Você iria ver um jogo em um estádio chamado Adolf Hitler?”, questiona a associação AfriForum, uma organização branca sul-africana que fez um pedido para mudar o nome do estádio Peter Mokaba, em Polokwane, batizado em homenagem ao líder antiapartheid.

Construído para a Copa do Mundo nos arredores da capital da província de Limpopo, o estádio nasceu com a polêmica relativa ao seu nome, tomado de um personagem história que os bôeres consideram que promoveu a violência contra os brancos.

Considerado o pai do grito “Mate o bôer, mate o fazendeiro”, Mokaba (1959-2002) lutou durante toda sua vida contra a segregação racial – às vezes, com métodos violentos.

Quando o apartheid caiu, foi ministro dos Governos de Nelson Mandela e de seu sucessor, Thabo Mbeki.

Figura respeitada no Congresso Nacional Africano (CNA), o partido governante, Mokaba sempre foi duramente atacado pelos setores mais conservadores da África do Sul, que não aceitaram que seu nome fosse dado a um estádio da Copa.

E muito menos o de Polokwane, em Limpopo, uma região rica em recursos minerais no nordeste do país, a única que em 1992 se pronunciou contra a abolição do apartheid no plebiscito só para brancos convocado pelo presidente Frederik de Klerk – foi a última consulta pública restrita à população branca.

Muitos brancos da cidade se negam a assistir futebol em um estádio batizado com o nome de quem consideram como um inimigo de sua raça.

O AfriForum transformou o descontentamento branco em um abaixo-assinado que pode ser assinado por meio da internet, no qual pede à Fifa para não dispute partidas em um estádio com o nome de Mokaba.

Um dos signatários é Paul, um branco que morou a vida inteira em Polokwane e que, embora tenha no rugby seu esporte predileto, gostaria de ver um jogo da Copa do Mundo – mas nunca em um estádio chamado Peter Mokaba.

“Esse ‘kaffir'”, afirma Paul, utilizando um insulto de origem árabe que os bôeres usavam durante o apartheid para falar dos negros e cujo uso atualmente é proibido por lei.

“Não gosto desse nome porque nos roubaram”, diz, depois de sua esposa, Kathe, pedir um pouco de moderação.

Kathe é menos radical que Paul, mas considera “discutível” o fato de o estádio ter recebido o nome de alguém que causa “tanta controvérsia”.

“Cada um tem sua opinião. As pessoas politizam tudo e ficam irritadas, mas a maioria aqui não é racista”, sustenta.

Mokaba também é polêmico por ter sustentado durante sua passagem pelo Executivo de Mbeki teorias negacionistas sobre a aids, logo em um dos países que mais sofrem com a doença.

Durante anos, o Governo negava a existência da doença e assegurava que as mortes atribuídas ao vírus HIV estavam, na realidade, ligadas à má alimentação da população.

Apesar de tudo, Mokaba continua sendo um ídolo entre a população negra do país e, em Polokwane, é “um ícone”, como repete Ephraim, que vive no centro da cidade.

“Foi um fervoroso lutador pelo povo africano e por isso é bom que o estádio leve seu nome”, conclui.


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Organização branca sul-africana reclama de nome de estádio da Copa