Corinthians está 94% construída. Com pequena pausa após a acidente, a situação se normalizou no dia 3 de dezembro e a expectativa é entregar tudo pronto dentro do novo prazo estabelecido pela Fifa, que se encerra no dia 15 de abril. A entrega estava marcada para 20 de janeiro antes do triste acontecimento do último mês.
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