<p>O jogo da rua Javari era clássico, mas também era tarde de meio de semana, então o movimento de seu Antônio não foi dos melhores. Ele costuma vender cerca de 200 cannolis por jogo, mas no Juventus x Nacional desta quarta-feira, válido pela Copa Paulista de Futebol, ele precisou contentar-se em vender 160 doces. Com 324 ingressos vendidos, dá uma média aproximada de meio cannoli por pagante.</p>
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<p>Na verdade, não há muito como culpar os ausentes. Além do horário complicado (o jogo começou às 15h),a partida foi mesmo chatinha. A vitória por 1 a 0 (gol de Dewide, aos 44min do primeiro tempo) colocou o Juventus em quarto lugar do seu grupo, pelo menos até a Portuguesa Santista, que disputa a posição, completar a rodada no início da noite desta quarta contra o São José. Por outro lado, não é bem isso o que interessa a uma torcida que, plantada atrás do gol, canta "ganhando ou perdendo, não importa, vou estar ao seu lado".</p>
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<p>Cantam mais, cantam o tempo todo, batendo palmas para marcar o ritmo. Reminiscentes de uma rivalidade que foi especialmente forte no final dos anos 1980 e início dos 1990, mas perdeu a força junto com a decadência do Nacional, várias das coisas que a torcida juventina, representada por majoritariamente por adolescentes e pós-adolescentes, entoa são versos provocativos, poucos deles publicáveis. Um deles diz "Ô, Nacional, que diferença que há; a sua torcida é muda, a nossa não vai parar". Em termos, né? O público nas cadeiras é bem mais quieto, talvez porque misture torcedores de fé com simpatizantes e curiosos.</p>
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<p>Um deles é Renato, zagueiro do Corinthians, que foi à rua Javari pela primeira vez, para ver os ex-companheiros de clube Gilberto e Lucas, que atuam no Juventus, e assistia ao jogo sem ser perturbado. Duas cadeiras à sua direita, um senhor de idade deixava cair a cabeça para a frente e dormia. José Rita da Silva estava lá junto com a filha, Liege, que faz testes para o time feminino do Juventus e assistia ao time principal pela primeira vez. Ela promete acompanhar mais a partir de agora, mas confessa que achou o jogo "meio fraquinho".</p>
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<p>O caso de José é diferente. Ele chegou a fazer teste para atuar no Juventus, em 1978, mas torce mesmo é para o Palmeiras. Só que parou de freqüentar estádios desde meados dos anos 1980, quando prometeu que nunca mais iria a jogos do clube do coração. Até agora, garante, manteve a palavra. Reclama que o futebol de hoje perdeu o romantismo dos tempos antigos. Um jogo como o dessa tarde pode trazer, de alguma forma, aquela velha magia? "Não", refuta. "Naquele tempo, havia jogadores como Mengálvio, Pelé, Airton Lira, Ademir da Guia. Não tem isso em campo, tem?"</p>
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<p>Ah, sim. Em campo. Na verdade, as primeiras chances são do Nacional, que chega tocando bola ao gol defendido por Marcelo, mas o ataque insiste em perdê-las de todas as formas possíveis. Numa dessas, aos 29 minutos, o arqueiro choca-se com o atacante adversário e os dois parecem machucados, mas sem gravidade. Aos 32 minutos, a bola é chutada para fora do estádio e volta pouco depois. A torcida do Moleque Travesso já canta "vamos Juventus, vamos jogar com um pouco mais de raça" (com a melodia de "Can’t Take My Eyes Off of You", aquela do verso "I love you baaaaaaaaaaaaaaaby", que tantas adotaram). Aos 39 minutos, a bola é chutada para fora do estádio e volta pouco depois.</p>
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<p>Até que, aos 44min, sai o gol do Juventus, quando Dewide aproveita, com oportunismo a sobra de bola em bate-rebate dentro da área. É quando a turma das cadeiras levanta. A torcida mais irrequieta, lá de trás do outro gol, também grita, mas logo volta a cantar. Pouco mais acontece no primeiro tempo. E no segundo também, já que o Nacional sentiu o golpe e se retraiu. Enquanto cinco de seus atletas aquecem-se atrás do gol, perto da torcida cantante, um dos torcedores fica mais agressivo e ordena: "Não olha para cá, não. Baixa a cabeça". Outro, mais gozador, aproxima-se e pergunta, sem precisar erguer a voz: "pô, cadê a torcida de vocês?". O jogador responde apenas com aquele sorriso e dar de ombros de "ah, pois é". O apoio ao time é representado nas cadeiras por alguns atletas e dirigentes, que assistem, bem, mudos.</p>
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<p>O jogo encaminha-se para o final com 1 a 0 no placar para o Juventus e sem maiores incidentes, exceto quando a bola sobra na ponta esquerda do ataque juventino para Jhonatas, que tem dois companheiros livres na área, mas prefere chutar a gol e o faz errado. A torcida irrita-se tanto que para de cantar por alguns instantes para protestar e vaiar. O zagueiro Ivan, que entrou no meio da partida no lugar de Nem, machuca-se e, ao final do jogo, passa, carregado numa maca, na mesma saída dos torcedores e, claro, é aplaudido. A essa altura, Seu Antônio já começa a fazer promoção para vender mais cannoli: o preço é R$ 1,50, mas já faz dois por R$ 2.<br />
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