Nesta sexta-feira (24) começou a XXXIV Taça Cidade de São Paulo José Luiz Veiga, torneio que abre o Circuito Nacional de Boliche e que conta com atletas de diversos estados brasileiros. A competição dura até este domingo (26) e acontece simultaneamente em dois lugares – Guarulhos e São Paulo.
São 146 competidores, entre homens e mulheres, em busca de melhores colocações nos rankings estadual e nacional e que, futuramente, podem ganhar oportunidades para representar o Brasil em competições internacionais.
Parece um número alarmante para um esporte pouco falado no país. Mas este esporte, que já nos presenteou com uma medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011, precisa muito mais do que atletas. Ele precisa ser visto com profissionalismo.
Em dezembro de 2013, Sandra Suzana Donário de Azevedo, a Susi, chegou à Federação Paulista de Boliche para implementar uma nova conduta à prática no estado. A primeira mulher eleita para presidir a entidade é advogada e tem uma relação de carinho com este esporte, como contou ao Virgula Esporte.
“Meu filho tinha 13 anos quando começou a brincar no boliche e eu me apaixonei, não larguei mais dele. Ele viajava para competir e eu ia junto, até que em maio de 2012 eu entrei para a Confederação Brasileira de Boliche como assessora jurídica, em 2011 fui nomeada secretária geral, organizei o Sul-Americano com a presença de 13 países e depois assumi a FPBol e estou amando. É meio loucura, mas eu senti que os atletas e os dirigentes de clubes se sentem seguros comigo”, contou a presidente.
Um dos maiores problemas que Susi se deparou ao chegar à FPBol já era um velho conhecido dela, que acompanhava o esporte há tempos por causa do filho, que hoje parou de jogar.
“Precisamos de visibilidade para obter recursos para poder ativar o esporte no nosso país. Não temos dinheiro para pagar passagem área para os nossos competidores e não é todo atleta que consegue bancar tudo sozinho. Mesmo os que ganham a bolsa nacional, R$ 950,00, ele tem que treinar, tem torneio que ele paga, tem uniforme, equipamento. Aí muitos desistem de viajar por causa disso”, lamentou a mandatária. “Meu foco principal é buscar lei de incentivos do esporte para trazer recursos e ajudar os atletas paulistas a participarem dos torneios”, completou.
Carlos Bianchi Jr. é presidente do Clube de Boliche Morumbi – um dos seis espalhados pelo estado que mandam atletas para as competições – desde 2012. Além desta responsabilidade, ele participa dos torneios e entende perfeitamente as dificuldades apontadas por Susi.
“O que nós, presidente dos clubes, tentamos é conseguir novos atletas com espírito de competição. No Brasil o boliche é visto muito como lazer, mas ele é um esporte competitivo, em qualquer idade. Infelizmente a gente não têm todo ano gente nova entrando. Então, o que nós fazemos é ir aos boliches, ver as pessoas jogar e tentar descobrir novos talentos. A gente vê como a pessoa joga, o estilo e faz o convite para ela integrar nosso clube”, contou Caito Bianchi, como é conhecido no meio do boliche.
“Os clubes são a porta de entrada do atleta para o esporte. Se o clube não fizer um bom trabalho de preparo, de captação, de incentivo, fica difícil. Os atletas precisam entender a importância de serem filiados, de terem o sonho de receber medalhas e que o único caminho para isso é através do clube, dos trabalhos desses presidentes em solicitar estes atletas”, ressaltou Susi.
O boliche não é considerado um esporte olímpico –tendo participado uma única vez de uma Olimpíada, em 1988 -, por mais que seja bastante praticado em países como Japão e Estados Unidos. Mesmo com o Pan-Americano, o Mundial e o Sul-Americano, Susi mantêm a posição de que se a modalidade tiver mais recursos, ela renderia com certeza muito mais fruto.
“Nos Estados Unidos têm muito dinheiro nos prêmios. Aqui ele é amador. Do meu ponto de vista teria que fazer um trabalho para torná-lo mais visível, para isso precisamos de subsídios para trazer a mídia. Po, publicam o cara que joga dardo, peteca, mas o boliche não”, brincou a presidente. “O meu trabalho principal agora é fazer uma cartilha e mostrar para esses atletas que São Paulo é a maior Federação do Brasil. Nós participamos dos Jogos Abertos e ele dá bolsa internacional para quem vai bem. Com isso você estimula o atleta paulista”, disse.
Susi tem razão quando cita São Paulo como uma das maiores federações de boliche do país. No ranking nacional, são os paulistas que estão no topo: Renan Zoghaib, no masculino, e Roberta Rodrigues, no feminino. Além disso, Marcelo Suartz, medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, também é paulista.
São Paulo abriga a maioria das casas de boliches do Brasil e na década de 60 era visto por muitos artistas como uma fonte de renda. Poucos sabem, mas Elis Regina e Roberto Carlos já investiram nesse ramo. Entretanto, muitos desses lugares fecharam, talvez por não terem uma “Susi” em suas vidas.
A advogada garante que não irá desistir de lutar por este esporte no Brasil e usa o fato de não ser atleta como “alidado”. “Não tenho o porquê eu me beneficiar. Portanto, tenho outra visão e vou lutar por um coletivo”, finalizou a presidente da Federação Paulista de Boliche.