Veja fotos de Lipe Fonteles em ação
Um dos principais nomes do Brasil na conquista do ouro nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara em 2011, Lipe, ponteiro do RJX, time de Eike Batista, acredita que sua paixão pelo pôquer tem o ajudado dentro de quadra.
“Pôquer tem sim me ajudado na concentração e paciência. Eu era um jogador muito afobado, e acredito que o pôquer tenha me ensinado a ser mais consciente”, disse o atleta em entrevista exclusiva ao Virgula Esporte.
Apesar de ter despontado muito bem no Pan-Americano, Lipe sabe que será difícil fazer parte do grupo brasileiro que disputará os Jogos Olímpicos neste ano em Londres. Mesmo assim, o ponteiro mantém a confiança.
“Eu tenho consciência de que fazer parte dela num momento em que todos os jogadores estão em um ciclo que dura quatro anos, não é das tarefas mais fáceis. Mas nem por isso vou abandonar meu sonho de representar um país que é apaixonado por esporte, e, nos últimos anos, muito dessa paixão entregue ao vôlei”, completou.
Na conversa com o Virgula Esporte, o atleta falou sobre sua relação com o pôquer, como é o contato de Eike Batista com a equipe, a situação do clube na Superliga e as expectativas para Londres. Leia abaixo a entrevista na íntegra:
Virgula Esporte: Você é fã de pôquer e sabemos que é uma modalidade que usa demais o lado psicológico. Você consegue usar o pôquer de alguma maneira em quadra?
Lipe Fonteles: Sou muito novato ainda no pôquer. Aprendi e evolui jogando, praticando, entendendo as probabilidades e usando a pressão psicológica para vencer as mãos. O pôquer requer muita habilidade psicológica, na minha opinião, quando você consegue mostrar ao seu oponente que “tem o que não tem” e vice versa, você está em um estágio avançado. Dentro de quadra é uma concentração um pouco diferente. Apesar de que, a agressividade dentro de quadra e no feltro são parecidas. Sou muito sangue quente dentro de quadra, e nas mesas gosto de ação também. Mas, são agressividades diferentes. Acho mais dificil “ler” um levantador, do que uma possível mão de um adversário nas mesas, por exemplo. Mas o pôquer tem sim me ajudado na concentração e paciência. Eu era um jogador muito afobado, e acredito que o pôquer tenha me ensinado a ser mais consciente.
VE: Muitos questionam se pôquer realmente é esporte. Qual sua opinião sobre isso?
LF: Questionam porque acham que pôquer é um jogo que depende da sorte, depende do baralho. Queria enfatizar que muitas mãos são vencidas mesmo quando você não possui o melhor jogo. Por exemplo, eu posso, sem nenhum jogo formado na minha mão, fazer um adversário entregar uma sequência, se eu conseguir por meio de apostas, fazê-lo acreditar que eu possuo um Full House (um trio e uma dupla), por exemplo. Nesse caso, eu venci e não precisei da sorte, venci com a minha técnica. O pôquer é um esporte que solicita muito do intelecto. Seja para calcular as suas chances na hora de pagar uma aposta, seja para fazer o seu adversário acreditar que você possui um jogo que vença o dele. Na minha opinião, é um esporte mental, e deve ser apoiado como tal. Hoje, no Brasil, conseguimos por meio de pessoas competentes, como Igor “Federal” Trafane, vencer brigas nos tribunais de justiça para provar que o pôquer não é jogo de azar, e sim, um esporte onde para vencer, você precisa de técnica, capacidade de realizar cálculos e por meio de jogadas vencer mãos que nem sempre seriam vencedoras.
VE: De onde surgiu a sua paixão por pôquer?
LF: O pôquer apareceu na minha vida graças a uma febre que surgiu no Brasil. E em 2009, meu amigo/irmão Bruno Cassou, me levou para acompanhar um torneio em que ele participaria, o BSOP (Brazilian Series of Poker), o maior torneio de pôquer da América Latina. Desde que vi aquele jogo, procurei treinar e me aperfeiçoar. E como tudo que começo a fazer, não sou capaz de parar num meio termo. Vou sempre ao máximo que posso extrair disso. Comecei em torneios entre amigos em casa, depois fui a uma Liga que existe em Curitiba, para então me aventurar no BSOP. Já tive alguns resultados positivos, como um título de um Circuito Curitibano, mas o que mais enfatizo é a evolução para algum dia conseguir despontar entre os melhores do esporte.
VE: Qual sua expectativa para os Jogos Olímpicos? Você acha que fará parte do grupo que vai para Londres?
LF: O Brasil tem a seleção mais forte do mundo. Eu tenho consciência de que fazer parte dela, num momento em que todos os jogadores estão em um ciclo que dura quatro anos, não é das tarefas mais fáceis. Mas, nem por isso, vou abandonar meu sonho de representar um país que é apaixonado por esporte, e, nos últimos anos, muito dessa paixão entregue ao vôlei. Cada dia do meu trabalho é focado nos resultados para a minha equipe, mas com o crescimento pessoal, o sonho fica cada vez mais proximo.
VE: Como você vê o Brasil chegando em Londres?
LF: A seleção, há alguns anos, é o “alvo” de todos. Tem inclusive alguns times que entram num campeonato com o objetivo único e exclusivo de tentar vencer o Brasil. Eu tenho plena confiança e por conhecer o trabalho, que o Brasil não vai a Londres esperando menos do que o ouro. Por isso, tenho certeza que a nossa seleção está indo como uma das favoritas ao título.
VE: Qual sua expectativa pessoal em relação aos Jogos Olímpicos?
LF: Se eu for competente o suficiente para integrar uma equipe tão forte e vencedora, eu almejo ser um ponto de confiança de cada um que esta integrando a equipe, em qualquer que seja o meu trabalho ali dentro. Se for pra resolver uma situação dificil, ou pra fazer um jogador titular descansar, eu espero fazer o melhor pra deixar a seleção nas melhores condiçōes para brigar pelo ouro.
VE: Muito se esperava do RJX na Superliga desse ano devido à entrada de muito dinheiro no clube. Como você avalia a temporada até aqui do time?
LF: Esperava não. Espera! O RJX tem um elenco de dar suspiro a qualquer um que veja o time. Não é segredo a ninguém que o RJX foi montado para buscar o título da Superliga. Mas temos que ponderar que outras cinco, seis equipes também foram montadas com o mesmo intuito. Tenho muita confiança no trabalho desenvolvido, no apoio do patrocinador e no empenho dos atletas em desenvolver esse projeto grandioso que foi feito no Rio de Janeiro. O primeiro ano de um projeto desse nível com certeza sofreria turbulências, e nós atletas, sabíamos que seríamos caçados pelas outras equipes desse campeonato que hoje é (se não o mais) um dos mais fortes do mundo. Por isso, algumas derrotas amargas foram mais pesadas no começo do campeonato, mas, nesse momento, estamos já com a cabeça preparada para esquecer o que passou e mostrar o RJX que todos querem ver nos playoffs.
VE: Existe algum contato entre o Eike Batista e vocês jogadores? Como é essa relação?
LF: O senhor Eike Batista, como todos sabemos, é uma pessoa que trabalha muito. Digo isso não por suposiçōes, mas por afirmaçōes de seus colaboradores mais próximos. Por isso, acredito que seja difícil para ele ter uma relação mais próxima conosco, apesar de saber que ele é fissurado por esportes e deve ser louco para trocar o terno e sapatos por um uniforme do RJX para bater uma bola com o seu time. Eu estava na seleção de novos quando ele veio ao jogo de apresentação da equipe. E não duvido que ele venha prestigiar o time que ele patrocina durante a fase decisiva do campeonato.