Passado um mês do término da Copa, com o baque da eliminação melhor digerido e menor pressão da imprensa, o técnico Carlos Alberto Parreira deu entrevista ao jornal <i>O Globo</i>. Nela, o ex-treinador da seleção falou sobre a eliminação na Copa, a contestada atuação dos medalhões, as lições tiradas e a falta de união e compromisso do grupo.

“A gente ganha e perde em grupo. Tem Ronaldo, Kaká, Ronaldinho e quem perde é o treinador? O time nunca teve cara de campeão”, declarou um tranqüilo Parreira.

O técnico elegeu a falta de motivação e união e a má condição física dos atletas como fatores preponderantes para o fracasso no Mundial:

“No momento em que você anuncia os 22 jogadores, eles já estão inscritos na Fifa. Se o cara chega com cinco, dez quilos a mais e fora de forma, não interessa para a entidade. Só se pode cortar e convocar outro jogador por contusão comprovada”, afirmou.

Muito criticado pela imprensa esportiva e pelos torcedores por insistir em Cafu e Roberto Carlos, o treinador saiu em defesa dos laterais, mas não eximiu o lateral do Real Madrid de culpa no lance do gol francês:

“É difícil garantir que perdemos a Copa por causa dos laterais, perdemos porque muita coisa não funcionou. Faltaram alegria e vibração. E o Roberto Carlos teria que estar lá na linha dos zagueiros. Ele não poderia estar marcando um jogador de 1,90m, mas poderia ao menos estar atrapalhando quem caísse por ali. Foi um erro, claro”.

Com relação aos Ronaldos, Parreira disse que o centroavante “é um fora de série", e que estava "forte”. Já o meia do Barcelona não teria rendido o esperado pois foi criada muita expectativa ao redor do craque. “Ele aparecia em comerciais em tudo que era revista, até nas de moda. A pressão foi grande sobre nós e maior ainda para ele”, declarou.

Ao ser questionado sobre as diferenças entre o futebol clássico de tempos atrás e o que temos hoje, Parreira fez um paralelo entre a seleção de 70 e a atual, muito comparadas às vésperas da Copa:

“Os tempos mudaram muito. Lembro de Pelé, Carlos Alberto Torres e Gérson sorrindo de orelha a orelha quando souberam do prêmio pela conquista do Mundial de 70: 10 mil dólares (cerca de R$22 mil). Imagina lidar com pessoas que ganham milhões de dólares por ano… Hoje, os jogadores se apresentam à seleção de Porsche, jatinho…”

Para encerrar a entrevista, Parreira falou sobre o futuro da seleção, agora sobre o comando do ex-capitão Dunga:

“Os jogadores têm que vir ao Brasil, a delegação precisa chegar no local da competição uniformizada e necessita voltar junta. E aqueles treinamentos abertos para o público, aquela histeria, aquela festa, não devem ser repetidos. O Dunga terá menos trabalho, pois a pressão será menor”, finalizou o treinador.


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Parreira: 'O time nunca teve cara de campeão'

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